Nove em cada dez adultos portugueses têm pelo menos um factor de risco cardiovascular

O sedentarismo, a falta de sono e os maus hábitos alimentares estão entre os principais factores de risco para a doença cardiovascular, assinala estudo português.

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O factor de risco mais comum é a inactividade física Manuel Roberto
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É mais um aviso para o coração: a falta de actividade física, de um sono adequado ou de uma alimentação saudável aumenta o risco cardiovascular – e os portugueses não parecem estar a contrariar esse risco. Na verdade, juntando estes aspectos com outros riscos (como colesterol elevado ou obesidade), nove em cada dez adultos portugueses têm pelo menos um factor de risco cardiovascular.

“Sabemos, infelizmente, que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Portugal”, sublinha Hélder Dores, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e cardiologista no Hospital da Luz. “Mas também sabemos que se devem muito a factores de risco que podem ser modificados: estima-se que uma em cada três mortes pode ser evitada”, reforça o investigador, que, juntamente com o cardiologista José Ferreira Santos, assina o estudo.

O factor de risco mais comum é a inactividade física: 58,4% das mais de 4000 respostas mostravam maior fidelidade ao sedentarismo. Os inquiridos para este estudo foram recrutados através da página de divulgação científica Cardio na Vida, da qual Hélder Dores e José Ferreira Santos fazem parte, sendo depois as pessoas instadas a responder a um questionário online sobre os seus hábitos regulares.

Além do sedentarismo, os maus hábitos alimentares e a falta de sono são características muito comuns nesta população estudada – todos entre os 40 e os 69 anos, sem doença cardíaca diagnosticada e sendo a esmagadora maioria mulheres (77,9%). O colesterol elevado e a hipertensão arterial estão entre os problemas de saúde mais comuns, e que afectam a saúde cardiovascular, entre estas mais de 4000 pessoas. Os resultados do estudo são apresentados esta segunda-feira às 19h, numa sessão online, onde estarão presentes Cristina Gavina, presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, e Rosália Páscoa, da Sociedade Portuguesa de Medicina do Estilo de Vida.

Ao todo foram analisados oito factores de risco muito prevalecentes na doença cardiovascular: tabagismo, hipertensão, diabetes, colesterol elevado, obesidade, falta de sono, inactividade física e maus hábitos alimentares. Nove em cada dez inquiridos tinham um destes factores de risco. Mais: 37% tinham pelo menos três destes factores de risco – ou seja, uma em cada três pessoas.

Continua a faltar prevenção

Como já se torna habitual quando se fala em risco cardiovascular, ou noutras doenças, a prevenção é chamada ao caso, mas continua a ser “o parente pobre da medicina”, admite Hélder Dores. “Falamos muito em tratar a doença, tomar medicamentos ou fazer intervenções cirúrgicas, mas, quando falamos em prevenir problemas, isto fica sempre aquém do desejável. É mais fácil tomar um comprimido do que alterar um estilo de vida, muitas vezes mau e viciante, como o tabaco.”

Apesar da responsabilidade individual pela mudança e também dos próprios médicos em consulta, por exemplo, o cardiologista realça que é necessário actuar a um nível mais estratégico e político, promovendo o exercício físico nas escolas e no local de trabalho, bem como uma melhor alimentação. “Por exemplo, podemos desenvolver áreas em que, a nível laboral, as pessoas possam durante o dia fazer alguma actividade física – e isso ser valorizado”, sugere. “Também haver uma disponibilidade de haver uma educação de saúde voltada para a prevenção, que começa desde pequenino, nos primeiros anos de escolaridade, até ao idoso, por exemplo”, acrescenta Hélder Dores.

Os dados acabam por estar em linha com estudos anteriores, como o do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), publicado em 2019, no qual cerca de 90% da população estudada tinha pelo menos um factor de risco – aqui, importa frisar que o estudo englobou pessoas dos 18 aos 79 anos.

Os resultados que serão agora apresentados por Hélder Dores e José Ferreira Santos ainda não foram publicados numa revista científica, embora já tenham sido submetidos à validação por pares.

A escassez na prevenção também se revela noutros factores, como a falta de conhecimento de doenças coronárias, como a insuficiência cardíaca. Embora se estime, segundo dados publicados no final de 2023, que mais de 700 mil portugueses acima dos 50 anos tenham esta doença crónica grave, 90% não sabem que têm este problema de saúde.

As recomendações perante estes dados não destoam do que se vai escrevendo sobre doenças cardiovasculares – responsáveis todos os anos por 18,6 milhões de mortes no mundo. A prática de actividade física, uma alimentação saudável e hábitos de sono regulares (com pelo menos sete horas por noite) são essenciais para diminuir o risco cardiovascular, às quais se pode acrescentar parar de fumar, por exemplo.

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