Entrepreneurship Awards: Lisboa anuncia os empreendedores do ano

Iniciativa da Unicorn Factory Lisboa celebrou o crescimento da inovação em Portugal no último ano e entregou prémios aos empreendedores que mais se destacaram.

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Henrique Casinhas

A ideia para a Powerdot, eleita a startup portuguesa do ano, começou com uma dúvida colocada por quatro amigos. Onde é que podemos carregar o carro eléctrico? De uma necessidade, nasceu a solução: “Investimos, instalamos e operamos estações de carregamento de veículos eléctricos onde as pessoas passam o seu tempo: no centro comercial, nos restaurantes, em supermercados, nos hotéis”, explicou o co-fundador e general manager da Powerdot, José Maria Sacadura, durante a cerimónia de entrega dos Entrepreneurship Awards, atribuídos pela Unicorn Factory Lisboa, no ano em que Lisboa é a Capital Europeia da Inovação, e que decorreu no Capitólio, em Lisboa, a 21 de Outubro.

“A nossa ambição teve crescimento nacional e internacional. Estamos presentes em seis países europeus. O nosso objectivo é ter 10 mil pontos de carregamento nestes países até ao fim do ano”, explicou José Maria Sacadura. São 8400 neste momento. Essa ideia e ambição recebeu agora também o Prémio João Vasconcelos – Empreendedor do Ano, que a Fábrica de Unicórnios de Lisboa atribuiu em parceria com a Galp, e que reconhece o desempenho e expansão da startup que mais contribuiu para o ecossistema empreendedor nacional no último ano. No caso, a Powerdot opera neste momento em seis países europeus, onde emprega 170 colaboradores e tem como meta ultrapassar a Tesla ou a Total, tornando-se a rede de carregamentos rápidos número um em França. “Não estamos apenas aumentar uma rede, estamos a construir o futuro da mobilidade sustentável”, concluiu o co-fundador.

Além desta distinção, que homenageia João Vasconcelos, o fundador da Startup Lisboa (hoje Unicorn Factory Lisboa) e que garante à Powerdot a apresentação do seu projecto na Web Summit, foram também entregues os prémios Startup Mais Promissora (Framedrop), Melhor Startup de Impacto (Goparity) e Melhor Startup Universitária (Lampsy). A variedade de distinções permitiu também mostrar a diversidade de ideias e áreas que são trabalhadas pela comunidade empreendedora da Unicorn Factory Lisboa: inteligência artificial à saúde, sustentabilidade, energias limpas, segurança, alimentação do futuro. A Goparity, por exemplo, apresentou a sua ideia de “empoderar as pessoas e empresas para usarem os seus mercados para o bem”, como explicou Rita Oliveira, responsável pelo marketing desta plataforma de financiamento sustentável que, através de mais de 360 projectos, já impactou 89 mil pessoas e criou 4,7 mil empregos. “O que queremos dizer por bem é desinvestir nas empresas malfeitoras e investir naquelas que trabalham para a transição”, disse, manifestando-se “muito feliz por questões como o impacto e a sustentabilidade assumirem o palco num prémio [tecnológico]”. Com parceria da Casa do Impacto, este reconhecimento tem um valor de 2500 euros para a Goparity.

Para Gil Azevedo, as temáticas que foram abordadas pelas startups nomeadas e vencedoras dos Entrepreneurship Awards demonstram “as tendências dentro da inovação e que são áreas de crescimento acelerado”, explicou à margem da cerimónia o director executivo, considerando que estão “muito alinhadas” com a rede de quatro hubs de inovação da Unicorn Factory Lisboa, que inclui Inteligência Artificial, Web3 e Gaming. O hub da Inteligência Artificial terá à disposição das startups e comunidade um edifício de 6 andares até ao fim do ano. De acordo com o responsável pelo portfólio, João Rosado, a Unicorn Factory Lisboa tem 262 empresas incubadas, 51% dos seus membros são internacionais, tendo, só em 2024, atraído 74 milhões de euros em capital. “A nossa missão é ajudar os founders a começarem a crescer e a tornarem-se globais”, explicou durante a cerimónia.

