Presidente valenciano demorou duas horas a chegar à reunião de emergência no dia das cheias

Sete dias depois da tragédia, os serviços de emergência continuam à procura de vítimas e os políticos trocam acusações sobre a reacção tardia e a demora no aviso às populações.

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Guarda Civil à procura de vítimas, uma semana depois das cheias devastadoras BIEL ALINO / EPA
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Uma semana depois das cheias que arrasaram dezenas de municípios da Comunidade Valenciana, provocando pelo menos 215 mortos, o Conselho de Ministros do Governo de Pedro Sánchez prepara-se para aprovar a declaração de zona gravemente afectada por uma emergência de protecção civil, uma medida que visa facilitar o desbloqueio de fundos e acelerar a ajuda às vítimas.

Enquanto os serviços de emergência confirmam a descoberta de restos humanos numa zona onde são procuradas cinco pessoas, persistem as narrativas contraditórias sobre a gestão da informação disponível ao longo do dia 29 de Outubro e sobre o que levou a que as mensagens de aviso às populações só tenham sido emitidas às 20h12. Nessa altura, muitas localidades já estavam inundadas e muitos cidadãos nem podiam recebê-las porque os cortes de energia provocados pelas chuvas torrenciais já tinham afectado as comunicações.

O presidente do governo autonómico, Carlos Mazón, que é também líder do PP valenciano, decidiu responsabilizar os técnicos dependentes do Governo central, mas os factos mostram que “chegou duas horas atrasado à reunião de emergência” onde o envio dos alertas acabou por ser decidido. Segundo o jornal digital El Confidencial, que cita “fontes presentes na reunião” do Centro de Coordenação Operativo Integrado (Cecopi), aconteceram “muitas voltas” em relação às medidas a tomar e intervalos para actualizar dados: “Entram e saem”, “não se tomam decisões” e “Mázon não está”, cita.

Foi nesta segunda-feira que Mazón se desdobrou em entrevistas apontando o dedo a entidades dependentes de Madrid, nomeadamente a Confederação Hidrográfica do rio Júcar, do Ministério da Transição Ecológica. Mas as trocas de emails publicadas nesta terça-feira por vários jornais, incluindo o El Confidencial, indicam que os primeiros alertas por chuvas torrenciais em toda a província foram dados às 9h41, mas o Cecopi, da Generalitat, só foi convocado às 17h. Às 12h, aliás, já havia povoações inundadas.

Mázon, que manteve inalterada a sua agenda, enviou a conselheira (equivalente a ministra) da Justiça e do Interior à reunião e só decidiu participar fisicamente depois das 18h43, quando a Confederação deu conta de um “aumento brusco” no caudal da rambla de Poyo, a ravina que não costuma transportar mais do que “um fio de água”.

Mázon disse que a Confederação desactivou até “três vezes o alerta hidrográfico”, mas o que aconteceu foi que as informações – os “dados objectivos de medição” –, actualizadas em permanência, registaram baixas e subidas do caudal. De acordo com o Ministério da Transição Ecológica, foi detectada uma diminuição ao meio-dia e o caudal voltou a subir “a partir das 17h”. O caudal das 17h30, explica, era igual ao registado no momento em que a Generalitat Valenciana decidiu emitir finalmente o alerta.

“Após três horas de explicações por parte dos técnicos, o Cecopi decidiu finalmente enviar uma mensagem geral a toda a população através do telemóvel, exortando-a a evitar ‘viajar’ como ‘medida preventiva’”, detalha o El Confidencial. “Fontes conhecedoras do assunto dizem que os técnicos insistiram para que a mensagem fosse enviada mais cedo”, acrescenta.

Os ataques de Mázon à Confederação Hidrográfica – e também à Unidade de Emergência Militar, que não teria disponibilizado de imediato o número adequado de militares (quando, para o fazer, precisa de um pedido expresso da Generalitat) – surgiram depois de os reis, Sánchez e o próprio Mazón visitarem Paiporta, “zona zero” da tragédia, onde foram recebidos com insultos e lama (o presidente do Governo foi atingido com um pau), deixando à vista a revolta da população.

Ao mesmo tempo, Alberto Núñez Feijóo, líder do PP e da oposição, defendia a declaração do estado de emergência e a transferência da coordenação da resposta ao desastre de Mázon para o Governo nacional. Na interpretação generalizada da imprensa, ao fazê-lo, Feijóo “deixou cair Mázon”, “um dirigente político acabado”.

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