Julgamento de Gérard Depardieu foi adiado por motivos de saúde

O actor e ícone do cinema francês está acusado de violência sexual por duas mulheres não identificadas. Tribunal acedeu ao pedido da defesa do actor e remarcou o julgamento para Março de 2025.

Foto
Gérard Depardieu nega todas as acusações de que vem sendo alvo CHARLES PLATIAU/Reuters
Ouça este artigo
00:00
03:57

O julgamento de Gerárd Depardieu por violência sexual foi adiado para 24 e 25 de Março do próximo ano. Uma primeira sessão do caso chegou a ter início esta segunda-feira em Paris, sem a presença do réu. Segundo a agência noticiosa Associated Press, a defesa do actor francês de 75 anos pediu o diferimento do julgamento por seis meses alegando motivos de saúde, tendo obtido a concordância do presidente do colectivo de juízes. Em causa estão "problemas cardíacos" e "problemas relacionados com diabetes", agravados pelo stress do processo judicial, que levaram os médicos de Depardieu a declarar que este não em condições de comparecer em tribunal.

O actor, ícone do cinema francês e internacional, está a ser acusado de violência sexual por duas mulheres não identificadas, agressões que terão acontecido na rodagem do filme de 2022 Les Volets Verts, de Jean Becker. A defesa de Depardieu diz que o actor, que mantém a sua inocência e alega nunca ter "abusado de uma mulher" na vida, está demasiado doente, mas garante que as provas e testemunhas que apresentará em tribunal irão ilibá-lo.

O jornal francês Le Monde acrescenta que o presidente do colectivo de juízes ordenou que o actor se submeta a uma perícia médica, a realizar até 4 de Março do próximo ano. Recentemente, e segundo os seus advogados de defesa, Depardieu terá sido submetido a "uma quádrupla cirurgia de bypass coronário".

Ainda segundo o mesmo diário parisiense, a sessão desta manhã ficou marcada por protestos que juntaram "à volta de uma centena de pessoas" à porta do tribunal francês, "na sua vasta maioria" mulheres. O Le Monde cita a activista feminista Anna Toumazoff, que afirmou: "Estamos aqui para dizer às vítimas de Gérard Depardieu: 'estamos convosco'. Para todas aquelas que não tiveram um julgamento, todas aquelas cujas queixas não foram aceites, todas aquelas que têm medo de apresenta queixa, todas aquelas que ainda não conseguiram falar: estamos convosco."

É um dos maiores casos do movimento #MeToo em França, este que tem como protagonista um popular actor no activo desde o final da década de 1960. Segundo a acusação, Depardieu terá apalpado de forma violenta as duas mulheres, às quais terá também dirigido comentários sexualmente explícitos. A defesa alega que estas acusações são falsas e acusa uma das mulheres de só querer dinheiro, ao pedir 30 mil euros de compensação.

Mas este não é o único julgamento que aguarda o actor: em 2025, será julgado pelo crime de violação, em duas ocasiões, da actriz Charlotte Arnould. Também a actriz Hélène Darras o acusou de assédio sexual e relatou vários apalpões nas filmagens de Disco (2007); por sua vez, a jornalista espanhola Ruth Baza apresentou queixa-crime por uma violação que terá tido lugar numa entrevista em 1995. E há várias outras acusações, mais de 15, contra o actor que trabalhou, dentro e fora do seu país, com cineastas como Jean-Luc Godard, Claude Chabrol, Maurice Pialat, François Truffaut, Bernardo Bertolucci, Ridley Scott, Marguerite Duras, Alain Resnais, André Techiné, Mario Monicelli, Andrzej Wajda, Peter Weir, Agnès Varda ou Norman Jewison.

Em Dezembro do ano passado, uma carta aberta publicada no jornal Le Figaro, e assinada por nomes como Charlotte Rampling, Paulo Branco ou Carla Bruni, insurgia-se contra um "linchamento" do actor, alegando que tais acusações representam "a morte da arte". O próprio Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu Depardieu, dizendo que este está a ser alvo de "uma caça ao homem". Outra carta, saída depois no Le Monde, feita pela associação MeTooMedia, falava em "impunidade", lembrando que o actor está a ser investigado por casos deste tipo desde 2020. No mesmo mês, a actriz e realizadora Sophie Marceau disse à revista Paris Match que Depardieu "atacava" não as grandes actrizes, que por isso não o condenam, mas sim "as assistentes". "A vulgaridade e a provocação sempre fizeram parte dele", resumia a actriz, que também o acusou de tentar humilhá-la quando tinha 19 anos, durante a rodagem de um filme de Pialat.

Notícia actualizada às 17h, dando conta do adiamento do julgamento a pedido da defesa de Gérard Depardieu

Sugerir correcção
Comentar