Jacques Tati, da sétima para a nona arte

O PÚBLICO e a Levoir apresentam a 8ª série da colecção Novela Gráfica. Eis o 10º título desta colecção, esta sexta em banca.

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Depois da biografia do mestre de xadrez, Bobby Fischer, no volume anterior, este penúltimo volume da colheita de 2024 da colecção Novela Gráfica, que chega aos quiosques no próximo dia 8 de Novembro, traz-nos a biografia de um cineasta singular, o francês Jacques Tati, realizador de O Meu Tio e As Férias do Sr. Hulot, entre outros clássicos incontornáveis da Sétima Arte.

Se há várias personalidades cuja vida dava um filme, não têm faltado cineastas cuja vida dava (e deu) uma novela gráfica. Falando apenas do mercado franco-belga, é o caso da trilogia que o francês Amazing Améziane dedicou a Martin Scorsese, Quentin Tarantino e Francis Ford Coppola, ou os títulos da colecção 9 ½ (um nome que remete para o clássico 8 ½ de Fellini e para a BD como Nona Arte) da editora Glenat, onde este Tati e o Filme Sem Fim foi originalmente publicado em 2023, ao lado das biografias de realizadores como Sergio Leone, François Truffaut, Orson Welles e Alfred Hitchcock e actores como Lino Ventura, Audrey Hepburn, Bela Lugosi e Jayne Mansfield.

Com uma estreia tardia na realização, já com 40 anos, Tati ainda foi muito a tempo de se revelar dos mais interessantes e particulares cineastas do século XX, com um universo muito próprio e inimitável e um estilo único. Nascido Jacques Tatischeff em 1907, no seio de uma família com raízes russas, italianas e holandesas, Tati foi jogador profissional de rugby antes de se dedicar ao humor e à pantomima, primeiro nos intervalos dos jogos e depois em espectáculos próprios, como Impressions Sportives, que percorreu a França e a Europa até ao início da Segunda Guerra Mundial. A sua estreia no cinema dá-se em 1932, como escritor e actor de Oscar, champion de tennis, filme que ficaria inacabado por falta de financiamento. A sua estreia numa longa-metragem acontecerá só em 1949, com Jour de Fête, mas será só quatro anos depois, com Les Vacances de Monsieur Hulot, que entra finalmente em cena o famoso e longilíneo Sr. Hulot, o seu alter ego cinematográfico, que o irá acompanhar ao longo de toda a sua carreira.

Com uma linguagem extremamente visual, que vai beber a W. C. Fields e Buster Keaton, Tati construiu uma obra única, pontuada pela silhueta sinuosa do anti-Charlot, Sr. Hulot. Uma obra de grande dimensão poética e elegância, com um toque surreal, características que encontramos com abundância neste Tati e o Filme Sem Fim, uma biografia desenhada em perfeita sintonia com a sua vida e filmografia. Arnaud Le Gouëfflec, escritor de canções, romancista e argumentista de BD, que já tinha assegurado para a colecção 9 ½ da Glénat a biografia do actor Lino Ventura, parte da vida do actor e realizador francês para criar uma história poética e surreal, em que a vida e a obra de Tati se fundem e confundem, fechada de forma redonda por um epílogo, com um toque fantástico e de auto-ironia, que o próprio Tati não desdenharia, em que, através de diversos depoimentos, percebemos como a obra do realizador francês influenciou grandes nomes do cinema, como Spielberg ou Wes Anderson.

Mas um dos grandes motivos de interesse deste livro vai para o excelente trabalho gráfico de Olivier Supiot, cujo traço elegante e cores luminosas – com destaque para os azuis do céu e do mar e para os vermelhos-vivos – são fundamentais para o ambiente poético e invulgar deste belo livro. Artista versátil, tão à-vontade na BD infantil, como nos registos mais adultos, Supiot não é completamente desconhecido dos leitores portugueses, pois a sua série de estreia, a BD infantil Marie Frisson, teve o seu primeiro volume publicado em Portugal no início da década de 2000, com o título Maria Calafrio. Mas os mais de vinte anos que separam estes dois projectos ficam bem evidentes na evolução do traço e na utilização da cor como elemento estético e narrativo, com a paleta cromática a ser adaptada às necessidades da história e do universo de Tati.

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