Há uma cola que mantém a democracia dos Estados Unidos a funcionar: antes de ser um conjunto de práticas ou de instituições, a democracia baseia-se numa "visão ética para a reordenação da vida pública de forma a expandir a liberdade, a igualdade, a tolerância para com as pessoas comuns, não apenas para as classes dominantes".
"A história da democracia americana é, num certo sentido, a história de como ultrapassámos as contradições inerentes a essa visão ética para criar, como disseram os fundadores, uma união mais perfeita. Foram necessárias décadas, gerações e mesmo séculos de conflitos e tensões e, por vezes, de violência, para conseguir cada vez mais essa liberdade, igualdade e tolerância alargadas e inclusivas. E ainda estamos muito longe de o alcançar. Mas, precisamente numa altura em que o estamos a conseguir em muitos aspectos legais, a nação parece estar a desistir. Há um esgotamento. Os cidadãos, tanto à esquerda como à direita, já não querem fazer esse trabalho árduo."
É cristalino o pensamento de James Davison Hunter, sociólogo inventor da expressão "guerras culturais" (os conflitos identitários e de mundivisões que tomaram conta da vida pública americana – e de outros países). Hunter vê descrença em tudo o que une os americanos – até na Constituição.
No tema de capa desta edição, Isabel Lucas ouviu também Anne Applebaum e Brook Manville. E, pelo caminho, leu Ta-Nehisi Coates e Percival Everett. A dias das eleições, procuramos pistas no que dizem e publicam pensadores e escritores sobre esta América desunida.
Eis um dos filmes do ano, diz-nos Vasco Câmara sobre A Substância. Numa entrevista em movimento, a realizadora, Coralie Fargeat, falou-lhe do filme que fez dela uma versão melhorada de si mesma. Sob a fantasia do filme, "há um monólogo combativo sobre o encanto total e o poder totalitário do cinema", reflecte Vasco Câmara.
Weathering é uma soberba escultura viva: 70 minutos de corpos a entrar uns pelos outros, com sons, cheiros e movimentos lentos a exigir atenção. A criação da coreógrafa norte-americana Faye Driscoll é apresentada sábado e domingo em Lisboa, a 8 e 9 no Porto.
De Siza ao Fala Atelier, de Raúl Hestnes Ferreira ao Diogo Aguiar Studio, obras mais óbvias e outras inesperadas mostram em Matosinhos os últimos 50 anos da arquitectura que se fez em Portugal. Aviso benigno: esta exposição não é só para os "tolinhos da arquitectura".
Uma História alternativa do planalto central de Angola chegou-lhe num "clarão". O novo romance Mestre dos Batuques foi o pretexto para uma conversa de António Rodrigues com José Eduardo Agualusa à volta de livros, histórias africanas, cinema e uma personagem maior da literatura angolana.
Também neste Ípsilon:
– Cinema: críticas a Anora; Os Indesejáveis; Um Café e Um Par de Sapatos Novos; e Vive e Deixa Andar;
– Música: o regresso dos The Cure; entrevista com Ruthven, antigo bombeiro entregue aos fogos da pop; críticas aos novos discos de Porridge Radio e Daniel Bernardes;
– Livros: Eliane Brum, "correspondente de guerra" na Amazónia, na primeira pessoa; e os Souvenirs Satânicos do poeta Pedro Bastos;
E não só. Boas leituras!
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