Depois de Valência, a Catalunha sofre agora os efeitos do fenómeno meteorológico conhecido como DANA. As fortes chuvas causaram inundações na localidade de Prat de Llobregat, onde fica o aeroporto da cidade de Barcelona, e levaram ao corte no serviço de caminhos-de-ferro em redor da capital catalã.
Mais a sul, em Tarragona, várias estradas foram cortadas e os acessos em nove municípios da região foram limitados. Segundo o presidente da câmara de Tarragona, Rubén Viñuales, choveu com uma "intensidade muito alta, 150 litros por metro quadrado numa hora".
"A boa notícia é que não houve danos pessoais, graças às medidas preventivas que tomámos durante o fim-de-semana", afirmou o autarca.
A AEMET, agência estatal de meteorologia, declarou um aviso vermelho por chuva torrencial no litoral de Barcelona e um aviso semelhante ao enviado para Valência foi dirigido para os telemóveis dos habitantes na região, avisando de "chuvas continuadas e torrenciais" e pedindo para que se evitem "deslocações desnecessárias".
Vários hospitais, segundo o jornal local Diari de Barcelona, cancelaram as suas actividades não urgentes. No caso de um deles, o Hospital de Bellvitge, na localidade de L'Hospitalet de Llobregat, suspendeu actividades devido às dificuldades para chegar às instalações.
Várias universidades em Barcelona, como a Universidade de Barcelona e a Universidade Autónoma de Barcelona, cancelaram também as aulas nesta segunda-feira para evitar deslocações dos alunos.
Estas chuvas já afectam os serviços de transporte. A Rodalíes, o serviço de comboios regional da Catalunha, esteve suspenso até pelo menos às 14h00, segundo a televisão catalã TV3. Também o serviço de alta velocidade entre Tarragona e Barcelona esteve suspenso, devido às cheias num túnel.
Já o Aeroporto de El Prat, aeroporto internacional de Barcelona, teve de atrasar ou cancelar cerca de 50 voos, de acordo com a Europa Press, assim como desviar outros 17 voos.
Trabalhos em Valência continuam
Os danos provocados pela DANA continuam a fazer-se sentir na Comunidade Valenciana, a mais afectada pelas chuvas e inundações. Várias localidades, segundo a Europa Press, estão devastadas e ainda há várias restrições ao tráfego, estradas cortadas e as actividades escolares e universitárias ainda estão suspensas. Ao todo, segundo o ministro do Interior Fernando Grande-Marlaska, morreram 217 pessoas como resultado das cheias da semana passada.
Dez localidades nos arredores de Valência tiveram a sua proibição de acesso estendida até terça-feira, segundo a EuropaPress, devido ao "risco extremo de colapso das principais vias de entrada e saída da cidade de Valência", lê-se. No entanto, as aulas, de acordo com a presidente da Câmara de Valência, Maria José Catalá, retomam na terça-feira depois de terem estado suspensas durante vários dias.
Tanto o Ministério do Trabalho, liderado pela vice-presidente do Governo central, Yolanda Diáz, assim como a contraparte regional da Comunidade, definiram o uso do teletrabalho na região como "prioritário". O Ministério sublinhou ainda que "quaisquer consequências negativas do exercício dos direitos de ausência serão nulas", proibindo os despedimentos.
"Há empresas em Valência que estão a obrigar as pessoas a ir trabalhar em situações impossíveis. Quero enviar uma mensagem clara: se as pessoas estão em risco, não devem ir trabalhar. O Ministério protegerá estas pessoas e a Inspecção actuará com firmeza", afirmou Yolanda Díaz na rede social X.
Ao todo, segundo a EuropaPress, cerca de 28 mil elementos de pessoal de resgate, entre militares, pessoal técnico e bombeiros, estão presentes no terreno.
A reposição dos serviços essenciais como fornecimento de água potável, saneamento e gás, são ainda uma das principais tarefas dos responsáveis. Ao todo, doze municípios nos arredores de Valência ainda estavam sem fornecimento de gás.
Para o presidente da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, uma das principais preocupações neste momento é o "risco" de surgir um surto "de tétano".
"Temos de ser preventivos. As primeiras vacinas estão a ser dadas a voluntários ou vizinhos. A distribuição de máscaras e luvas foi mobilizada nas últimas 48 horas. Foi por isso que pedimos às autoridades sanitárias, há 48 horas, uma deslocação urgente para uma avaliação expressa. Mas aqui estamos a tomar todas as medidas preventivas para garantir que assim seja", afirmou Mazón.
Troca de acusações sobre avisos
Numa entrevista à rádio espanhola COPE, o presidente da Comunidade Valenciana afirmou que os alertas meteorológicos tinham sido desactivados por três vezes pela Confederação Hidrográfica do Júcar, um órgão local dependente do governo central, que gere a bacia hidrográfica do rio com o mesmo nome, levando a que o primeiro alerta tenha sido só lançado às 20h11.
Respondendo sobre a actuação do governo regional no alerta à população das zonas afectadas pelas cheias, o líder regional afirmou que a Confederação "desactivou o alerta hidrológico até três vezes" e apontou o dedo a Madrid pelo atraso na resposta e no envio dos alertas.
Na terça-feira, dia em que a situação piorou, os alertas por telemóvel só chegaram às 20h11, numa altura em que várias zonas à volta da cidade de Valência já estavam a ficar inundadas. Na entrevista, o presidente afirmou ainda que a Confederação não lhes informou "de nada" até às 18h45, numa altura em que já estava previsto que chovesse mais que o previsto.
Em comunicado, a Confederação, que gere os riscos de inundação, respondeu ao presidente da Comunidade Valenciana, afirmando que não lhes cabe a eles activar ou desactivar alertas.
"As confederações hidrográficas não emitem alertas públicos, sendo o organismo competente para emitir alertas hidrológicos os serviços de emergência regionais", afirmou o órgão num comunicado, tendo sublinhado que, como não podem emitir os alertas, "não é possível desactivá-los".