EUA estimam que já estejam oito mil soldados norte-coreanos na fronteira da Ucrânia

Antony Blinken diz que soldados norte-coreanos podem entrar na Ucrânia nos próximos dias. Zelensky critica fraca reacção dos aliados a mais uma investida da Rússia de Vladmiri Putin.

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Antony Blinken e o ministro da Degesa da Coreia do Sul, Cho Tae-yul REUTERS/Leah Millis
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A Rússia estará a preparar-se para enviar para a Ucrânia oito mil soldados norte-coreanos que, neste momento, já estão estacionados na Rússia, junto à fronteira. A informação foi avançada esta sexta-feira, 31 de Outubro, pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, numa conferência de imprensa conjunta com o ministro dos Negócios Estrangeiros sul coreano, que deu ainda conta que a entrada dos militares de Pyongyang deve "acontecer já nos próximos dias".

Antony Blinken adiantou que havia 10 mil soldados norte-coreanos na Rússia, incluindo cerca de oito mil na região de Kursk, onde as forças ucranianas continuam a manter o território depois de terem entrado na zona fronteiriça russa em Agosto, surpreendendo as defesas russas e até os aliados internacionais. Já na segunda-feira, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, tinha alertado para a "perigosa expansão" da guerra com a chegada dos soldados norte-coreanos à Rússia prontos para entrar na Ucrânia. Na terça-feira, tinha sido o Serviço Nacional de Inteligência (NIS, na sigla em inglês) da Coreia do Sul a alertar para o facto de ter indicações de que algumas tropas norte-coreanas poderem estar já a deslocar-se para combater na Ucrânia.

Numa conferência de imprensa com o homólogo sul-coreano, Cho Tae-yul,​ Blinken disse que a Rússia tem estado a treinar os soldados norte-coreanos com artilharia, veículos aéreos não tripulados, ou drones, e operações básicas de infantaria, indicando que “tencionam plenamente” utilizar as forças em operações na linha da frente. "Uma das razões pelas quais a Rússia está a recorrer a tropas norte-coreanas é o desespero", disse Blinken, durante a conferência de impressa. “Putin tem vindo a atirar cada vez mais russos para um triturador de carne criado por ele próprio na Ucrânia. Agora está a recorrer às tropas norte-coreanas, o que é um sinal claro de fraqueza”, acrescentou ainda.

Durante a conferência de imprensa, Blinken apontou ainda à China, explicando que Pequim tem, neste ponto em particular, um papel importante a desempenhar, afirmando que os diplomatas norte-americanos e chineses mantiveram uma “conversa robusta ainda esta semana” e que a China conhece as expectativas dos EUA de que “utilizarão a influência que têm para trabalhar no sentido de travar estas actividades [da Coreia do Norte]”.

Liu Pengyu, porta-voz da Embaixada da China em Washington, disse num comunicado, citado pela Associated Press, que a posição da China sobre a crise na Ucrânia é “consistente e clara”. A China empenha-se “nas conversações de paz e na resolução política da crise na Ucrânia. Esta posição mantém-se inalterada. A China continuará a desempenhar um papel construtivo para este fim”, afirmou Liu.

Reacção "nula" dos aliados

Apesar das declarações por parte dos EUA, na quinta-feira, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criticou a reacção “nula” dos seus aliados ao envio pela Rússia de tropas norte-coreanas para a guerra na Ucrânia, afirmando que a fraca resposta encorajaria Vladimir Putin a reforçar o contingente.

Segundo a agência Reuters, numa entrevista ao canal televisivo sul coreano KBS, Zelensky disse acreditar que que Moscovo já estava a tentar chegar a um acordo para que a Coreia do Norte enviasse engenharia militar e até "um grande número" de civis para trabalhar nas fábricas militares russas. “Putin está a testar a reacção do Ocidente... E acredito que, depois de todas estas reacções, Putin decidirá e aumentará o contingente... A reacção que existe hoje não é nada, é zero”, disse Zelensky, pouco mais de uma semana depois de ter apresentado o seu plano de vitória aos parceiros da NATO em Bruxelas.

Peritos militares consultados pelo jornal The New York Times dizem, no entanto, que o número de soldados norte-coreanos que pode chegar à Ucrânia nos próximos dias é demasiado pequeno para afectar a situação geral no campo de batalha, onde ambos os lados destacaram centenas de milhares de soldados. Contudo, pode ser potencialmente suficiente para ajudar Moscovo a recuperar o seu território na região de Kursk. “À medida que o seu número aumenta, espero que o impacto seja visto pelo progresso de um contra-ataque russo constante”, disse John Foreman, um antigo representante do Ministério da Defesa britânico em Moscovo e em Kiev ao jornal norte-americano.

Por outro lado, o envio de homens para a Rússia pode permitir ao regime de Kim Jong-un o apoio em duas importantes frentes: assistência a curto prazo para as suas capacidades militares e garantias estratégicas a longo prazo que possam reforçar a capacidade de Kim para enfrentar os Estados Unidos e os vizinhos.

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