Lisboa trava novos alojamentos locais por seis meses até haver novo regulamento

Proposta apresentada pelo PS, votada por unanimidade, mantém suspensão. Carlos Moedas queria apresentar proposta semelhante, que foi recusada, por “não oferecer segurança jurídica”.

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Vai manter-se a impossibilidade de se registarem novos alojamentos locais na cidade de Lisboa Matilde Fieschi
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A Câmara de Lisboa aprovou, esta quarta-feira, a suspensão de novos registos de alojamento local em toda a cidade, por seis meses, com possibilidade de renovação por igual período, até à entrada em vigor da alteração do regulamento municipal para esta actividade. A proposta, que resulta de uma iniciativa dos vereadores do PS apresentada na passada segunda-feira, foi votada por unanimidade pelos 17 membros do executivo municipal.

A proposta aprovada foi votada no lugar de uma outra, apresentada nesta quarta-feira, pelo executivo liderado por Carlos Moedas (Novos Tempos). Tendo ambas o mesmo objectivo, o colectivo de vereadores acabou por eleger qual delas seria posta a votação final. Foi a dos socialistas. A vereadora do Urbanismo, Joana Almeida (PSD), prometeu, na reunião, tudo fazer, a partir de agora, para apresentar o mais rapidamente possível uma nova versão do referido regulamento.

A medida agora aprovada, na prática, mantém a suspensão de novos AL, travando os efeitos expectáveis da entrada em vigor, nesta sexta-feira, 1 de Novembro, das mudanças trazidas pelo decreto-lei que altera as regras do sector, em particular os relativos à substancial redução da possibilidade de os condóminos vetarem o exercício desta actividade no seu prédio. Se entrassem em vigor na capital, as novas regras obrigariam ao levantamento da proibição actual de novas licenças em 20 das 24 freguesias.

A aprovação desta medida, que terá ainda de ser submetida à apreciação da Assembleia Municipal de Lisboa, foi precedida de um acirrado debate sobre qual das propostas deveria ser considerada para votação final, a do PS, apresentada há dois dias, ou a da vereação de Moedas, revelada apenas no dia da reunião. Ou até se as duas deveriam ser consensualizadas no sentido de se juntarem numa proposta única. Afinal, as duas tinha o mesmo objectivo: a suspensão da autorização de novos registos de estabelecimentos de alojamento local em todo o concelho de Lisboa até à entrada em vigor da alteração ao Regulamento Municipal de Alojamento Local (AL).

Entre sugestões dos representantes dos vários partidos da oposição de esquerda de que a proposta assinada pela vereadora Joana Almeida surgia tardiamente, e de forma oportunista se tentava aliar à dinâmica de suspensão criada pela iniciativa do PS, foram dirimidas dúvidas sobre qual seria a forma mais expedita de levar a suspensão adiante. Até porque, lembraram os socialistas, a proposta do executivo chefiado por Moedas, nos termos em que estava redigida, não apresentaria a “segurança jurídica” necessária. Tal incerteza acabaria por ditar o desfecho de a maioria dos vereadores ter optado por escolher levar a votos a proposta do PS para a suspensão imediata de novos registos de AL. E que seria aprovada por unanimidade.

Mas antes dessa votação consensual, Carlos Moedas não deixaria de expressar a sua amargura por ver recusada a apreciação e a votação da sua proposta no mesmo sentido, apresentada apenas nesta quarta-feira. “Dou os meus parabéns à frente de esquerda”, ironizou. Era o reconhecimento, embora a contragosto, de que fora ultrapassado pela iniciativa socialista, apresentada na segunda-feira pela vereadora Inês Drummond como uma forma de “defender o direito à habitação em Lisboa”.

Na reunião desta quarta-feira, e no debate que antecedeu a votação da proposta, Drummond fez fortes críticas a Carlos Moedas por “apenas agora se mostrar preocupado”, quando antes se revelou contrário à aplicação de quaisquer restrições ao AL na cidade, tendo mesmo chegado a participar, no ano passado, numa manifestação em frente dos Paços do Concelho de apoio à actividade e contra a imposição de limites. “Fazem agora esta proposta, a reboque do PS, depois de terem estado em silêncio”, disse a vereadora, acusando Moedas e o PSD de “pela primeira vez fazerem algo para travar o AL”.

Moedas ainda argumentou a favor da bondade da proposta apresentada pela sua equipa, dizendo que a mesma era “muito simples, não tem complicações nenhumas, possibilitando a suspensão total de novas licenças de AL até haver o novo regulamento”. Mas as dúvidas levantadas pelo departamento jurídico da autarquia relativamente à “segurança jurídica” da mesma, lembraram as forças de esquerda, poderiam levar a câmara a “incorrer em responsabilidade civil extracontratual”. Isso acabaria por ditar a opção pela proposta do PS, que seria votada por unanimidade.

Em comunicado enviado ao princípio da noite, os socialistas saúdam a “viragem de 180 graus de Carlos Moedas, que ainda há pouco mais de um ano se juntou à manifestação dos empresários de AL, alegando que a lei agora revogada pelo Governo estava ‘a matar o Alojamento Local’”. E acrescentam: “A liberalização do AL, contra o qual Moedas hoje se insurge, nasce de um decreto do Governo PSD solicitado e apadrinhado pelo presidente da CML, que há um ano faz pressão política nesse sentido.”

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