Fezes, cocaína e laca de cabelo na cannabis do mercado europeu ilegal

Mais de 50% das amostras de cannabis vindas de 50 cidades europeias, inclusive Lisboa, deram positivo para pesticidas tóxicos. Mais de 60% continham vestígios de fezes humanas e bactérias.

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De 253 amostras, apenas 74 foram consideradas limpas e seguras Adriano Miranda (arquivo)
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Apenas 29% das amostras de cannabis, vindas de mercados ilegais de 50 cidades europeias, foram consideradas seguras e limpas. Fezes, pesticidas, laca de cabelo e outras drogas ilegais (como cocaína e MDMA) estão entre os vestígios mais encontrados, avança um novo estudo do Sanity Group, que se dedica a investigar canabinóides.

A investigação ocorreu ao longo de oito meses e foram testadas 253 amostras oriundas de 30 cidades alemãs e de outras 20 cidades, de diferentes dimensões, um pouco por toda a Europa, incluindo Lisboa. O estudo, divulgado nesta quinta-feira, revela que apenas 74 amostras foram consideradas seguras.

Fezes humanas e de animais, bactérias e vírus (como salmonela, gripe, covid-19 e E.coli), pesticidas ilegais na União Europeia — conhecidos por potenciarem cancros e infertilidade — e laca de cabelo foram alguns dos componentes mais encontrados. Também foi registada a presença de restos de outras drogas, como cocaína, metanfetamina, MDMA e cetamina, o que aponta para uma contaminação da cannabis durante o acondicionamento.

No caso de Lisboa, a única cidade portuguesa investigada, foram testados cinco exemplares. Apenas um foi considerado seguro. Nestes, foram encontrados vestígios de cocaína, MDMA, laca de cabelo e fezes humanas.

No panorama geral, foram 50% as amostras que deram positivo para pesticidas, bem como para laca de cabelo, tendencialmente colocada na cannabis para melhorar o seu aspecto estético. O vestígio mais encontrado foi, contudo, o de fezes humanas e bactérias associadas, presentes em cerca de 60%.

“[Estes valores] são alarmantes. Indicam claramente que a maior parte da cannabis do mercado negro é embalada em condições insalubres, o que realça a necessidade de uma acção rápida para dar aos consumidores acesso a cannabis produzida segundo normas de segurança”, afirmou Finn A. Hänsel, fundador do Sanity Group, em comunicado enviado ao PÚBLICO.

A Alemanha legalizou a posse e cultivo de cannabis em 2024. No entanto, o estudo aponta para que 92% do consumo continue a passar pelo mercado negro.

A investigação contou com mais de 200 voluntários de todas as cidades envolvidas. Depois de um recrutamento através do Reddit, foi pedido aos voluntários que filmassem a abertura do saco da cannabis recém-comprada e usassem um carimbo para identificar a hora e o local de abertura. De seguida, os voluntários seguiram regras rigorosas para garantir a integridade da amostra.

Finn A. Hänsel considera que os estudos que se debrucem sobre a cannabis são um passo crucial para aumentar a sensibilização e promover acções para um consumo mais seguro.

Os vestígios encontrados na cannabis podem causar inúmeros malefícios para a saúde do consumidor. Além dos efeitos conhecidos do consumo de drogas como cocaína e MDMA e dos perigos de infecção por e.coli, influenza e covid-19, a inalação de pesticidas pode causar problemas neurológicos e de desenvolvimento, bem como irritação da pele e olhos e efeitos a longo prazo no fígado e rins.

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