No Líbano, pai e filho cuidam dos cavalos feridos pelos bombardeamentos de Israel

Zakari e Jaafar Araji estão constantemente a construir boxes para receber mais cavalos após a morte dos donos. “São seres inocentes e puros e tenho que fazer tudo o que puder para ajudá-los.”

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No Líbano, pai e filho cuidam dos cavalos feridos pelos bombardeamentos de Israel Isabela Kronemberger/Unsplash
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Enquanto Israel bombardeia o Líbano, Zakaria e Jaafar Araji, pai e filho, arranjam mais espaço no estábulo da família no Vale do Beca, a leste de Beirute, para receber e tratar dos cavalos árabes feridos.

Segundo o Ministério da Saúde libanês, os ataques de Israel no Líbano, que começaram a 23 de Setembro, mataram mais de 2700 pessoas e deixaram mais de 12 mil pessoas feridas. O Vale de Bekaa, que segundo as autoridades israelitas é uma zona importante para as operações do Hezbollah, é uma das áreas mais afectadas.

Por tudo isto, os donos dos estábulos que ficam nesta zona (e que ainda não foram destruídos) optam por enviar os cavalos para um local seguro. A família Araji é a solução de muitos.

Citado pela Al Jazeera, Zakari Araji conta que resgatou recentemente, a pedido do dono, 18 cavalos que sobreviveram aos ataques ao estábulo onde viviam. Alguns chegaram feridas abertas nos flancos e dorso e, entre o grupo, estava também uma égua, que sofreu um aborto espontâneo, traumatizada pelo barulho das bombas.

“Aceitei imediatamente sem pedir nada em troca”, afirma, acrescentando que já fez o mesmo com cavalos que viveram da guerra da Síria. Neste momento, está a construir mais boxes para acomodar 20 cavalos que estão prestes a chegar num camião.

Sem veterinários confiáveis ou acessíveis para quem tem pouco dinheiro no Líbano, cabe ao filho Jaafar cuidar das feridas dos animais, dar-lhes medicação para as dores, alimentá-los com a pouca ração que resta e levá-los a passear diariamente. De noite, quando as dores ficam mais fortes, fica acordado a vigiar os cavalos.

“Quando chegaram, estavam exaustos, alguns [estavam] feridos, e a gravidade das doenças tornou-se aparente nos dias seguintes”, recorda Jaafar, de 32 anos. A par disto, como os donos não conseguiam ir até aos estábulos, muitos ficaram sem comida durante dias e perderam metade do peso.

Segundo Zakaria, estes animais eram inicialmente utilizados como cavalos de guerra. Usavam armaduras até ao pescoço e ficavam na fileira da frente para proteger os restantes animais e tropas dos ataques dos inimigos. Agora, escreve a Al Jazeera, são mortos e feridos pelas tropas israelitas que bombardeiam indiscriminadamente o país, naquilo que Israel descreve como uma “operação terrestre limitada” contra o Hezbollah.

“Quando vemos que Israel está a bombardear fazendas, estábulos e a matar estes animais inocentes, é injusto. Mesmo que o dono deles fosse parte do Hezbollah, que culpa têm os cavalos?”, questiona Zakaria Ajari, citado pela mesma fonte.

“Os cavalos são seres inocentes e puros e tenho que fazer tudo o que puder para ajudá-los”, acrescentou. O objectivo é que um dia possam regressar para junto dos donos, mas tal só será possível se Israel parar de bombardear o Líbano.

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