Frente ao City, o Sporting começou aluno e acabou professor

Na Champions, os “leões” estiveram em agonia, mas o que se passou na última hora de jogo foi do melhor que já se viu em Alvalade em noites europeias. Amorim leu bem o jogo e mostrou-se aos ingleses.

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Sporting e Manchester City em duelo em Alvalade Andrew Boyers / ACTION IMAGES VIA REUTERS
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Nesta terça-feira, no Sporting-Manchester City (4-1), os “leões” estiveram largos minutos em suplício permanente – e podem agradecer ao guarda-redes Israel por o jogo não ter acabado bastante cedo.

Esses minutos terão servido de aprendizagem e, de um momento para o outro, o Sporting (e Amorim) passou de aluno a professor. Os “leões” perceberam que o futebol do City tinha virtudes tremendas, mas uma fragilidade evidente – e exploraram-na uma e outra vez.

Foi por indicação de Rúben Amorim? Os mais românticos – e os adeptos do United – quererão pensar que sim, e podem bem ter razão, mas o importante é que o Sporting entendeu o caminho que deveria seguir.

A última hora de jogo foi do melhor que já se viu de equipas portuguesas na Europa, destruindo o City em Alvalade.

Massacre

O que se passou em Alvalade até ao intervalo foi pouco menos do que um massacre – provocado por um problema de difícil solução.

O lateral-direito do City, Rico Lewis, nunca foi um lateral e jogou quase sempre como médio-centro. Esse detalhe, conjugado com o 5x3x2 do Sporting, facilitava o encaixe defensivo a Maxi Araújo, que sabia que o “seu” jogador era Savinho e não tinha situações de dois contra um.

O problema é que esse conforto aos defesas “leoninos” só existia porque havia um profundo desconforto mais à frente. Com Pedro Gonçalves, Trincão e Gyokeres encaixados na saída a três do City, o Sporting não sabia o que fazer com Kovacic, o 6, e o tal Rico Lewis, que era um segundo médio-centro.

Morita e Hjulmand saíam nessa pressão? Se sim, Bernardo e Foden tinham 30 metros para jogarem atrás dos médios. Se Morita e Hjulmand não saíssem, Kovacic e Lewis jogavam “de cadeirinha” atrás da linha atacante do Sporting.

No fundo, os “leões” não tinham a equipa partida em duas, como frequentemente acontece, mas em três, porque a linha defensiva não subia e a linha atacante não baixava – e Morita e Hjulmand estiveram sempre no centro de um carrossel de uma equipa inglesa que parecia ter 14 jogadores.

Essa opção, assente na convicção de que defender com dez jogadores atrás da linha da bola não era solução, foi um suplício permanente.

Descrever as oportunidades de golo do City seria fastidioso, pelo que fiquemos pelo golo marcado aos 4’. Houve perda de bola de Morita, possivelmente pouco habituado a receber a bola na meia-direita (geralmente joga do lado oposto, com Hjulmand à direita). Foden recuperou, rematou e marcou.

Espaço à largura

Ofensivamente havia muito pouco Sporting. Não havia Inácio para passes verticais e não havia Bragança para dar mais soluções entre linhas – Amorim disse que como o Sporting jogaria mais baixo, Morita seria útil pela capacidade de choque.

O problema é que Morita nunca pôde ir ao choque – não chegava sequer perto –, pelo que o Sporting não ganhou nada sem bola, mas perdeu muito sem ela. Por outro lado, Pedro Gonçalves e Trincão tinham receio de pedir em apoio numa zona tão sobrepovoada pelo City, que preferia “oferecer” os corredores.

E se era essa a “oferta”, a solução seria explorá-los, como o Sporting fez praticamente pela primeira vez aos 37’. Morita esticou directo em Quenda, que por sua vez esticou também longo em Gyokeres.

O Sporting saltou a pressão alta do City, usou o corredor “oferecido” e explorou a profundidade – no fundo, fez a única coisa possível. Depois foi apenas esperar que Gyokeres fizesse o seu número habitual: correr, aguentar a carga do defensor e marcar – algo que não fez aos 8’, quando tentou um chapéu a Ederson.

Assim que começou a segunda parte, o Sporting pareceu vir com a indicação clara de voltar a explorar o que quase valeu o golo – dedo de treinador? Talvez, até porque Pote surgiu mais baixo no terreno, para ligar melhor o jogo do que tinha feito até então.

Atraíram ao centro, para esticarem depois no corredor, onde sabiam que haveria insuficiência do City, e exploraram o espaço para Pote isolar Maxi Araújo, que finalizou.

Logo a seguir, nova condução no corredor e... penálti sobre Trincão – convertido por Gyokeres.

Depois de minutos e minutos de suplício, o Sporting foi sagaz a entender o que poderia fazer e repetiu-o o suficiente para empatar o jogo, primeiro, colocar-se em vantagem, depois, e dilatá-la, mais tarde.

Defender, mas não só

A partir daqui o Sporting baixou as linhas, jogando com o conforto do 3-1. E essa solução, até pelo que se tinha visto na primeira parte, poderia deixar os “leões” mais perto do sucesso, porque a equipa deixou de estar partida.

Haaland ainda teve um penálti para reduzir, por mão na bola de Diomande, mas atirou à trave.

Nada mudou no jogo, porque para o Sporting a ordem era ocupar os espaços em 5x4x1, resistir como pudesse, jogar com o nervosismo inglês e esperar que Gyokeres, sozinho, fizesse mais qualquer coisa lá na frente.

Certo? Mais ou menos. Foi o sueco quem converteu um penálti em 4-1, mas foi Geny quem o ganhou.

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