As buscas e os trabalhos de resgate de um número indeterminado de pessoas que continuam desaparecidas depois das chuvas torrenciais que afectaram o Sul e o Leste de Espanha foram retomados esta manhã. Segundo o último balanço das autoridades, pelo menos 104 pessoas morreram desde terça-feira depois de um ano de chuva ter caído em cerca de oito horas.
No terreno está uma unidade com mais de mil militares, além de milhares de polícias e bombeiros. As equipas estão a vasculhar os destroços de veículos que ficaram submersos em lama ao lado de estradas e campos inundados e está a ser utilizada maquinaria pesada para limpar as ruas, como mostram as imagens transmitidas pelas televisões.
A grande maioria das vítimas (101) foi registada na Comunidade Valenciana, onde esta manhã foram encontrados oito corpos dentro de uma garagem no bairro de La Torre, cidade de Valência. Morreram ainda duas pessoas na região central de Castela-La Mancha e uma outra vítima mortal foi registada na Andaluzia. Entre os 104 mortos confirmados até às 14h locais (13h em Portugal continental), quatro eram crianças.
O gabinete de crise do Ministério do Interior espanhol acredita que os efeitos da tempestade ultrapassaram “o ponto de gravidade máxima” e o clima calmo regressou a algumas regiões mais fustigadas, mas ainda há uma zona sob aviso vermelho da Agência Estatal de Meteorologia de Espanha (AEMET) a motivar preocupação: Castellón, na Comunidade Valenciana.
Às 13h30 locais (12h30 em Portugal continental), a AEMET mantinha uma previsão de precipitação acumulada ao longo de 12 horas de 180 litros por metro quadrado em Castellón.
Foi entretanto emitido um alerta especial pelo Centro de Coordenação de Emergências da Comunidade Valenciana, devido ao aumento dos caudais dos rios e barrancos na província de Castellón, apelando à população para que permaneça em zonas altas.
Mantêm-se ainda sob aviso laranja da AEMET várias zonas de Teruel (Aragão), Tarragona (Catalunha), Cádis e Huelva (Andaluzia).
As autoridades locais não divulgaram o número exacto de pessoas desaparecidas depois das cheias mais mortais da Europa dos últimos anos. Na noite desta quarta-feira, a ministra da Defesa, Margarita Robles, já tinha alertado que o número de vítimas mortais (então de 95) deveria voltar aumentar com o avanço das operações de busca.
O executivo pediu às populações das zonas afectadas pelo mau tempo para não saírem de casa e, sobretudo, não tentarem circular pelas estradas, sublinhando que o temporal ainda permanece e os seus efeitos continuam a ser perigosos.
Em Valência, a região mais fustigada pelas chuvas repentinas, milhares de pessoas continuam sem energia e os danos materiais são incalculáveis — há pontes, estradas, ferrovias e edifícios destruídos. Há muitas estradas cortadas, já que centenas de automóveis foram arrastados pelas chuvas e o serviço ferroviário de alta velocidade para Madrid e Barcelona foi suspenso. Há ainda 30 mil famílias sem acesso à rede de telecomunicações na região.
Depois de anunciar três dias de luto nacional e declarar a região como “altamente afectada”, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, tinha na sua agenda uma visita ao Centro de Coordenação de Emergências na capital valenciana, a menos de dez quilómetros de Paiporta, uma das cidades mais atingidas e onde morreram pelo menos 40 pessoas.
Os bombeiros da região não deverão utilizar meios aéreos depois de o presidente da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, ter dito na noite desta quarta-feira que já não havia “pessoas resgatáveis visíveis do ar”. Também já não existem centros urbanos a que as equipas de resgate não consigam aceder.
As estradas que permanecem abertas ao trânsito nas zonas afectadas estão reservadas aos serviços de emergência, especialmente na província de Valência, onde até ao final do dia de quarta-feira foram efectuadas 70 evacuações aéreas e 200 resgates terrestres. As autoridades locais sublinharam ainda que, tratando-se de um fenómeno de torrente, não existem “perigos graves de envenenamento ou insalubridade no abastecimento de água”.
Várias regiões de Espanha estão desde terça-feira sob a influência de uma “depressão isolada em níveis altos”, um fenómeno meteorológico conhecido como DANA em castelhano, que causou chuvas torrenciais e danos em diversos pontos do país, sobretudo na costa do Mediterrâneo. Com Lusa