Abertura do Pavilhão Azul – Colecção Julião Sarmento adiada sem nova data

Atraso nas obras justifica que centro cultural centrado na colecção privada do mais internacional dos artistas contemporâneos portugueses não abra na data prevista, avançada por Carlos Moedas.

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Julião Sarmento na ARCOlisboa, 2018 Nuno Ferreira Santos
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Agendada para o dia 4 de Novembro, sete anos após a assinatura do protocolo em que o artista visual Julião Sarmento, falecido em 2021, cedeu à Câmara Municipal de Lisboa (CML) a sua colecção de arte privada para a criação de um novo centro de arte contemporânea na capital, a inauguração do Pavilhão Azul – Colecção Julião Sarmento não vai acontecer na data prevista. O edifício, situado na zona de Belém, continua em obras e tem agora a sua inauguração adiada e sem nova data de abertura.

“Houve um atraso devido às obras e não há nova data prevista”, confirma ao PÚBLICO porta-voz da Lisboa Cultura (antiga Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural — EGEAC), que na prática e segundo o acordo é a entidade à qual foi entregue em depósito a colecção de 1261 obras. A mesma fonte indicou que serão dadas mais informações sobre a inauguração assim que possível. A EGEAC começou a gerir o Pavilhão Azul a 19 de Julho de 2023. Também o Departamento de Marca e Comunicação da CML confirmou que não haverá inauguração na próxima segunda-feira e que dará conta de nova data "quando esta estiver definida".

Julião Sarmento deixou viva a intenção de ver nascer um centro de arte contemporânea em Lisboa ainda com Fernando Medina, do PS, como autarca. Ao longo dos anos, e com a pandemia de permeio, o trabalho em torno do espaço levou a que fossem arriscadas outras datas, não cumpridas — em Setembro de 2022, por exemplo, a CML anunciou que estaria pronto em Maio de 2023. Agora, tem sido o social-democrata Carlos Moedas que, em várias ocasiões, apontou 4 de Novembro, dia de aniversário do artista, como a data de inauguração do espaço.

“A equipa [da EGEAC] vai ficar um bocadinho nervosa, mas era tão bonito que o dia 4 de Novembro fosse 'o' dia. Não digo mais nada para não arranjar um problema enorme”, comentou Moedas em Fevereiro quando se celebrou um novo acordo de parceria entre a autarquia e a família de Julião Sarmento (renovável a cada cinco anos). “Vamos inaugurar, a 4 de Novembro, o novo museu Julião Sarmento”, disse novamente, desta feita em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, no final de Setembro.

Porém, a obra no Pavilhão Azul, na Avenida da Índia e perto do Centro Cultural de Belém, ainda não está terminada. Com projecto a cargo do arquitecto João Carrilho da Graça, por decisão expressa de Julião Sarmento, seu amigo, o edifício, um antigo armazém de alimentos, é propriedade da CML. Estava devoluto e supõe-se que remonte ao final do século XIX. Está inserido na Zona Especial de Protecção da Torre de Belém e chamou a atenção do artista e coleccionador em 2015.

O projecto de Carrilho da Graça prevê uma sala de exposições principal no rés-do-chão e com 365 m2, outras duas salas de exposições entre a cave e o primeiro andar, com 100 e 172 m2, respectivamente, e ainda uma área de reservas para o acervo, com 183 m2.

“Para mim, uma colecção de arte faz sentido se as obras puderem ser vistas pelas pessoas”, dizia em 2017 Julião Sarmento ao PÚBLICO sobre o acordo a assinar com a CML. O edifício “foi o primeiro lugar que me mostraram e pareceu-me perfeito, muito bem localizado e com uma escala certa, uma escala humana” e onde irão morar as obras que foi comprando (meros 5%, como disse ao PÚBLICO na altura), mas sobretudo trocando com artistas seus contemporâneos ou por oferta de agentes do sector, bem como exposições que integram a futura programação própria do Pavilhão Azul.

A Colecção Julião Sarmento começa em 1967, quando o arista era estudante universitário, e é multidisciplinar. Pintura, instalação, vídeo, escultura e outras expressões artísticas figuram numa colecção que reúne Andy Warhol, Marcel Duchamp, Robert Frank, Marina Abramovic, Cindy Sherman, Nan Goldin, Joaquim Rodrigo, Miquel Barceló, Álvaro Lapa, Eduardo Batarda, Rui Chafes, Bruce Nauman, Joseph Beuys, Pierre Bonnard, Cristina Iglesias ou Adriana Varejão.

O PÚBLICO contactou a assessoria de comunicação de Carlos Moedas sobre a inauguração do centro, mas até à hora de publicação deste artigo não obteve resposta.

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