Sinal dos tempos: Nvidia substitui Intel no índice Dow Jones Industrial

Uma das primeiras tecnológicas de Silicon Valley a entrar no Dow Jones Industrial cede o lugar a uma das empresas mais procuradas da actualidade, dada a sua especialização em Inteligência Artificial.

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A cotação bolsista da Nvidia subiu 170% desde Janeiro, ao passo que a da Intel caiu quase 54% RITCHIE B. TONGO / EPA

Fim de uma era, sinal dos tempos, a fabricante norte-americana de microprocessadores (chips) Intel vai sair do índice Dow Jones Industrial para dar lugar à Nvidia, outra multinacional com origem nos EUA que é um dos líderes mundiais da produção de chips especializados em processamento gráfico e inteligência artificial.

A troca será consumada no dia 8 de Novembro, segundo um comunicado da S&P Dow Jones Indices, a unidade de negócios da S&P Global que gere os índices bolsistas.

A Intel foi uma das primeiras tecnológicas a entrar naquele índice, a par com a Microsoft, no final dos anos 90, em plena época da chamada "bolha dotcom". Porém, ao fim de 25 anos vê-se ultrapassada por uma empresa que até teve oportunidade de comprar, mas que recusou, e cujo valor bolsista, ao contrário do da Intel, duplicou só no último ano, impulsionado pela crescente procura de produtos e serviços de Inteligência Artificial.

Outrora líder mundial na produção de chips usados na maioria dos computadores pessoais e profissionais, a Intel parece hoje o exemplo mais que perfeito do ciclo de destruição criativa proposto pelo economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950), em que quem não inova morre, porque a inovação é a força motriz da evolução por ciclos económicos.

Ultrapassada no seu negócio de produção de chips pela taiwanesa TSMC, cedendo quota de mercado à concorrente AMD (sobretudo no mercado de servidores e móvel), perdido o comboio da Inteligência Artificial (a empresa poderia ter entrado na dona do ChatGPT, a OpenAI, mas retraiu-se quando poderia ter embarcado na enorme vaga de investimentos em inteligência artificial generativa), a Intel é hoje uma sombra do que já foi em bolsa, tendo perdido quase 54% da sua cotação desde Janeiro.

Nas contas reveladas a 31 de Outubro, a Intel informou o mercado que registou a maior perda trimestral de sempre: quase 15.300 milhões de euros de resultado negativo (16.600 milhões de dólares ao câmbio de hoje), com uma margem operacional negativa de mais de 68%.

Boa parte deste prejuízo resulta do doloroso plano de reestruturação com que a administração de Pat Gelsinger pretende dar a volta a este ícone industrial dos primeiros tempos de Silicon Valley, onde os EUA viram germinar e evoluir o seu estatuto de potência de inovação e tecnologia.

Mais de 14.600 milhões de euros deste prejuízo são imparidades decorrentes da correcção no valor de activos, aos quais se somam quase 2600 milhões de euros em custos de reestruturação. A empresa confirmou agora o anúncio feito em Agosto sobre uma redução drástica no número de trabalhadores e a venda de activos imobiliários. A administração quer cortar 16.500 postos de trabalho.

As receitas caíram 6% no terceiro trimestre de 2024, reflectindo a dificuldade que a Intel sente em competir com os concorrentes no mercado de chips específicos para aplicações de Inteligência Artificial.

Na bolsa, a Intel vale hoje menos de 100 mil milhões de dólares (o valor mais baixo em 30 anos), sendo a empresa com o pior desempenho, este ano, entre todas as 30 empresas que compõem o índice DJI.

Pelo contrário, a cotação da Nvidia na bolsa subiu 170% este ano, depois de um aumento de 240% em 2023. É a segunda empresa mais valiosa do mundo (3,32 biliões de dólares), em avaliação de mercado bolsista, apenas atrás da Apple (3,39 biliões de dólares).

Esta não é a única troca no índice, já que o produtor de tintas Sherwin-Williams irá substituir o gigante de produtos químicos Dow.

"Estas mudanças pretendem garantir uma exposição mais representativa da indústria de semicondutores e do sector de materiais, respectivamente", justifica a gestora do índice, no mesmo comunicado.

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