Alexandre Borges quer que Portugal e Brasil tenham mais do que uma língua comum

Em temporada por Portugal com a peça Esperando Godot, o ator brasileiro, que participou de 46 novelas e séries de televisão e 35 filmes, fala sobre o que espera da relação entre os dois países.

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Alexandre Borges, na peça Poema-Bar, em 2018 Wikipedia
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O ator Alexandre Borges, 58 anos, em temporada pelos palcos portugueses com a peça Esperando Godot, reservou um tempo em sua concorrida agenda para analisar as relações entre Portugal e o Brasil. E foi logo avançando em temas da realidade econômica dos dois países, ao defender um pacto luso-brasileiro em que a língua e as afinidades entre os povos sejam os ingredientes para desenvolver os dois países “como um mercado comum”, semelhante à União Europeia.

À bordo do trem de Lisboa para Coimbra, ele repete: “Adoraria que, realmente, a gente tivesse um pacto luso-brasileiro maior em tudo”, diz, justificando sua posição: “Nós temos um mercado enorme no Brasil, e Portugal é a porta de entrada da Europa, que também tem muito a oferecer ao nosso país”.

No plano cultural, o ator lembra a existência do Instituto Camões como um exemplo de contribuição portuguesa à realidade brasileira. Porém, ressalta que, apesar da mesma língua, “tudo é muito tímido, depende de governos”. Ele pretende que, a partir do pacto, haja uma articulação com os países africanos. “Se juntassem esses países e mais alguns, seria uma potência maior, como o mercado comum europeu, como o Mercosul”, sublinha. E lança o desafio: “Vamos quebrar essas barreiras. Nós temos a língua portuguesa que nos une”.

Com 40 anos de carreira, tendo realizado trabalhos tanto como ator quanto como diretor, Borges é mais conhecido do grande público por suas participações em telenovelas. Para ele, o papel artístico é também um compromisso de cidadania. “A atuação é muito dinâmica, em que as fases da sua vida vão modificando a forma como você vê a profissão, a consciência da realidade, os estudos do corpo, da voz. É um aprendizado que não tem fim. Eu tenho muito orgulho da minha profissão”, afirma, com alegria.

Borges fala sobre como uma característica da profissão que é para ele é importante: “O artista tem essa coisa da dinâmica. Ele vive onde estiver e vive aquilo que está acontecendo”.

Raízes portuguesas

Em meio a pedidos de autógrafos e selfies com fãs, Borges relembra de quando viveu em Portugal: “Já passei por várias fases aqui. Venho para Portugal desde 1986. Na época, a moeda ainda era o escudo. Trabalhei e morei um ano e meio no Porto. Depois, em 1989, fiquei um bom tempo por aqui. Até hoje mantenho amigos portugueses, e me sinto mesmo português”, conta, lembrando que seu avô era português e viajou muito novo para o Brasil.

Sobre como encontrou Portugal desta vez, observa que, agora, há muito mais gente de várias partes do mundo, desde o Brasil até o sudeste asiático. “Há uma pressão muito grande, com um crescimento da direita, que é contra a imigração, é contra valores mais humanistas”, refere.

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Alexandre Borges no trem, a caminho de Coimbra, onde foi apresentar Esperando Godot Carlos Vasconcelos

Para Borges, Portugal se distingue do Brasil por ser “muito correto”. “É um país em que as pessoas têm um senso de ordem, sem muitos jeitinhos, que valoriza sua língua. As pessoas são pontuais, os motoristas param na faixa do pedestre, não se joga lixo na rua. Isso é fabuloso”, destaca.

Neto de portugueses de Trás-os-Montes, participa da mostra de teatro Todos São Palco com o espetáculo Esperando Godot, de Samuel Beckett, uma montagem do Teatro Oficina, de São Paulo. “É uma peça muito universal, que realmente toca o ser humano na sua essência, mas com um pouco de humor”, explica. Ele diz que é, ao mesmo tempo, um espetáculo emocionante e reflexivo. Com Esperando Godot, ele já se apresentou em Águeda, Aveiro e Coimbra, e espera voltar para o Todos São Palco de 2025.

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