Mudança de ciclo político “não teve qualquer impacto” nas relações com Espanha

Em Faro estarão, nesta quarta-feira, 13 ministros portugueses e 12 espanhóis, acompanhados pelos respectivos líderes de Governo, para a 35ª cimeira entre os dois países.

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Social e economicamente, os dois estados “nunca estiveram tão bem”, garante ao PÚBLICO o embaixador de Espanha em Portugal, Juan Fernández Trigo Rui Gaudêncio
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Em Março de 2023, a última cimeira luso-espanhola celebrou-se na ilha canária de Lanzarote com uma ideia latente de fim de ciclo. O alinhamento entre socialistas ibéricos parecia ter os dias contados, visto que as eleições que se aproximariam em Espanha – e que celebraram a 23 de Julho – faziam antever o fim de Pedro Sánchez, amarrado às más sondagens. Contra as previsões, esta quarta-feira, Sánchez estará em Faro provando que, tal como Costa, é um político com sete vidas, cujas notícias da morte política se revelaram manifestamente exageradas. Quem não está é António Costa, numa reviravolta que ninguém previra há 19 meses.

Mudando o Governo em Portugal não houve turbilhão nas relações entre parceiros ibéricos: "não teve qualquer impacto" garante o governo de Espanha. O único percalço nos últimos meses teve contornos de anedota, com a reivindicação de Olivença e Talega por parte do ministro da Defesa, Nuno Melo. Resolvido o imbróglio do ministro que afinal vestia a farda de dirigente partidário quando estava num acto oficial, parece que a reivindicação ficou resumida a uma nota de rodapé nos livros de história das relações ibéricas. Social e economicamente, os dois estados “nunca estiveram tão bem”, garante ao PÚBLICO o embaixador de Espanha em Portugal, Juan Fernández Trigo.

Em Faro estarão, nesta quarta-feira, 13 ministros portugueses e 12 espanhóis, acompanhados pelos respectivos líderes de Governo, para a 35.ª cimeira entre os dois países. Do encontro de dois dias em Lanzarote passamos para a cimeira de uma manhã com almoço incluído. A eficácia de uma reunião deste género não se mede pelo tempo despendido nela – até porque o trabalho já vem sendo feito há meses em reuniões sectoriais e encontros entre governantes e técnicos – mas o contacto frente a frente das várias delegações ajuda a fomentar laços entre políticos que gerem a mesma península, mas que pouco se interessam pelo que se faz do lado de lá da fronteira. Já o escasso tempo do encontro dá um sinal de como há assuntos internos que, para os dois lados, são mais prioritários tratar.

O cenário governativo dos dois lados da raia também tem as suas semelhanças, ainda que o horizonte de estabilidade seja bem diferente. As maiorias pífias que sustentam os executivos tornam difícil a legislatura, numa necessária negociação constante com forças políticas que somam interesses por vezes contraditórios.

Mas faz sentido olhar para a diferença num ponto em específico: em Espanha, já se admite governar até ao fim da legislatura (2027) com o mesmo orçamento de 2023, como admitiu em entrevista ao diário El País o ministro dos transportes de Espanha, Óscar Puente. Em Portugal o cenário é diferente: sem orçamento a promessa era a de uma crise política, mas os socialistas anunciaram a viabilização do orçamento da direita - num cenário que, na Espanha de 2024, só se poderia ver plasmado num livro de ficção científica.

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