Sindicato denuncia meios parados e chamadas em espera devido à greve, INEM alerta para falsas urgências

Em comunicado, INEM alerta para o número de chamadas que “não são emergências médicas”. Entre 1 e 3 de Novembro, exemplificou, foram atendidas, em média, 28 chamadas não urgentes por hora.

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Técnicos de emergência pré-hospitalar estão em greve às horas extraordinárias por tempo indeterminado Daniel Rocha
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Um total de 46 meios de emergência do INEM estiveram parados esta segunda-feira devido à greve às horas extraordinárias, que deixou ainda mais de 100 chamadas para o 112 em espera, anunciou o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH). Em comunicado, o instituto alerta para o número de chamadas que “não são emergências médicas”. Entre 1 e 3 de Novembro, exemplificou, foram, em média, atendidas 28 chamadas não urgentes por hora.

O número total de pessoas a atender as chamadas do 112 aproximou-se de um terço do que deveria ser um turno normal, adiantou à Lusa o vice-presidente do sindicato, ao salientar que esses dados reflectem a adesão à paralisação desta segunda-feira da administração pública, mas também a greve às horas extraordinárias dos técnicos de emergência pré-hospitalar, que se iniciou a 29 de Outubro e é por tempo indeterminado.

Segundo Rui Cruz, estiveram parados no turno da manhã, que terminou às 16h00, 46 meios de emergência do INEM em todo o país, a maioria ambulâncias de emergência médica. Estas greves tiveram uma repercussão muito significativa nos quatro centros de orientação de doentes urgentes (CODU) existentes em Lisboa, Porto, Coimbra e Faro, o que fez com que houvesse um número muito diminuído de técnicos a atender as chamadas da linha 112, avançou o dirigente sindical.

A meio da manhã, ultrapassou-se a barreira das 100 chamadas em espera que não diminuiu até à hora de almoço, referiu Rui Cruz, ao apontar o exemplo do CODU de Lisboa, o maior do país, que tinha apenas quatro pessoas a atender as chamadas, quando devia ter 18.

Já tivemos registo de mais 120 chamadas em espera, com algumas delas com tempo de aproximadamente 30 minutos, que são reflexo da carência de técnicos para atender essas chamadas, referiu o vice-presidente do STEPH.

Mais de 2000 chamadas não urgentes

Esta segunda-feira, o INEM emitiu um comunicado alertando para o número de chamadas não urgentes que são atendidas pelo CODU e que sobrecarregam o sistema, pondo em risco a capacidade de resposta do Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) às verdadeiras emergências, colocando em perigo de vida aqueles que realmente precisam de ajuda imediata.

Este ano, o CODU atendeu 147.885 chamadas não urgentes, o que corresponde a 12% do total de chamadas atendidas. No último fim-de-semana prolongado (1 a 3 de Novembro), foram atendidas e triadas pelos profissionais do INEM 2070 chamadas não urgentes”. Destas chamadas, 662 foram encaminhadas para a Linha SNS 24 e as restantes não careciam de encaminhamento ou accionamento de meios de socorro.

Face às actuais condicionantes, nomeadamente a carência de profissionais da categoria de técnicos de emergência pré-hospitalares (TEPH), agravada pelas greves da função pública e dos TEPH às horas extraordinárias, o INEM apela que se ligue para o 112 apenas em situações graves ou de risco de vida. Dá o exemplo de alterações do estado de consciência, suspeita de AVC, acidentes com feridos, dor no peito, entre outras.

No caso de a chamada ficar em espera, os utentes devem aguardar que seja atendida pelos profissionais do CODU, ao invés de desligar e tornar a ligar. Esta acção vai colocar a chamada no fim da fila de chamadas em espera, apenas servindo para atrasar o atendimento da mesma, alerta.

O PÚBLICO questionou esta segunda-feira o Ministério da Saúde se vai convocar o STEPH para alguma reunião numa tentativa de desbloquear a greve marcada às horas extraordinárias e se admite negociar uma valorização intercalar da carreira. Os baixos salários têm sido apontados como uma das razões para baixa retenção de técnicos de emergência pré-hospitalar.

Ministério pede auditoria

Não é a primeira vez que o STEPH denuncia atrasos no atendimento das chamadas que chegam aos CODU. No dia 28 de Outubro, segundo declarações do presidente do sindicato ao PÚBLICO nessa altura, chegaram a estar, pela hora de almoço, 134 chamadas em espera. “Neste dia, dos 54 técnicos que estavam a nível nacional nas centrais de emergência, só 24 estavam a atender chamadas”, quando esse número “deveria estar próximo dos 70 a 80”, afirmou Rui Lázaro.

O responsável denunciou também uma situação de constrangimento no atendimento de uma chamada relacionada com um acidente com um tractor no concelho de Vila de Rei. “O contactante viu-se obrigado a ligar para os bombeiros por ausência de resposta do INEM, tendo sido os bombeiros, pela gravidade do estado da vítima, a solicitar, mais tarde, a viatura médica, que viria a ser enviada 40 minutos depois”, descreveu o presidente do sindicato.

Nessa altura, questionado pelo PÚBLICO, o INEM explicou que, face ao volume de chamadas que estavam a ser atendidas no CODU, a chamada foi desligada na origem, impossibilitando o CODU de efectuar mais precocemente uma triagem clínica adequada e consequente envio de meios de emergência médica pré-hospitalares adequados ao estado clínico do utente.

Na passada quinta-feira, em Bragança, a mulher de um homem em paragem cardíaca esteve mais de uma hora a tentar ligar para o 112 e, quando foi atendida, explicou que o marido estava naquela situação há mais de uma hora e que, durante todo aquele tempo, ninguém atendeu. Segundo o presidente do sindicato, Rui Lázaro, se a chamada tivesse sido atendida e activada uma viatura médica do hospital de Bragança que se encontrava àquela hora a cerca de dois minutos, o desfecho da situação poderia ter sido outro”. Neste caso, o óbito foi declarado no local.

No sábado na freguesia de Molelos, Tondela, o familiar de uma mulher de 94 anos em paragem cardíaca conseguiu ligar para a linha de emergência às 9h34, mas a chamada só foi transferida para o CODU às 10h19, ou seja, cerca de 45 minutos depois. A nonagenária ainda foi transportada para o centro hospitalar de Lamego, onde foi declarado o óbito.

No domingo, o Ministério da Saúde anunciou que pediu uma auditoria interna ao INEM para avaliar as condições em que ocorreram estas duas mortes por alegado atraso no atendimento na linha 112, denunciadas pelo STEPH. A auditoria, que deverá estar concluída dentro de um mês, também vai avaliar os atrasos no atendimento das chamadas.