Director do serviço de cirurgia do Amadora-Sintra demite-se e saem dez cirurgiões

Na origem do sucedido está o regresso ao estabelecimento hospitalar de dois médicos que denunciaram más práticas no serviço.

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É previsível que se registem constrangimentos no atendimento dos utentes Matilde Fieschi
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O director do serviço de cirurgia geral da Unidade Local de Saúde Amadora/Sintra demitiu-se e dez cirurgiões deixaram o hospital, o que pode vir a causar constrangimentos no atendimento dos utentes.

Na origem do sucedido está o regresso ao estabelecimento hospitalar de dois médicos que em Janeiro de 2023 denunciaram más práticas no serviço. Além do director, Paulo Mira, saíram dez elementos do serviço, confirmou esta unidade, acrescentando que a demissão tem efeitos a 31 de Dezembro, estando a situação a ser acompanhada pela tutela. A mesma fonte de informação refere que "estão a ser efectuados esforços de resolução" do problema "com a maior brevidade possível, com o apoio dos elementos do serviço e restante equipa".

Prevêem-se constrangimentos na escala de cirurgia geral. "Serão informadas as autoridades competentes, incluindo Instituto Nacional de Emergência Médica, caso seja necessário", informa também a unidade de saúde.

Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Nuno Rodrigues, manifestou "muita preocupação" com a situação, "perante a falta de assistência a cuidados de cirurgia geral numa área populacional muito grande, que necessita desta especialidade".

Nuno Rodrigues alertou que os doentes que não possam ser atendidos no Amadora/Sintra terão de ser drenados para outros hospitais que já estão sobrecarregados". Segundo o líder do SIM, o director do serviço "fez tudo para capacitar e modernizar o serviço" e viu-se "a braços com esta situação", a que a administração da ULS não conseguiu dar resposta adequada.

"É uma situação complicada e complexa que não tem solução fácil", lamentou Nuno Rodrigues.

Também a presidente da Federação Nacional do Médicos (FNAM), Joana Bordalo e Sá, manifestou preocupação: "A administração tinha prometido resolver o problema, mas nada fez e está a comprometer os cuidados de cirurgia à população que serve".

Joana Bordalo e Sá apontou como motivos para a demissão de Paulo Mira "a falta de condições, recursos humanos e capacidade de gestão de serviço que não tem médicos suficientes".

A situação tem sido acompanhada pelo presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos (OM), Paulo Simões, que lamentou a saída do director do serviço e dos cirurgiões. Lamentou ainda que o conselho de administração não tenha conseguido encontrar uma solução para o problema.

Também manifestou preocupação com o facto de o serviço poder ficar sem capacidade de resposta de urgência.

No final de uma visita que realizou ao serviço no dia 7 de Outubro, Paulo Simões disse à Lusa que o agora director demissionário tinha conseguido criar "as unidades funcionais que pretendia (...) e tudo estava a correr muito bem, até que há uma informação de que os dois elementos que tinham saído em conflito estavam com intenções de regressar ao serviço".

Esta situação criou um "grande desconforto" e levou cerca de metade dos cirurgiões do serviço a apresentarem demissão.

A situação remonta ao ano passado, quando o ex-director do serviço de cirurgia geral e um outro médico do serviço denunciaram uma série de alegadas más práticas no serviço. Mas dos 18 casos que foram avaliados por peritos da Ordem dos Médicos foi apenas identificada uma “má opção cirúrgica”, tendo a perícia concluído que “não foram encontrados indícios de má prática generalizada ou violação das “leges artis” (boas práticas médicas, de acordo com o actual conhecimento científico) nos casos denunciados”.

Os dois médicos foram, nessa altura, suspensos, depois de a administração então em funções ter instaurado processos disciplinares por suspeita de acesso indevido a processos clínicos e dados dos doentes. Mas o anúncio do seu regresso ao hospital (com o qual têm contrato) e ao serviço de cirurgia geral criou novamente “uma situação de grande desconforto”, admitiu recentemente o presidente da Secção Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Paulo Simões. Dos nove cirurgiões do Amadora-Sintra que pediram demissão, dois rescindiram contrato

Também questionada sobre o assunto há cerca de três semanas, a ministra da Saúde disse que este “é um tema que preocupa”. "Estamos preocupados, mas acreditamos que chegaremos a um entendimento de forma a manter o serviço de cirurgia de um dos hospitais mais importantes de Lisboa e Vale do Tejo", disse Ana Paula Martins, referindo que o assunto “está a ser tratado como tem de ser, pelo presidente do conselho de administração”, com a colaboração da tutela.