Leia um dos capítulos de A Outra Filha, da prémio Nobel Annie Ernaux

Um dia a escritora francesa ouviu uma confidência entre a sua mãe e uma vizinha, assim descobrindo que não era a primeira filha dos seus pais. A sua irmã morreu de difteria aos seis anos.

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A escritora francesa Annie Ernaux, Prémio Nobel da Literatura 2022 FRANCESCA MANTOVANI-EDITIONS GAL / REUTERS
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É uma fotografia em tom sépia, oval, colada num cartão amarelecido e mostra um bebé empoleirado, de través, em almofadas sobrepostas, com rebordo. Enverga um vestidinho bordado, só com uma alça larga, presa com um grande laço um pouco atrás do ombro, como uma flor enorme ou as asas de uma borboleta gigante. Um bebé comprido, franzino, com as pernas afastadas e esticadas até à beira da mesa. Abaixo dos cabelos castanhos que formam um rolo sobre a testa alta e redonda, arregala os olhos com uma intensidade quase devoradora. Os braços abertos como os de uma boneca parecem agitar-se. Dir-se-ia que vai saltar. Ao fundo, a assinatura do fotógrafo — M. Ridel, Lillebonne —, cujas iniciais entrelaçadas decoram também o canto superior esquerdo da capa, muito suja, com as folhas meio descoladas uma da outra.

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