Celebrando 50 anos de carreira no Teatro da Paz

No espetáculo Fafá de Belém a filha do Brasil, canto músicas que fizeram parte de trilhas sonoras de novelas. Uma história que começou há 50 anos com a canção Filho da Bahia, na novela Gabriela.

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Hoje estou aqui em Belém do Pará, minha terra natal, começando as comemorações de 50 anos de carreira. São as primeiras apresentações de Fafá de Belém a Filha do Brasil. Como muitas coisas na minha vida, a minha carreira começou por acaso. Após tantos anos, ainda tremo antes de subir no palco da grande sala de espetáculos da minha terra, que é o Teatro da Paz. Um dos teatros mais bonitos do Brasil e, ouso dizer, um dos teatros mais bonitos do mundo. Foi construído no final de 1800 para dar palco às companhias de ópera, balé e operetas. Grandes montagens que vinham da Europa de navio. Construiu-se essa ópera, absolutamente cabocla. Uma sala fabulosa com todos os elementos amazônicos presentes. O Brasil em cada detalhe. Um ex-libris da minha terra.

Foi dirigido durante anos pelo grande compositor Valdemar Henrique, o nosso maior compositor erudito. Maestro Valdemar cantou todas as lendas da Amazônia, de forma delicada e profunda. Muitas vezes assediado por Villa-Lobos para fazer parte do seu grupo de compositores, Valdemar ficou aqui. Sentava-se na Praça da República, onde fica o Teatro da Paz, olhando o movimento das folhas das mangueiras, vendo a lua nascer de uma forma absolutamente integrada a essa cidade. Homem de uma sofisticação gigantesca, a quem dediquei o meu primeiro álbum, Tambatajá, um clássico escrito por ele, que cantávamos já na infância nas primeiras aulas de música da escola. Quando eu subir daqui a pouco no palco do Teatro da Paz, tudo isso estará na memória. Na minha alma.

Voltar para casa é sempre uma situação estranha. Nunca pensei em ser cantora, embora, a música sempre foi uma companheira e amiga fiel. Desde que eu tenho nove anos de idade. Na música me refugiei e ela me ensinou a dizer coisas que não sabia escrever. Algum poeta transformou a sua emoção em palavras, em poesia e versos. Outro transformou em música. A música é minha amiga e confidente desde muito cedo. Com ela eu posso gritar amores que deram certo, gritar que fui abandonada, falar de dores e alegrias, sem ter que assumir que são minhas, mas sempre são minhas. Nunca consegui cantar o que não sinto. Nunca consegui gravar o que não vivi.

Eu olho para trás e vejo um caminho tortuoso. A minha carreira e vida jamais serão em linha reta. É cheia de atalhos, pontes e caminhos interrompidos. Sou essa pessoa e só o que me faz poder falar sobre mim é a música, apaixonada e visceral. Sou uma cantora popular com influências musicais diversas, música erudita, jazz, das grandes cantoras brasileiras do rádio e da música da minha terra. Muitas vezes fui julgada. Pretenderam que eu fosse uma pessoa que não sou. Não consegui entender. Fui julgada e aplaudida muito cedo. Cancelada muito cedo, também.

Volto a Belém sempre. Adoro a minha terra. Troquei meu nome para Belém quando saí daqui há 50 anos, levando comigo minha música e meus autores. Saí daqui de pés descalços, com o facão abrindo trilha, na companhia das minhas músicas. Paulo André e Rui Barata foram meus grandes parceiros, de grandes canções. Nesse espetáculo, A Filha do Brasil, canto trilhas de novelas brasileiras. Eu nasci numa trilha de novela, com a música Filho da Bahia, da novela Gabriela. Uma memória muito forte me vem de tudo, de cada pedra, de cada alegria, de cada momento que essa estrada foi calçada. Agradeço a Deus e ao povo do Pará, que sempre esteve comigo. Eu faço o que quiser. Canto de Tom Jobim a Chitãozinho e Xororó. De Vinícius de Moraes a Valdemar Henrique e Zé Augusto. Sempre canto Belém do Pará. Me desejem boa sorte, meu coração está aos pulos. Na próxima vez, conto como foi. Voltar para casa é sempre delicado. Volto para juntar pedaços... sempre.

Com amor da sua Fafá.

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