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Gil Azevedo, director executivo da Unicorn Factory Lisboa Henrique Casinhas

Partilha e trabalho conjunto

A relevância da “comunidade” criada na Unicorn Factory Lisboa foi enaltecida por muitos dos intervenientes na cerimónia. “Só estamos neste ecossistema de startups há um ano. E ao ecossistema, muito obrigada, estou sempre a fazer perguntas”, assumiu Vicente Garção, do projecto Lampsy, ao receber o Prémio de Melhor Startup Universitária, numa parceria com a NTT Data, e com o valor monetário de 2500 euros. Este estudante de pós-doutoramento no Instituto Superior Técnico está a trabalhar com outros parceiros para que, em 2026, a sua solução de “privacy by design” para identificação nocturna de ataques epilépticos chegue ao mercado. Trata-se do Lampsy, que apresentou no palco com a forma de um candeeiro simples preto e que não perpetua o estigma dos doentes: “É invisível, discreto e integra-se na casa e é mais fidedigno do que os restantes. Através da inteligência artificial capta 99% dos ataques e emite três vezes menos falsos alarmes”, explicou Vicente Garção, comparando com outras soluções, como os wearables. A Lapmsy já tem parcerias com todos os hospitais públicos da área metropolitana de Lisboa que monitorizam a epilepsia e a sua tecnologia poderá ser utilizada noutras doenças, como por exemplo na apneia do sono, que afecta mil milhões de adultos em todo o mundo.

A Framedrop é um outro excelente exemplo da importância da Unicorn Factory Lisboa. Com uma equipa de 10 pessoas, conquistou o júri do Prémio Startup Mais Promissora graças à ideia de que “o conteúdo curto é o rei.” Dada a velocidade da informação, nomeadamente a que é imposta pela lógica das redes sociais, e como as empresas de media não têm recursos suficientes para editar vídeos rapidamente, “transformamos vídeos longos em cursos de modo mais rápido e barato”, sendo também possível customizar legendas e logos “à medida”, explicou Mário Tarouca no pitch de apresentação. Com clientes nacionais na rádio, televisão e imprensa, em 2024 a Framedrop registou mais de 100 mil utilizadores, que processaram 6 milhões de minutos. Objectivo para 2025? “Queremos ser a empresa de media dominante na indústria”, assumiu o co-fundador e chief operational officer da Framedrop. O prémio, numa parceria com a Concentrix, garante a participação na Slush, uma feira internacional de inovação na Finlândia.

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José Maria Sacadura, co-fundador e general manager da Powerdot Henrique Casinhas

Investir na inovação social

Numa tarde dedicada a “celebrar o crescimento da inovação em Portugal e deste ecossistema de empreendedores e startups”, como descreveu Gil Azevedo, foi também reconhecido Vírgílio Bento, fundador e CEO do unicórnio português Sword Health, com o Prémio Ecossistema. “É um unicórnio que põe Portugal no mapa, e o Virgílio tem desempenhado um papel muito relevante”, explicou o director executivo da Unicorn Factory Lisboa. E a capital portuguesa quer estar no centro desse mapa – esta foi a afirmação central na sexta edição dos Entrepreneurship Awards. “Acreditamos que Lisboa tem todas as condições para se estabelecer como um pólo importante de inovação na Europa. Trabalhamos para transformar a nossa cidade numa verdadeira capital da inovação, em que o talento e a inovação são cuidados, se retém e atrai talento, se cria espaços de co-working, se dá mentorias”, explicou a vereadora Joana Oliveira Costa, que tem o pelouro da Economia e Inovação.

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Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa e Joana Oliveira Costa, Vereadora Câmara Municipal de Lisboa Henrique Casinhas

Foi com esta perspectiva que foi criado o Lisboa Innovation For All, uma iniciativa idealizada pelo Presidente da Câmara de Lisboa e organizada pela Unicorn Factory Lisboa, sendo considerado um dos maiores prémios de inovação social na Europa. Os finalistas foram conhecidos nesta cerimónia. São seis projectos portugueses e três internacionais (Reino Unido, Coreia do Sul e Finlândia), seleccionados entre quase 330 candidaturas de todo o mundo. Estão divididos em áreas centrais da sociedade: qualidade na educação (Growappy, Jade Austim, Ubbu), acesso a cuidados de saúde (RadiSen, Usawa Care, Virtuleap), integração de migrantes (Class of Wonders, Commu App, Equivalence). “Com este prémio o que queremos é criar mais impacto e construir uma melhor cidade para as suas pessoas”, explicou a responsável pelos projectos estratégicos Sofia Rolo. Os nove finalistas irão trabalhar agora com a Unicorn Factory Lisboa nos próximos seis meses na implementação dos seus projectos. Findo este período, serão escolhidos três vencedores, que repartirão os 360 mil euros que a capital portuguesa recebeu como Capital Europeia da Inovação 2023 e que o presidente da Câmara decidiu reinvestir neste prémio. “Vamos fazer com que Lisboa continue a ser a capital da inovação, não apenas em 2023. Mas todos os anos e melhor”, desejou Carlos Moedas no final da cerimónia no Capitólio.