Zelenska condena “inacção” do mundo face à deportação das crianças ucranianas

Por causa da Ucrânia, hoje sabemos que é preciso “tomar o que a Rússia diz como uma ameaça e não como apenas retórica”, afirmou a primeira-dama ucraniana nas Conferências do Estoril.

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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a primeira-dama da Ucrânia, à chegada para a sessão de abertura da 9.ª edição das Conferências do Estoril ANTÓNIO PEDRO SANTOS / LUSA
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Olena Zelenska voltou a Portugal e falou nas Conferências do Estoril ANTÓNIO PEDRO SANTOS / LUSA
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Uma guerra obriga quem a vive a “reavaliar” as suas prioridades e a própria “noção de tempo”, quando é preciso “tomar decisões críticas em minutos”, mas “a agonia” do quotidiano “alonga o tempo para uma provação sem fim”. O “tempo tem um preço profundo, o preço da vida” e a discussão “pode levar à tragédia se a acção for adiada”, defendeu Olena Zelenska, a primeira-dama da Ucrânia, de regresso a Portugal, nesta quinta-feira de manhã, na edição 2024 das Conferências do Estoril, uma iniciativa da câmara de Cascais e da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

Numa intervenção intitulada “Como manter vivo o espírito de uma nação face a quase 1000 dias de conflito contínuo”, Zelenska falou da importância do debate, mas sublinhou que “a reflexão prolongada pode levar ao perigo”, quando “o agressor é tolerado e ganha tempo para propagar as suas narrativas e cometer mais violência”.

Para a primeira-dama do país que a Rússia invadiu em Fevereiro de 2022, “talvez a face mais triste da invasão seja a deportação sistemática” das crianças ucranianas. “As nossas crianças, 19 mil foram levadas para a Rússia”, recordou. Este foi “um acto testemunhado pelo mundo, mas que recebeu acção insuficiente”, disse, sublinhando a necessidade de “avaliar criticamente a eficácia das organizações internacionais e das suas respostas, ou melhor, a sua inacção”.

“Apanhar um táxi para o aeroporto, apanhar um avião e chegar a Portugal em apenas quatro horas”, como costumava ser possível, descreveu Zelenska, no início da intervenção, depois de ser recebida pela audiência que se levantou para a aplaudir. “Em comparação, um míssil russo pode atingir uma família em Kharkiv [a segunda maior cidade da Ucrânia, no Nordeste do país] em menos de 30 segundos”, no mesmo país, na mesma guerra. Ao mesmo tempo, em regra “não há mais de dois minutos para estancar o sangramento de uma pessoa ferida num bombardeamento”.

A Ucrânia “tem lições terríveis para partilhar”, disse a mulher do Presidente Volodymyr Zelensky. Por causa da Ucrânia, hoje sabemos que é preciso “tomar o que a Rússia diz como uma ameaça e não como apenas retórica”.

Descrevendo a Rússia como um império que “tem um centro, mas não tem fronteiras, quer sempre expandir-se”, Zelenska repetiu uma mensagem frequente do marido: “Quer os países ocidentais tenham a coragem de o admitir ou não, eles só estão seguros porque a Ucrânia continua a lutar”. E não pode parar, também porque “a paz não chega quando o país que o invadiu ainda lá está, isso é ocupação”.

Em causa não está apenas a Ucrânia, mas a segurança da nossa comunidade global”, disse. “Nenhum crime está demasiado distante para nos preocupar a todos e cada acto de violência representa uma ameaça à nossa humanidade”, afirmou. “Se nos comprometermos com a acção, podemos aproximar-nos da paz”, afirmou.

Entretanto, é preciso resistir. Na Ucrânia, afirmou, a resiliência já “não se define pela coragem individual, mas pela determinação colectiva de viver em guerra”. O que é que isso quer dizer? Um exemplo: “Independentemente das dificuldades, as nossas crianças estão a estudar”, sublinhou. “Queremos que elas tenham um futuro.”

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