AD de novo à frente do PS, com Chega a crescer

Diferença entre coligação governamental e socialistas ainda dentro da margem de erro. Chega volta a níveis das legislativas e o bloco da direita atinge valor mais alto do ano.

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AD liderada por Luís Montenegro ultrapassa o PS e surge quatro pontos à frente dos socialistas Nelson Garrido
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É o melhor resultado da AD – Aliança Democrática desde Fevereiro deste ano, com a coligação do Governo à frente do PS por quatro pontos percentuais. De acordo com a última sondagem do Cesop – Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP e Antena 1, se as legislativas se realizassem agora, a AD, a coligação entre PSD, CDS-PP e PPM, ficaria à frente, com 33% das intenções de voto, seguida do PS com 29%, e do Chega com 18% – que regressaria ao valor que obteve nas eleições de Março. Dado curioso: o PS cai quatro pontos e o Chega sobe os mesmos quatro.

Os valores das intenções de voto na AD apontam uma tendência de subida desde as legislativas de Março, ainda que vagarosa. Um mês antes das eleições, as sondagens do Cesop mostravam intenções de voto de 33% e 34%; depois, a AD obteve 28,02% nas urnas; nas sondagens seguintes obteve 30% em Maio, e 31% dois meses depois. Agora, chega aos 33%.

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Já o PS mostra uma oscilação em torno dos 28% e 29%, tendo apenas em Julho ascendido ao primeiro lugar (pela primeira vez desde o início do ano) com 33%. Agora volta a cair, ficando quatro pontos atrás da AD. No entanto, essa diferença não permite dizer que a AD seria clara vencedora caso as eleições fossem agora: a margem de erro é de 3%, o que coloca a coligação de direita e o PS numa faixa de empate, apesar da distância de quatro pontos.

Outro dado a salientar: a subida do Chega e da AD, somada aos 6% da Iniciativa Liberal, faz com que o total de intenções de voto à direita se situe actualmente nos 57%. A esquerda (incluindo o PAN) soma apenas 41%. É a maior diferença, este ano, entre os dois campos políticos. Seria preciso recuar até Fevereiro para haver uma diferença quase tão grande, quando a direita somava 56% das intenções de voto e a esquerda tinha os mesmos 41%.

O inquérito, que envolveu 5399 abordagens a inquiridos, mas no qual apenas 1025 pessoas aceitaram participar, começou a ser feito no dia 17 e prolongou-se até dia 23 deste mês. Ou seja, o trabalho de campo foi feito já depois de conhecida a proposta de Orçamento do Estado do Governo, praticamente todo realizado após o anúncio da abstenção do PS, permitindo a sua viabilização, e em simultâneo com o congresso do PSD e parte dos distúrbios na Área Metropolitana de Lisboa na sequência da morte de um cidadão do Bairro do Zambujal, na Amadora, atingido a tiro pela PSP.

A oscilação das intenções de voto no Chega mostra alguma volatilidade do seu eleitorado, mas o facto de em três dos sete dias do inquérito os incidentes com autocarros, carros e caixotes do lixo incendiados em vários bairros problemáticos terem estado constantemente nas notícias pode ter influenciado as respostas. O partido liderado por André Ventura, que conseguiu nas eleições um resultado melhor (18,07%) do que o previsto nas duas sondagens do Cesop do início do ano, já tinha subido aos 19% em Maio, recuara aos 14% em Julho e avança quatro pontos agora.

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Pequenos mantêm valores das eleições

Quanto aos partidos mais pequenos, a IL desceu ligeiramente, de 7% para 6% (regressando a valores do início do ano e acima dos 4,94% das eleições). O Bloco, a CDU (a coligação PCP/PEV) e o PAN mantêm os mesmos valores desde Março com, respectivamente, 4%, 3% e 2%, ao passo que o Livre, depois de um boost em Maio até aos 5%, mantém agora a intenção de voto em 3%.

Ligada a este crescimento lento, mas contínuo, da coligação do Governo estará a melhoria da avaliação média que os inquiridos fazem da actuação do executivo desde Abril. Em Maio, ainda sem os acordos com as várias classes profissionais, praticamente metade (51%) dos inquiridos considerava o desempenho da equipa de Luís Montenegro "razoável", mas um quarto (24%) dizia ser "mau" ou "muito mau". Agora a percepção é melhor: há 57% que respondem ser "razoável" (igual a Julho), mas apenas 18% fazem uma avaliação negativa, enquanto um quinto (20%) diz que tem sido "bom" e 2% "muito bom".

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Para o crescimento das intenções de voto do Chega contribuirá a captação de eleitorado que se absteve em Março – o resultado do partido, que elegeu 50 deputados, foi já então muito justificado pela maior participação nas urnas. Nesta sondagem, 13% dos inquiridos que não votaram em Março responderam agora que votariam no Chega. O mesmo vale para a AD, que ganhava 18% dos inquiridos abstencionistas. A tabela de transferências de voto mostra ainda que seria o PS a captar mais apoio dos abstencionistas nas eleições antecipadas de Março (23%), mas também há 6% de eleitores socialistas que agora dariam o seu voto à AD. Assim como 7% de eleitores do Chega e outros tantos da IL que agora votariam na coligação de Montenegro.

Olhando para as respostas sobre a intenção de voto numa perspectiva sociodemográfica, a AD mantém o equilíbrio no seu eleitorado, com pequenas oscilações nas faixas etárias dos 35 aos 64 anos (25% dos inquiridos neste intervalo dizem votar AD, quando eram 23%) e nos idosos (26%), em que sobe dois pontos. Apesar do anúncio do IRS Jovem e da decisão da isenção de IMT e de imposto do selo até aos 35 anos, não houve qualquer captação de eleitorado entre os 18 e os 34 anos, onde a quota da AD se mantém nos 18%. Há, porém, um reforço de eleitores nos inquiridos com formação até ao terceiro ciclo, de 18 para 21%.

O facto de ter criticado a isenção de IMT e de ser abertamente contra a proposta de redução do IRS Jovem do Governo da AD terá custado ao PS apoio entre esses eleitores. Se em Julho 12% dos inquiridos entre os 18 e os 34 anos votariam PS, agora são apenas 7%; na faixa acima, dos 35 aos 64 anos, reduzem-se de 23% para 20%. Já a proposta de um aumento extraordinário de 1,25% nas pensões em 2025 feita por Pedro Nuno Santos como alternativa à baixa do IRS Jovem do Governo, será uma explicação para o reforço da votação no PS entre os mais idosos, de 31% para 34%.

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