O Relatório Draghi e os desafios colectivos para o futuro da Europa

Conferência no Politécnico do Porto pôs em evidência as orientações de Mario Draghi como ferramenta essencial na coesão do futuro europeu.

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O Relatório Draghi, defendeu o presidente do IPP Paulo Pereira, é “uma peça fundamental para moldar o futuro da Europa e de Portugal”. Jaime Neto/IPP (DR)
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Uma reflexão sobre o futuro da Europa através das orientações de Mario Draghi e da sua aplicação ao contexto português. Foi esta a proposta do Politécnico do Porto (IPP), em parceria com o PÚBLICO e com a EY Portugal, para a conferência "Relatório Draghi: uma leitura nacional em fase de OE 2025”. Com o actual cenário de incertezas políticas e económicas, o Relatório Draghi é visto como “uma peça fundamental para moldar o futuro da Europa e de Portugal”, como destacou Paulo Pereira, presidente da instituição de ensino superior, na antecipação da conferência. A importância de promover a discussão pública de forma alargada, para que seja clara a importância de determinadas medidas na vida social, foi um dos principais propósitos do evento.

Inovação, descarbonização, cooperação

A necessidade urgente de uma maior articulação entre academia e indústria, de modo a aumentar a transferência de inovação para a economia, foi sublinhada por Paulo Pereira, na sua introdução. Segundo Draghi, a Europa enfrenta desafios críticos, como a dependência de matérias-primas e a crescente competitividade de países como a China no sector da tecnologia.

O relatório sugere uma "duplicação dos investimentos em pesquisa”, citou Pereira, e a criação de infra-estruturas de larga escala para enfrentar essa lacuna na inovação. Referiu também, inevitavelmente, a descarbonização – um dos principais focos de Draghi – como uma oportunidade crucial para equilibrar sustentabilidade e competitividade industrial. Especialmente diante dos "altos custos de energia na União Europeia", que chegam a ser "cinco vezes superiores aos dos EUA", o processo de descarbonização tem um impacto directo na competitividade das empresas. A aposta em tecnologias emergentes como a inteligência artificial, por exemplo, é outra das apostas sugeridas no relatório e destacada por Paulo Pereira.

Sobre as linhas gerais do relatório, Paulo Ferraz, administrador do IPP, e Hermano Rodrigues, da EY Portugal, deixaram algumas notas sobre o que consideram um diagnóstico da situação económica da Europa. Paulo Ferraz começou por destacar que “uma das questões muito presentes no relatório, ligada à competitividade, tem que ver com o abrandamento do crescimento económico na Europa”. Perante dados comparativos, o crescimento acentuado da China e o declínio da Europa e dos Estados Unidos ao longo dos últimos 20 anos são evidentes. A importância da produtividade, que representa “cerca de 70% da divergência do PIB per capita entre os Estados Unidos e a Europa”, foi outro dos pontos que destacou.

Sobre os desafios que a Europa enfrenta, Hermano Rodrigues nomeou a inovação e os custos da energia como dois dos principais. “O preço da energia na Europa é duas a três vezes superior ao dos Estados Unidos e, no caso do gás, quatro a cinco vezes superior”, afirma. Essa disparidade tem impacto directo na competitividade das empresas, o que traz de novo à conversa a descarbonização da economia como resposta a esta desvantagem, por via do recurso a energias limpas.

O “gap de competências” foi outro dos temas sobre a mesa, acerca do qual o principal da EY sugeriu que “a Europa não tem feito um trabalho suficiente e consistente para alinhar essas competências com as necessidades do mercado”. Por essa razão, o alinhamento entre as instituições de ensino superior e o sector empresarial foi apontado, também, como essencial – e, nesse sentido, à margem da conferência foi firmado um protocolo de cooperação entre o IPP e a EY com vista ao estreitamento de relações entre conhecimento e indústria.

A questão do financiamento, da necessidade de repensar a governança europeia, priorizando a competitividade e a eficiência nos investimentos, foi referida como mote para o debate que se seguiu.

Orientações europeias na estratégia nacional

O contexto do Orçamento do Estado de 2025 foi apontado como um momento crucial para alinhar estratégias nacionais com as recomendações do relatório de Draghi. Com moderação do jornalista Manuel Carvalho, do PÚBLICO, o painel de debate juntou nomes conhecidos nas áreas da economia e das finanças. Nazaré da Costa Cabral começou por confessar um certo “desencanto” com o cenário a analisar. A conversa com Isabel Ucha, João Neves, Luís Miguel Ribeiro e Silva Peneda acabou por tocar em vários pontos que reflectem a adequação das orientações de Draghi ao contexto português.

A concentração de indústrias emergentes nos países mais desenvolvidos da Europa agrava a desigualdade económica em relação a países como Portugal, que corre o risco de uma certa marginalização. Esta disparidade é vista como um desafio estratégico, especialmente quando combinada com divergências políticas que dificultam uma resposta unificada e eficaz por parte dos membros da União Europeia.

O financiamento e a fiscalidade foram, por isso, amplamente discutidos. Foi salientada a importância de canalizar melhor as poupanças europeias para investimentos produtivos. A falta de fundos robustos, especialmente em comparação com os Estados Unidos, foi apontada como uma fraqueza estrutural, que impede a Europa de financiar adequadamente sectores como a inovação.

Em jeito de conclusão, os oradores destacaram a necessidade urgente de reformas institucionais e de uma liderança forte para guiar a Europa através dos desafios económicos e tecnológicos. Sem uma coordenação adequada entre políticas fiscais e monetárias e sem um esforço conjunto para aumentar os investimentos, a Europa corre o risco de ficar ainda mais para trás em relação aos seus concorrentes globais, como os Estados Unidos e a China.

O PÚBLICO foi parceiro de media desta conferência, promovida pelo Politécnico do Porto e pela EY Portugal. O evento está disponível para visualização em publico.pt/aovivo.​

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