Pedro Nuno Santos diz que primeiro-ministro não pode abordar segurança “só pelo prisma da repressão”
Pedro Nuno Santos, em entrevista à RTP3, condenou desacatos em Lisboa, pediu cautela sobre o assunto e criticou os anúncios feitos por Montenegro no Congresso do PSD.
O secretário-geral do PS, esta quarta-feira, considerou “muito importante” que o primeiro-ministro olhe para o tema da segurança “não apenas do lado da repressão”, mas também da integração social, e condenou os desacatos na Grande Lisboa.
“É muito importante que quem tem responsabilidades a chefiar um Governo não se concentre apenas no tema da segurança apenas do lado da repressão, mas também ter a capacidade de perceber o que é que está a acontecer na sociedade portuguesa e aquilo que nós temos de fazer para promover a coesão social, a harmonia, a integração social”, declarou Pedro Nuno Santos numa entrevista na RTP3 conduzida pelo jornalista Vítor Gonçalves, esta quarta-feira à noite.
Os comentários do secretário-geral do PS foram feitos no âmbito da proposta de criação de equipas multidisciplinares, anunciada pelo primeiro-ministro este fim-de-semana no 42º Congresso Nacional do PSD, e sobre se considera que pode ser uma maneira de responder aos desacatos que estão a decorrer na Grande Lisboa.
Pedro Nuno Santos salientou que, ao longo dos últimos anos, tem sido feito investimento em equipas multidisciplinares e frisou que não se deve esquecer que Portugal é um dos países mais seguros, apesar de reconhecer que “tem problemas, que devem ser atacados”.
“Não só do lado da punição, do lado repressivo, mas obviamente também, antes disso, em conseguirmos construir uma sociedade com maior coesão e maior harmonia. Isso depende também dos políticos, de nós, das declarações que fazemos”, frisou Pedro Nuno Santos.
Referindo-se ao líder do Chega, André Ventura, o secretário-geral do PS frisou em particular que, “quando um político tenta apenas explorar um caso de insegurança real para alimentar uma percepção da qual possa beneficiar, alimentando o medo entre os portugueses, isso é o pior caminho para defender a qualidade da democracia portuguesa”.
“Eu não estou, e atenção, a equiparar os discursos do senhor primeiro-ministro aos discursos do líder da extrema-direita. Essa equiparação eu não faço”, ressalvou.
Nesta entrevista, o líder do PS pediu serenidade e condenou os desacatos que estão a decorrer na Grande Lisboa, manifestando “todo o apoio para que seja reposta a ordem” e considerando que, apesar de a “revolta e a expressão dessa revolta ser legítima”, deixa de ser útil “quando é expressa através do incumprimento da lei e da desordem”.
Sobre o caso da morte de Odair Moniz, morto após ter sido alvejado por um agente da PSP, o secretário-geral do PS pediu cautela nas conclusões, salientando que “há inquéritos, há uma investigação em curso”.
“Nós devemos esperar com serenidade para não corrermos o risco de sermos injustos, nem com a memória de quem morreu, nem com o agente da PSP”, afirmou, defendendo que é preciso ter “empatia desde logo com a família da vítima", mas salientando também que “não se pode ignorar o facto de o agente policial envolvido ser um jovem com 20 anos, com um ano de exercício da sua actividade profissional”
Apelando a que seja feito “um debate sobre a segurança em Portugal e sobre as condições de vida de uma grande parte dos portugueses”, o líder do PS defendeu que devem ser discutidas as condições a ser dadas às forças de segurança para “fazer cumprir a lei e garantir a ordem e a segurança de todos”.
“Ao mesmo tempo que nós não podemos deixar de olhar para fenómenos de exclusão social, de discriminação, de pobreza que nós temos em Portugal e também de racismo que existe no nosso país e de violência nas forças de segurança”, disse.
Nesta entrevista, Pedro Nuno Santos criticou ainda os anúncios feitos por Luís Montenegro no Congresso do PSD, lamentando que o primeiro-ministro não tenha apresentado “nenhuma visão para o país”.
“Foi apresentada uma lista de compras, uma lista de medidas. Aquilo que parecia é que ele estava preocupado não tanto com uma visão para Portugal, mas sim em identificar diferentes públicos aos quais queria responder com medidas emblemáticas”, criticou.