Portugal já comprou pelo menos três milhões de vacinas contra a língua azul
Os serótipos três e quatro do vírus da língua azul já atingiram todos os distritos de Portugal continental, só a Madeira e os Açores estão livres da doença.
Portugal já comprou, pelo menos, três milhões de vacinas contra a língua azul, que afecta todos os distritos do Continente, segundo os dados avançados esta terça-feira pelo Governo, no Parlamento.
As vacinas contra os serótipos um e quatro foram adquiridas pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), enquanto as para o serótipo três, detectado a 13 de Setembro em Portugal, são compradas pelas organizações de produtores de bovinos e ovinos.
Segundo os dados avançados esta terça-feira, no Parlamento, pelo ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, “para os serótipos um e quatro foram compradas” mais de três milhões de vacinas pela DGAV.
Já contra o serótipo três da doença da língua azul, as organizações de produtores já aplicaram “100.000 vacinas”, tendo o Governo disponibilizado um apoio total de um milhão de euros para o efeito.
Em resposta aos deputados, numa audição conjunta com as comissões de Orçamento, Finanças e Administração Pública e Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes esclareceu que, no que diz respeito ao serótipo três foram as organizações de produtores a avançar com a compra das vacinas, uma vez que o Estado está obrigado às regras de contratação pública, o que levaria a que as vacinas só chegassem “daqui a dois ou três meses”.
José Manuel Fernandes defendeu que o Governo actuou “de forma imediata” face à doença da língua azul, lembrando que não há autorização comercial para todas as vacinas.
“O que estamos a fazer é ser rápidos. Nós actuámos de forma imediata. O que nós fizemos foi avançar [nesta matéria]”, referiu o ministro da Agricultura e Pescas, em resposta aos deputados.
Autorizados temporariamente três medicamentos
O governante aproveitou para esclarecer que existem três vacinas contra a doença da língua azul, mas ressalvou não existir uma autorização comercial para todas. Neste sentido, disse existir uma “autorização temporária” para a utilização dos medicamentos em causa, lembrando que são necessários testes preliminares “que ainda não aconteceram”.
A DGAV autorizou, temporariamente, três medicamentos contra a língua azul, dois dos quais ainda não estão disponíveis no mercado, foi anunciado.
“A DGAV autorizou a utilização temporária dos medicamentos veterinários Bluevac 3, suspensão injectável para bovinos e ovinos; Bultavo 3, suspensão injectável para ovinos e bovinos; e Syvazul BTV 3, suspensão injectável para ovinos e bovinos”, lê-se num esclarecimento técnico da DGAV. O primeiro e o último fármaco ainda não estão disponíveis para comercialização no mercado português.
Os serótipos três e quatro do vírus da língua azul já atingiram todos os distritos de Portugal continental, só a Madeira e os Açores estão livres da doença.
A língua azul, ou febre catarral ovina, é uma doença viral, de notificação obrigatória, que afecta os ruminantes e não é transmissível a humanos. Habitualmente, é transmitida por mosquitos do género Culicoides (como a espécie Culicoides imicola, a Culicoides obsoletus e a Culicoides pulicaris).
Em Portugal estão a circular três serótipos de língua azul: o BTV-4, que surgiu, pela primeira vez em 2004 e foi novamente detectado em 2013 e 2023; o BTV-1, identificado em 2007, com surtos até 2021; e o BTV-3, detectado, pela primeira vez, a 13 de Setembro.
A vacinação de ovinos e bovinos contra os serótipos um e quatro é obrigatória. Já contra o serótipo três é apenas permitida.
No que diz respeito ao serótipo três, os últimos dados, reportados na semana passada, indicam que foram contabilizadas 41 explorações de bovinos afectadas e 102 animais, sem mortalidade. No caso dos ovinos, somam-se 238 explorações, 11.934 animais afectados e 1775 mortos. Por distrito, destacam-se Évora, com 90 explorações afectadas, e Beja, com 76, seguidos por Setúbal (48) e Portalegre (20).
No entanto, as autoridades e organizações de produtores alertam que poderá haver subnotificacão de casos de língua azul. Apesar de a doença ser de notificação obrigatória, o Ministério da Agricultura não está a receber notificações regulares e há produtores que não reportam as mortes. Além disso, nem todos os cadáveres que são recolhidos são autopsiados.
O Ministério da Agricultura está a preparar o reforço dos apoios às organizações de produtores face à doença da língua azul e vai investir num plano de desinsectização para travar a propagação, avançou à agência Lusa.
O ministério liderado por José Manuel Fernandes adiantou que este plano vai permitir evitar a propagação do serótipo três da língua azul, mas também de outras doenças transmitidas por insectos, como a doença hemorrágica dos bovinos. O Governo não revelou, no entanto, quando é que este plano vai avançar.