Família reunida em lágrimas após as inundações catastróficas em Espanha

Várias regiões espanholas estão sob a influência de uma “depressão isolada em vários níveis” desde terça-feira. As inundações já causaram 158 mortes e destruiram milhares de casas, pontes e estradas.

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Pessoas ao lado de carros amontoados numa rua residencial, na sequência de chuvas torrenciais, em Alfafar, região de Valência, Espanha, a 31 de Outubro de 2024 Miguel Pereira / REUTERS
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Francisco Baixauli demorou dois dias a percorrer os 30 quilómetros entre o local de trabalho e a sua cidade natal de Alfafar, em Valência, batalhando a pé entre lama, destroços e carros destruídos, após as catastróficas inundações no leste de Espanha que já matou mais de 150 pessoas.

A sua chegada, de mochila às costas, provocou lágrimas de alegria da mulher e do filho, que temiam pela sua vida, especialmente na fase inicial das cheias na passada terça-feira.

"Estávamos com muito medo porque o meu marido não chegava a casa e não sabíamos onde ele estava, vimos a água a descer e a subir, vimos pessoas desesperadas, algumas a correr para tentar chegar a casa, os carros a serem arrastados pelas ruas", comentou Angela Munoz, a mulher de Francisco Baixauli à Reuters. "Depois ficamos sem electricidade, sem água, e ficamos ali presos sem saber o que ia acontecer".

Espanha emitiu outro aviso de tempestade para esta quinta-feira para a parte da região oriental de Valência, onde caiu um ano de chuva em apenas oito horas na passada terça-feira. As equipas de resgate continuam a procurar pessoas desaparecidas nos campos inundados e nos carros encalhados após as inundações mais mortíferas da história contemporânea espanhola.

De regresso do porto de Sagunto, Baixauli, de 53 anos, teve de ficar num bairro a apenas cinco quilómetros de Alfafar, o "único sítio onde conseguia chegar", explicou. "Telefonei à minha mulher e ao meu filho e soube que estavam bem em casa e que não era possível chegar até aqui hoje [quinta-feira]", acrescentou à Reuters.

Reunida e acompanhada pelo seu cão, a família inspeccionou as ruas mais próximas onde alguns dos seus vizinhos estavam a limpar os escombros. "Não tínhamos água até hoje [quinta-feira] e não temos electricidade, estamos a comer sandes há dois dias... Os alimentos do frigorífico estão podres e nem sequer podemos tomar banho", concluiu Munoz.

Mortes ultrapassam 150

Na tarde desta quinta-feira, as autoridades espanholas confirmaram que o número de mortes em Espanha subiu para 158. Mais de mil militares, bombeiros e polícia retomaram esta manhã as operações de resgate e limpeza. A maioria das vítimas foi registada na comunidade valenciana. Os números podem subir no decorrer das operações de busca, segundo explicou esta quarta-feira Margarita Robles, Ministra da Defesa.

A Agência Estatal de Meteorologia de Espanha (AEMET) mantém o aviso laranja para várias zonas espanholas. O Centro de Coordenação de Emergências da Comunidade Valenciana recomendou as populações a ficar em zonas altas, principalmente na província de Castellón, onde o aumento dos caudais dos rios e barrancos preocupa as autoridades. Recomendam, ainda, que populações não saiam de casa e que não tentem circular nas estradas uma vez que o temporal ainda permanece.