Uma vida mais feliz é possível

Diminuir o consumo de alimentos que vêm dos animais é bom para os bichos, para o planeta e para as pessoas.

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Uma amiga tem um irmão que mora no interior de Minas Gerais. Um dia, conversando com sobre o namorado da filha, ele disse: “É um moço muito bonzinho, mas tem aquela doença”. “Que doença?”, minha amiga perguntou. “Aquela que não pode comer carne, ovo e nem um queijinho!”

Desde o começo da pandemia de Covid-19, eu também tenho essa doença. Parei de comer carne por volta de 2004, mas continuei com peixes, queijos e ovos. Eu gosto muito de cozinhar. Trancada em casa, fiz um curso online de queijos veganos e conheci um mundo novo. Não digo que sou vegana, porque veganismo não é apenas uma maneira de se alimentar, é todo um modo de ver o mundo: não usar peças de lã, de couro ou de seda, por exemplo, não comer mel, nunca tomar vinho ou cerveja não veganos (a maioria não é!). Hoje, procuro não comprar nada de origem animal, mas ainda guardo no armário uns pares de sapatos de couro e blusas de lã. Minha alimentação tem as plantas como base. Raramente provo alimentos que não são veganos.

Para mim, a decisão de parar de comer animais e seus produtos não foi difícil e me encheu de alegria. Eu sempre gostei de bicho. Aos seis anos fiz um escândalo quando descobri que meu pai matava passarinhos com uma espingarda. Tive cachorro, gato, coelho, cavalo, galinha, pato... Brincava de escolinha com bichinhos de plástico. Era professora de elefantinhos, jacarés e leões. Minha conexão com os animais não se resume aos gatos e cachorros.

Eu me pergunto por que ficamos tão indignados ao saber que as pessoas comem cachorros em alguns países, enquanto degustamos, com a consciência tranquila, uma picanha ou um pedaço de bacon. Porcos, vacas e galinhas também sabem o próprio nome, brincam com bolas, criam famílias, têm amigos e são tão carinhosos quanto gatos e cachorros. Mas não nos importamos com o fato de que são criados em condições terríveis e explorados por toda a vida. Convivemos com essa dissonância cognitiva desde cedo e, em geral, aceitamos as coisas como são, sem pensar.

Acredito que se soubessem o que se passa nos locais de criação intensiva de animais, muitas pessoas também pensariam melhor antes de comê-los. A “indústria de proteína animal” separa mamães vacas de seus bebês assim que nascem, tranca as porcas em cubículos minúsculos por toda a sua vida, corta o bico das galinhas para que elas não briguem até a morte e tritura vivos os pintinhos machos recém-nascidos porque eles não botam ovos, entre outros horrores. Se você tem interesse em saber mais, dê uma olhada em perfis do Instagram como @vegan.f.t.a ou @peta. Mas atenção, é uma realidade bem indigesta.

Ah, antes que eu me esqueça: e as proteínas? Os gorilas, os elefantes, as girafas e os rinocerontes são animais imensos que se alimentam apenas de plantas. Não precisamos comer carne e ovos ou tomar leite de outros bichos. Uma alimentação variada que inclua leguminosas (feijões, grão de bico, lentilha, ervilha), cereais, sementes e castanhas, verduras e frutas possui todos os aminoácidos que nosso corpo precisa para fazer proteínas. Só temos que tomar B12, uma vitamina sintetizada por microrganismos, mas quase metade da população, veganos ou não, necessita dessa suplementação. Tanto que os animais alimentados com ração também tomam B12 porque não adquirem a vitamina pastando.

Nem vou falar aqui dos enormes impactos que a indústria da proteína animal tem no meio ambiente. Esse tema fica para outra coluna. Se você pensa em diminuir o consumo de produtos que exploram os animais, saiba que uma vida mais feliz, saudável e leve é possível. O Instagram está cheio de receitas maravilhosas sem carne, leite ou ovos, é só procurar com hashtags como #receitasveganas. Nos sites https://www.avp.org.pt/ e https://www.forksoverknives.com/ (em inglês), por exemplo, é possível encontrar não só receitas, mas várias informações sobre o assunto. Diminuir o consumo de produtos animais é mais fácil do que parece e vale muito a pena!

Segue a receita do queijo que foi o precursor dessa revolução na minha vida.

Queijo de amêndoas

> 2 xícaras de amêndoas sem casca (para tirar a casca é só jogar as amêndoas em água fervendo, deixar um minuto, escorrer e depois tirar as cascas. Eu gosto de colocar as amêndoas de molho durante a noite)

> Suco de um limão

> 1 dente de alho médio

> Sal e temperos (oréganos, pimenta do reino, cúrcuma, páprica)

> Fermento nutricional (opcional)

> Água

Coloque o dente de alho descascado no liquidificador e cubra com o suco do limão. Deixe por uns 10 minutos. O suco do limão vai “cozinhar” o alho e deixar o gosto mais suave. Depois, junte os outros ingredientes e cubra tudo com água (não muita para não ficar mole). Bata até ficar lisinho e pronto. Se quiser uma textura de feta, pode colocar essa massa no forno até que ela endureça. Para um queijo mais suave, use castanha de caju no lugar da amêndoa e não coloque o dente de alho. Fica uma delícia.

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