Sánchez anuncia maior destacamento militar em tempo de paz. Mortes sobem para 214

Primeiro-ministro espanhol classificou desastre como “uma das cheias mais graves do século” na Europa. Milhares de militares mobilizados para as zonas mais afectadas.

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Membros da Guarda Civil em operação de busca pelos sobreviventes e corpos das cheias Biel Alino / EPA
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O número de vítimas mortais das cheias que assolaram várias regiões de Espanha na última semana subiu para 214, confirmou este sábado, 2 de Novembro, o primeiro-ministro espanhol. A grande maioria das mortes (211) foi registada na Comunidade Valenciana. Pedro Sánchez falou ao país a partir de La Moncloa, garantindo às autoridades e à população de Valência toda a ajuda necessária e um reforço da mobilização militar para as zonas mais afectadas.

As chuvas torrenciais e repentinas que atingiram Espanha desde a passada terça-feira vitimaram 214 pessoas, estando várias centenas ainda por localizar. Sánchez comprometeu-se na manhã deste sábado, pelas 11h30 locais (10h30 em Portugal continental) a "mobilizar todos os recursos necessários para ajudar" as comunidades mais afectadas e explicou as prioridades definidas na reunião do comité de crise.

O governante assumiu que a prioridade é encontrar as vítimas e ajudar a população. "Neste momento, há dezenas de pessoas à procura dos seus entes queridos e de luto pelos que perderam a vida. Asseguro-vos que o Governo, o Estado, a todos os níveis administrativos, estão com eles", afirmou.

Nesse sentido, adiantou que foi ordenada "a maior mobilização de Forças Armadas alguma vez feita em Espanha em tempos de paz", tendo já sido realizados 4500 resgates e ajudadas mais de 30 mil pessoas. Perante um pedido de reforço da ajuda militar por Carlos Mazón, presidente da Comunidade Valenciana, Sánchez garantiu que, este sábado, serão enviados 4000 soldados para Valência e, no domingo, outros 1000.

"Se a Comunidade Valenciana precisa de mais tropas, mais maquinaria, mais fundos... O que tem de fazer é pedir e serão fornecidos de imediato. As autoridades valencianas conhecem o terreno melhor que ninguém e sabem o que é preciso fazer. Se não dispõem de meios suficientes, devem pedi-los", reforçou Sánchez.

O restabelecimento de serviços e infra-estruturas danificadas foi outra das prioridades mencionadas na conferência de imprensa. A DANA (sigla espanhola para "depressão isolada de altos níveis") causou "graves danos em pontes, estradas, linhas eléctricas, serviços públicos e outras infra-estruturas que não foram concebidas para resistir a ventos e àquele volume de chuva", explicou. Sánchez estimou ainda que já tivesse sido normalizado o fornecimento de energia a cerca de 94% das pessoas afectadas por apagões, esperando que os restantes serviços da rede eléctrica e de telecomunicações fossem repostos até ao final deste domingo.

Também foram normalizadas várias ligações ferroviárias, incluindo de alguns comboios pendulares, e foi iniciada a reparação de túneis ferroviários em Chiva e Torrent. Já foram retirados das ruas mais de 2000 veículos que tinham ficado destruídos e centenas de toneladas de entulho e lama.

Algumas das zonas mais afectadas, como a Comunidade Valenciana, Castela-La Mancha, Andaluzia, Aragão e Catalunha, têm registado assaltos e pilhagens a estabelecimentos em busca de água e comida, avança a Reuters. Em resposta, Sánchez garantiu que será "duplicado o número de efectivos da Guardia Civil e da Polícia Nacional para garantir a segurança nas ruas". Já foram detidas cerca de uma centena de pessoas "que aproveitaram a ocasião para saquear".

Pedro Sánchez revelou também que foram iniciadas as conversações com a Comissão Europeia e o processamento do Fundo Europeu de Solidariedade. Concluiu apelando à união do povo espanhol e agradecendo as mensagens de solidariedade de outros países da União Europeia. "Ajudámos os nossos irmãos europeus quando precisámos e eles agora vão ajudar-nos."

Onda de solidariedade

Nos últimos dias juntaram-se milhares de pessoas aos esforços de limpeza na Cidade das Artes e das Ciências de Valência, avança a Reuters. Este centro de artes normalmente acolhe espectáculos de ópera e foi transformado num centro temporário de operações de limpeza, como auxílio perante as consequências das cheias catastróficas.

Uma enorme vaga de solidariedade enche Valência Reuters/ Nacho Doce
As autoridades criaram um movimento oficial, uma vez que as aglomerações espontâneas estavam a causar condicionamentos na circulação Reuters/ Nacho Doce
O centro de operações de limpeza está na Cidade das Artes e das Ciências de Valência Reuters/ Nacho Doce
Em Sedavi, Valência, uma escola secundária transformou-se em centro de apoio médico REUTERS/Eva Manez
REUTERS/Eva Manez
Em Sevilha acumulam-se os voluntários que carregam e descarregam caixas com bens essenciais EPA
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Uma enorme vaga de solidariedade enche Valência Reuters/ Nacho Doce

Este sábado realiza-se a primeira operação de limpeza coordenada organizada pelas autoridades regionais. Na sexta-feira, a chegada espontânea de voluntários dificultou o acesso das equipas de resposta a emergências a algumas zonas.

Em declarações à comunicação social espanhola, as autoridades chegaram mesmo a apelar a que os voluntários regressassem a casa ou que, pelo menos, não se deslocassem de carro, por estarem a impedir o acesso dos meios de socorro, avança a CNN.

Para minimizar os malefícios da onda de solidariedade, as autoridades elaboraram um plano sobre como e onde colocar os voluntários.

O presidente da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, recorreu ao X para anunciar o centro de voluntariado. “Amanhã [hoje], sábado, às 7 da manhã, em conjunto com a Plataforma de Voluntariado, vamos lançar o centro de voluntariado para organizar melhor e transportar a ajuda daqueles que estão a ajudar a partir da Cidade das Artes e das Ciências em Valência”.

De Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a expressar solidariedade a Felipe VI, enaltecendo a "resposta notável" da população. O chefe de Estado, que já tinha enviado uma mensagem a Felipe VI na quinta-feira, falou por telefone com o rei, manifestando "a solidariedade do povo português perante as mais recentes notícias, que revelam a extensão dos sacrifícios pessoais e materiais, bem como a resposta notável do povo espanhol a esta tragédia sem precedente conhecido", lê-se na nota publicada no site da Presidência da República.

ONU quer resposta urgente às alterações climáticas

A Organização Meteorológica Mundial (OMM), das Nações Unidas, pediu que fosse dada "prioridade máxima a salvar vidas" na luta contra as alterações climáticas, na sequência das inundações em Espanha, avança a CNN.

Sobre o evento de "chuvas recorde e inundações mortais repentinas", a porta-voz Clare Nullis lembrou que são "apenas um dos muitos, muitos desastres climáticos extremos e relacionados com água que ocorreram em todo o mundo este ano", como citado pelo mesmo órgão de comunicação.

Clare Nullis reforçou a importância dos mecanismos de alerta precoce no sentido de proteger todos destes "eventos climáticos, hídricos perigosos" e relembrou que estes se tornaram "mais prováveis e mais graves devido às alterações climáticas".

"Cada fracção adicional de aquecimento aumenta o risco de precipitação extrema e inundações", relembrou, antes de concluir com um apelo: "O mundo deve agir agora! Os alertas precoces levam a acções precoces e informadas."

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