Leituras
Livros que cruzam o Atlântico 9
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ENCONTRO DE LEITURAS #9
ENCONTRO DE LEITURAS
O Regresso de Júlia Mann a Paraty. Teolinda Gersão.
Porto Editora // € 15,50 // 144 pp
Oficina Raquel // R$ 69,90 // 128 pp
O Encontro de Leituras, parceria editorial entre o jornal PÚBLICO e a revista brasileira Quatro Cinco Um, recebe a escritora portuguesa Teolinda Gersão no dia 12 de Novembro, às 22h em Lisboa (19h em Brasília) para conversar sobre o romance O Regresso de Júlia Mann a Paraty.
Publicado em 2021 em Portugal, pela Porto Editora, e lançado no Brasil pela Oficina Raquel, o romance imagina o retorno de Júlia da Silva Bruhns, a Júlia Mann (1851-1923), ao Brasil.
Nascida em Paraty, no Rio de Janeiro, a mãe do Nobel da Literatura Thomas Mann influenciou a história literária europeia a partir do cruzamento de culturas, do exílio e da memória. Filha de pai alemão e de mãe brasileira, Júlia veio para a Europa ainda criança - depois da morte da sua mãe - e nunca mais regressou ao Brasil.
Este romance é composto por três novelas que se entrecruzam: 1) Freud pensando em Thomas Mann em Dezembro de 1938; 2) Thomas Mann pensando em Freud em Dezembro de 1930; 3) O regresso de Júlia Mann a Paraty. "Deste tríptico, também resulta a pintura de um tempo histórico da Europa e do clima social de uma época que continua a dialogar com os mitos fundamentais do nosso tempo", considerou o júri do Grande Prémio de Literatura dst que foi atribuído a este romance em 2023.
"A partir de cartas de dois grandes vultos da cultura alemã, Freud e Thomas Mann, e também da biografia de Júlia Mann (mãe de Thomas Mann), Teolinda Gersão tenta aprofundar a realidade para além do que ficou escrito, ao mesmo tempo que faz um retrato da Alemanha nos anos que precederam a Segunda Guerra — Freud está já exilado na sua casa de Londres, e doente —, e em que inclui um outro retrato (na história dedicada a Júlia Mann), mais estendido no tempo, o do papel e da condição social da mulher numa abastada família burguesa de industriais", escreveu o crítico literário José Riço Direitinho no Ípsilon.
Ler a entrevista de Teolinda Gersão ao PÚBLICO.
Vencedora do Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco por Histórias de Ver e Andar (Sextante, 2002), Teolinda Gersão também publicou no Brasil a antologia de contos Alice e Outras Mulheres (2020) e o romance A Cidade de Ulisses (2017), ambos pela Oficina Raquel.
O Encontro de Leituras é aberto a todos os que queiram participar. A ID é a 821 5605 8496 e a senha de acesso 719623. Entre na reunião Zoom através do link.
Dia: 12 de Novembro, terça-feira
Horário: às 19h no Brasil e 22h em Portugal continental
Evento online e gratuito, via Zoom
( fotografia de Teolinda Gersão , de António Homem Cardoso/Divulgação)
ENTREVISTA
Para completar a Dobra
Com sua obra poética lançada no Brasil, Adília Lopes fala sobre infância, influências literárias, espiritualidade e o bairro onde vive.
Com as minhas cartas de amor vou fazer um castelo de cartas de amor
Adília Lopes
Por ter feito a opção por desnudar o poema até do que pensamos ser o poético — e adentrar no território ambíguo da performance de si através de uma perspectiva humorística e desmistificadora do eu lírico e da própria literatura —, Adília Lopes se tornou uma espécie de Sibila-Esfinge que perturba o chamado mundo literário como um gato de rua que invade o palco de uma ópera lírica. Ela engenhosamente problematiza e ao mesmo tempo expande o que convencionalmente chamamos de poema e seus géneros.
A obra de Adília Lopes inscreve-se na poesia contemporânea de língua portuguesa como uma espécie de bíblia da desmistificação do poema. Nestes "campos onde o poema emula a fala e poetiza o não poético", ela conseguiu realizar os sentidos mais interessantes e profundos da ideia de poetizar a vida, formando vitrais escritos com estilhaços de memórias numa montagem godardiana que reconstrói um lado de fora com a vida de dentro, criando não apenas uma confluência de tempos dialógicos mas também uma alternativa ou até mesmo um insuspeito antídoto para aquilo que Barthes chamava de "o fascismo da linguagem".
É visível nos seus livros uma certa "autobiografia a partir da vida menor". Existe nisso uma mística do viver quase num sentido monástico?
Acordo muito cedo. Espero para ver apagar-se a luz do lampião da rua da iluminação pública da cidade. É uma questão de segundos, é preciso estar atenta, mas eu estou. Anoto num caderno as horas a que isso acontece. A hora vai mudando ao longo do ano. Esta pequena coisa, este prazerzinho, este hábito, é monacal, securiza-me.
Leia na íntegra a entrevista de Marcel Ariel a Adília Lopes na Quatro Cinco Um.
(a poeta portuguesa Adília Lopes, fotografia de divulgação)
ONDE QUEREMOS VIVER
Cinema íntimo
Mudar de país é parecido com perder os pais e ter de encontrar uma forma de ser filho.
"Talvez uma lista das razões por que é difícil ser emigrante lembrasse um tratado breve da despersonalização. A corrida a novas nacionalidades assinala porventura que mudar de país também acarreta perder a nacionalidade original. Mas mudar de país leva também a perder a cara e a reconhecer que algumas das nossas particularidades são a prazo. Longe daquilo que nos é familiar, num lugar onde não sabem pronunciar o nosso nome, é natural que, ao espelho, o emigrante duvide se ainda é a mesma pessoa. Que pessoa conta, nesse reflexo? A que partiu, ou a que vai aprendendo uma nova língua, ganhando novos costumes?
