Poeta e letrista Antonio Cicero morre aos 79 anos

Também compositor, crítico literário e ensaísta, é autor de várias letras conhecidas da música popular brasileira, alguma delas cantadas pela sua irmã mais nova, Marina Lima. Tinha 79 anos.

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Antonio Cicero, um dos mais célebres poetas e letristas da literatura brasileira dr
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O escritor carioca Antonio Cicero, um dos mais célebres poetas e letristas da literatura brasileira, morreu nesta quarta-feira, aos 79 anos. A informação foi confirmada pela Academia Brasileira de Letras, da qual era membro desde 2017.

Nos últimos anos de vida, Cicero sofria de Alzheimer e passou por uma série de internamentos. A sua morte teve lugar em Zurique, na Suíça, ao lado de seu parceiro Marcelo Fies, e resultou de um procedimento de suicídio assistido.

Antonio Cicero estudou Filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, mas terminou o curso em Londres, após ter deixado o país no final dos anos 60, durante a ditadura militar.

O escritor era um dos poetas mais conhecidos do Brasil, tanto pelos seus livros, como Guardar (1996), A Cidade e os Livros (2002) ou o mais recente Porventura (2012), mas também pela sua colaboração, como letrista, em algumas das principais canções da sua irmã mais nova, Marina Lima, como Fullgás, Charme do Mundo ou Pra Começar.

Entre outras colaborações no domínio da música, foi responsável por À Francesa, com Claudio Zoli, e O Último Romântico, com Lulu Santos e Sérgio Souza, cimentando-se como uma das canetas que mais embalaram as pistas de dança nos anos 1980. O seu poema Maresia também foi mais tarde cantado por Adriana Calcanhotto.

Já a sua poesia ficou marcada pela mescla de influências clássicas, colhidas durante os seus estudos na Universidade Georgetown, nos Estados Unidos, e parcerias com autores contemporâneos, como Waly Salomão (1943-2003), de quem foi próximo a ponto de fazerem publicações conjuntas.

Entre os seus poemas mais conhecidos está Guardar, da colectânea homónima, premiada em 1996 e editada em Portugal pelas Quasi Edições — a Imprensa Nacional publicou mais tarde a reunião dos três livros com o título Guardar a Cidade e os Livros Porventura. O texto começa assim: "Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la./ Em cofre não se guarda coisa alguma./ Em cofre perde-se a coisa à vista./ Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado."

Cicero foi colunista da Folha de S. Paulo de 2007 a 2010. Além da poesia, também deixou obras ensaísticas, como Finalidades sem Fim, que foi indicado ao Jabuti. A Companhia das Letras brasileira anunciou que publicará o seu último livro de ensaios, O Eterno Agora, em 2025.

O seu interesse pelo áudio também ficou evidente pelos diversos álbuns de poesia que gravou ao longo das décadas. Os seus ensaios, críticas e poemas primam por um equilíbrio entre o lírico e o filosófico — o poeta também foi professor universitário de Filosofia e Lógica durante boa parte da sua carreira.

Antonio Cicero optou por fazer um procedimento de suicídio assistido na Suíça, onde a prática é legalizada. "Como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo", escreveu, em carta deixada aos seus amigos. "Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade."

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo

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