Mentorias, academias de participação e português para estrangeiros recebem Prémio Sonae Educação
De entre 10 finalistas, os projectos Ciberescola, MyPolis e Teach For Portugal foram os vencedores da 2.ª Edição do concurso. Cada um foi premiado com 50 mil euros.
Os projetos Ciberescola, MyPolis e Teach For Portugal foram os vencedores da 2.ª Edição do Prémio Sonae Educação, anunciados na conferência “Como criar um projecto de educação com impacto?”, que decorreu esta terça-feira no Centro Cultural de Belém, com transmissão em directo online e no site do PÚBLICO.
O projeto Ciberescola dedica-se ao ensino por videoconferência de Português Língua Não Materna, enquanto o projeto MyPolis Agentes 2.0 pretende, “através da gamificação e da Inteligência Artificial”, transformar as salas de aula em Academias de Participação, com vista ao “fortalecimento da democracia”. Já o projeto Teach For Portugal quer “quebrar ciclos de pobreza e de desigualdade educativa”, colocando mentores em escolas desfavorecidas e organizando workshops de literacia financeira.
O prémio, que tem como objectivo “[distinguir] projectos inovadores e inclusivos que contribuam para melhorar o acesso e a qualidade da educação em Portugal”, atribuiu a cada um dos vencedores, seleccionados de entre dez finalistas, um financiamento de 50 mil euros.
Esta edição do concurso contou com algumas novidades face à anterior, nomeadamente o aumento do valor total do prémio em 50 mil euros, o que permitiu premiar um terceiro projecto, assim como a abertura do concurso a iniciativas implementados em escolas públicas e a projectos que já estejam a ser apoiados pela Sonae.
João Günther Amaral, Director de Desenvolvimento da Sonae, confirmou, durante a sua intervenção, que haverá uma terceira edição do prémio, que, explicou, pretende “abrir portas, criar oportunidades, [e] fazer com que coisas que estavam com dificuldade em acontecer possam acontecer de forma mais acelerada e criar resultados”. "Na Sonae acreditamos muito no poder transformador da educação e na aprendizagem ao longo da vida (...), portanto estamos comprometidíssimos em apoiar iniciativas deste género", reforçou.
Antigo ministro da Educação aponta "problemas e desafios"
O antigo ministro da Educação, David Justino, levou à conferência um “olhar sobre a educação em Portugal”. O responsável pela pasta da educação entre 2002 e 2004, durante o governo liderado por Durão Barroso, destacou a "falta de professores" como um dos problemas mais prementes do sector, e alertou para a possibilidade de esta escassez levar "a uma entrada indiscriminada de profissionais que não estejam devidamente habilitados". Alertou ainda para o que diz ser a "degradação do estatuto social dos professores" e para a necessidade de "repensar" a formação inicial. Destacou a importância de valorizar o conhecimento a par com as competências, a qualidade das aprendizagens e a avaliação externa como ferramenta de "regularização do sistema".
O actualmente professor na Universidade Nova de Lisboa identificou ainda alguns desafios que a área do ensino enfrenta, particularmente a importância de manter uma posição "equilibrada" em relação à utilização de tecnologia, que considera ser "importante", mas que não pode levar ao abandono da "escrita e [da] leitura como literacias fundamentais", ou ainda a Inteligência Artificial como recurso educativo, salientando a necessidade de desenvolver uma "pedagogia e uma didáctica do digital".
David Justino referiu também a utilidade dos "avanços das neurociências" para melhor compreender "a forma como os alunos aprendem", a "educação de infância como um alvo fundamental" que permite identificar "desigualdades precoces", a necessidade de integrar a creche e o jardim-de-infância e alargar a rede de pré-escolar, ou ainda a integração de alunos imigrantes que não falam português, de forma a oferecer uma "pedagogia diferenciada que não se torne discriminação".
“Estamos a caminhar num bom caminho, mas, acima de tudo, temos desafios e temos de os enfrentar. Se fugirmos a eles, arriscamos a que nos caiam em cima mais tarde", concluiu.
Secretário de Estado salienta a necessidade de ter "ambição" na área educativa
O encerramento da conferência ficou a cargo do secretário de Estado da Administração e Inovação Educativa, Pedro Cunha, que salientou a importância de haver “parcerias com organizações que estão habituadas a ser autocríticas e a serem capazes de ‘industrializar’ aquilo que corre bem”, que é o que faz a indústria. Sobre um tema que marcou o arranque da conferência, a falta de professores, deixou uma reflexão: “não nos podemos conformar com esta ideia tão básica de que o nosso país não é capaz de assegurar que todos os alunos têm professores com quem aprender", disse, salientado a necessidade de "ter ambição".
"Queremos mais cidadania, queremos melhor cidadania, queremos melhor educação para a cidadania. Não é menos, nem ausência, nem supletiva, nem optativa, nem pensar. Precisamos de mais democracia, não de menos democracia", apontou o membro do governo, numa referência à discussão em torno da disciplina da Educação para a Cidadania, a par com um apelo a uma maior autonomia para as escolas.
"A escola pública operou o milagre de escolarizar um país inteiro em quatro décadas, mas, para que isto continue assim, não podemos parar aqui", rematou.
Os vencedores da edição de 2023, os projectos EKUI e No Code, representados por Celmira Macedo e Miguel Muñoz, respectivamente, ofereceram uma perspectiva acerca da importância que o prémio teve para o avanço das iniciativas. Ambos salientaram a relevância não só do prémio monetário que, segundo Miguel Muñoz, "[lhes] permitiu fazer uma série de apostas que, de outra forma, não seria possível”, mas também da visibilidade. “Estar na vossa família deu-nos notoriedade a abriu-nos mais portas”, acrescentou Celmira Macedo.
A conferência contou ainda com um debate acerca de como potenciar o impacto dos projectos de educação, um workshop sobre como avaliar esse impacto e a apresentação de casos práticos de projectos educativos implementados com sucesso.
A escolha dos vencedores é realizada por um júri composto por Isabel Alçada, professora e membro do Conselho Consultivo do EDULOG, João Gonçalves, director-geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE), Nuno Comando, Director de Incubação, Aceleração e Comunicações da Casa do Impacto da SCML, Rita Serra, Directora de Educação da Microsoft Portugal, e o próprio João Günther Amaral, que reconheceu ter havido um "consenso muito forte" na escolha dos vencedores.
Texto editado por Gina Pereira