(Detalhes de Têtes paysage, de Francis Picabia, Art Institute of Chicago/Reprodução)
Emigrar também é morrer. Espanta como as coisas mudam quando se está fora, mesmo que apenas de agosto a agosto. São pormenores cruciais, às vezes, insignificantes. As mudanças no trânsito, no preço das cebolas. As obras no prédio. A morte do tio. Os primeiros passos da filha. A doença do pai. As famílias brindam aos ausentes, de que se vão esquecendo."
Leia na íntegra esta coluna de Djaimilia Pereira de Almeida na revista Quatro Cinco Um.
DESLEMBRAMENTOS
um piano flutuante
o cinema é um lugar mágico onde somos levados, por um indeterminado conjunto de minutos, a uma dimensão que aceitamos como paralela.
os filmes também são vielas onde nos perdemos com os olhos e a maresia toda sentimental e solta à espera de bailar com o desconhecido (que quase podemos lembrar) ou o conhecido dentro do peito que escapa ao entendimento racional.
o osso fresco. a frescura dorsal. uma manta de areia sobre o corpo em concha.
parece boa ideia ver um filme e chorar. estranho é ver o filme e não saber por que se chora. "estranho é tentar explicar emoções", dizia uma amigo meu. mas não deixa de ser intrigante.
como nos livros: não saberemos bem explicar o que foi "aquilo tão belo" que nos aconteceu. poderemos ter ciúmes de contar. certamente iremos partilhar cenas, vivências, diálogos e instantes de um livro. experimentaremos a secreta sensação de estar a olhar para um espelho de emoções e de intimidades. desconfiaremos que a autora ou autor sabe demasiado sobre a nossa vida, hábitos, escolhas e morais.
Leia na íntegra a coluna de Ondjaki na revista Quatro Cinco Um.
(Uma valsa em Berlim, fotografia de Jordi Burch)
FESTIVAIS LITERÁRIOS — PORTUGAL
A inquietação pela busca da palavra no Folio de Conceição Evaristo e do resgate das línguas.
O Festival Literário Internacional de Óbidos feuniu escritores e escritoras dos dois lados do Atlântico. "O primeiro fim-de-semana em Óbidos, o Folio Mais emocionou. Trouxe a escritora brasileira e a sua escrevivência que lotou a Tenda e lançou um desafio com a performance de Yara Nakahanda Monteiro". Leia a reportagem no PÚBLICO.
(Conceição Evaristo, fotografia de divulgação)
Também Scholastique Mukasonga, Velibor Colic ou Bruno Patino passaram pelo Folio Autores em Óbidos. Ler a reportagem no PÚBLICO.
E no Escritaria, os poemas dançaram do jeito de Arnaldo Antunes. O poeta, músico e artista plástico brasileiro sentiu-se em Penafiel, onde juntou família e amigos, "como o Mickey na Disneylândia". Conversou, cantou, dançou e lançou o livro Quase Tudos. Ler a reportagem no PÚBLICO.
FESTIVAL LITERÁRIO — BRASIL
Escritora portuguesa e encontros luso-brasileiros na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP)
A FLIP contou com Ana Margarida de Carvalho na programação principal e teve conversas entre autores brasileiros e portugueses na casa Portugal: Livros e Sabores. Realizada praticamente na mesma data que o Folio de Óbidos, a Festa Literária Internacional de Paraty também promoveu encontros transatlânticos. A escritora portuguesa Ana Margarida de Carvalho esteve na tenda principal, numa conversa com a italiana Lisa Ginzburg, mediada pela jornalista Adriana Ferreira Silva, colaboradora da Quatro Cinco Um. Carvalho, que disse durante sua mesa que "os portugueses têm uma relação de amor não correspondido com o Brasil", acaba de ter o seu romance O gesto que fazemos para proteger a cabeça publicado pela editora brasileira Dublinense.
(Flip 2024, fotografia de Bruno Leão/reprodução)
E uma das novidades nesta edição foi a casa Portugal: Livros e Sabores, iniciativa do Turismo de Portugal. A programação ficou a cargo dos escritores Rafael Gallo (Brasil) e José Luís Peixoto (Portugal), que convidaram autores para conversar suas experiências literárias nos dois países. Entre outros, participaram da programação Jeferson Tenório, José Henrique Bortoluci, Andréa del Fuego, Julián Fuks, Mar Becker e Ana Margarida de Carvalho.
Nas Montras e Vitrines — Livros que cruzaram o Atlântico
Canção para ninar menino grande. Conceição Evaristo.
Pallas // R$ 40 // 136 pp
Orfeu Negro // € 13,50 // 160 pp
Os supridores. José Falero.
Todavia // R$ 77,90 // 304 pp
Europa-América // € 16,40 // 292 pp
O retorno. Dulce Maria Cardoso.
Todavia // R$ 74,90 // 216 pp
Tinta da China // € 16.20 // 272 pp
Não fossem as sílabas de sábado. Mariana Salomão Carrara.
Todavia // R$ 68,90 // 168 pp
Companhia das Letras // € 15,45 // 176 pp
A história de Roma. Joana Bértholo.
Dublinense // R$74,90 // 256 pp
Caminho // € 21,90 // 312 pp
No Ípsilon desta semana
Na capa, um trabalho da jornalista Isabel Lucas sobre o que ainda une a América. A dias das eleições, procuramos pistas no que dizem e publicam pensadores e escritores. Ler o tema de capa.
Até para a semana.