Greves do INEM obrigam bombeiros a transportar todos os doentes para os hospitais

Doentes estão a ligar directamente para os bombeiros depois de chamadas para o 112 não serem atendidas. Corporações têm conseguido dar resposta a todos os pedidos, ainda que com “algum atraso”.

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Greves dos técnicos de emergência pré-hospitalar dos últimos dias estão a obrigar os bombeiros a transportar todos os doentes para os hospitais, sem que seja feita qualquer triagem prévia por parte do INEM Nelson Garrido (arquivo)
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As greves dos técnicos de emergência pré-hospitalar dos últimos dias estão a obrigar os bombeiros a transportar todos os doentes para os hospitais, sem que seja feita qualquer triagem prévia por parte do INEM, avançou a Antena 1 e confirmou o PÚBLICO junto da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP).

Nesta segunda-feira, as greves obrigaram à paragem de 46 meios de socorro no país durante o turno da tarde, mantendo-se os atrasos no atendimento da linha 112 que se foram verificando durante o fim-de-semana. Segundo Rui Cruz, vice-presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), estas greves tiveram uma “repercussão muito significativa” nos quatro centros de orientação de doentes urgentes (CODU) existentes em Lisboa, Porto, Coimbra e Faro, o que fez com que “houvesse um número muito diminuído de técnicos a atender as chamadas da linha 112”, avançou o dirigente sindical.

Agora, estes constrangimentos estão a fazer com que as pessoas liguem directamente para os bombeiros depois de as suas chamadas para o 112 não serem atendidas ou de ficarem longos períodos de tempo em espera. "Se as pessoas estiverem muito aflitas e não conseguirem solicitar o socorro adequado ligam directamente para os bombeiros ou até, em alguns casos, dirigem-se à própria corporação", explica António Nunes, presidente da LBP.

Durante o percurso, as corporações tentam contactar novamente os CODU, para perceber para que hospital devem transportar o doente. Não conseguindo fazer esse contacto, os bombeiros têm recorrido ao hospital mais próximo. "O padrão que foi estabelecido em Portugal há muitos anos de ligar para o 112 para que seja orientado adequadamente para o serviço de urgência ou emergência não está a acontecer, mas nós não deixamos de socorrer ninguém. Não vamos deixar de transportar alguém para a urgência hospitalar só porque o INEM não está a responder adequadamente e em tempo útil às chamadas de socorro", aponta António Nunes. "Se o centro de triagem não atende, a triagem é feita pelos próprios bombeiros, mas é uma triagem que consiste em direccionar as pessoas para o hospital mais próximo que estiver aberto, como é evidente".

Para já, as corporações têm conseguido dar resposta a todos os pedidos, ainda que com "algum atraso", mas estes constrangimentos vão provocar problemas "de ordem administrativa" aos bombeiros. "Como é que se justifica o transporte? Como se faz o ressarcimento das despesas? No final tudo se resolverá, mas com um esforço do ponto de vista administrativo, de ansiedade e de intranquilidade das pessoas muito superior àquilo que deveria ser o normal".

Segundo explicou esta segunda-feira Rui Cruz, vice-presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), as greves estão a gerar atrasos no atendimento das chamadas devido ao "número diminuído de técnicos que estão no CODU" e a levar a uma resposta "mais demorada quando os meios são accionados, porque, para fazer face à carência de alguns destes meios, estão a ser accionados meios de outras localidades, que têm de percorrer uma distância maior para chegar até à vítima”, referiu o dirigente sindical.

O INEM confirmou que a adesão à paralisação da administração pública e greve às horas extraordinárias dos técnicos de emergência pré-hospitalar está a afectar o normal funcionamento da linha 112, recomendando que as pessoas não desliguem as suas chamadas até serem atendidas. Depois de recordar que se deve ligar para o número europeu de emergência 112 “apenas em situações graves ou de risco de vida”, o instituto salientou ser “importante que o contactante não desligue a chamada enquanto não for atendido por um profissional, pois estas são sempre atendidas por ordem de chegada”.

“No caso de a chamada ficar em espera, os utentes devem aguardar que seja atendida pelos profissionais do CODU, ao invés de desligar e tornar a ligar. Esta acção vai colocar a chamada no fim da fila de chamadas em espera, apenas servindo para atrasar o atendimento da mesma”, referiu o instituto em comunicado.

De acordo com INEM, são atendidas, por hora, 28 chamadas que não são emergências médicas. No último fim-de-semana, o CODU encaminhou 662 chamadas para a linha SNS 24 e registou ainda 1408 ocorrências que não careciam de encaminhamento ou accionamento de meios de socorro. “Ou seja, neste período, 18% do total de chamadas recebidas na central do INEM não eram emergências médicas”, adianta o comunicado.

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