Espécie de urso d’água com dedos de “pega-monstros” descoberta pela Universidade do Minho

Novo “urso d’água” tem dedos com ventosas e recebeu o nome Batillipes chandrayaani em homenagem à missão espacial indiana. Marcos Rubal, da Universidade do Minho, é co-autor da descoberta.

azul,oceano,universidade-minho,india,biodiversidade,
Fotogaleria
A nova espécie descrita apresenta patas que fazem lembrar os brinquedos “pega-monstros”, por terem dedinhos abertos e capazes de fixar-se às superfícies N.K. Vishnudattan/DR
azul,oceano,universidade-minho,india,biodiversidade,
Fotogaleria
A nova espécie chama-se Batillipes chandrayaani, em homenagem à missão espacial indiana Chandrayaan-3 N.K. Vishnudattan/DR
Ouça este artigo
00:00
03:40

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Uma nova espécie de tardígrado marinho – também conhecido como “urso d’água” – foi descoberta por um investigador da Universidade do Minho, em parceria com dois colegas indianos. Chama-se Batillipes chandrayaani, vive nas areias da costa sudeste da Índia e tem patinhas com ventosas que se assemelham aos brinquedos “pega-monstros”.

O nome escolhido para a nova espécie, descrita na revista científica Zootaxa, é uma homenagem à missão espacial indiana Chandrayaan-3, a primeira a alunar no pólo Sul do satélite natural da Terra, em Agosto de 2023.

“Conseguiram aterrar com sucesso na Lua, foi um grande sucesso. Então, os meus colegas [Vishnudattan e Bijoy Nandan, ambos da Universidade de Ciência e Tecnologia de Cochin] ficaram muito entusiasmados e quiseram dar este nome à espécie: chandrayaani”, explica ao PÚBLICO Marcos Rubal, investigador do Centro de Biologia Molecular e Ambiental da Escola de Ciências do Minho.

Este animal marinho microscópico apresenta características singulares na cabeça, nas dobras da camada protectora do corpo, nas estruturas sensoriais da quarta perna, no apêndice da cauda e, por fim, nas patas que fazem lembrar os brinquedos “pega-monstros”, por terem dedos abertos e capazes de fixar-se às superfícies.

Foto
Nova espécie de "urso d'água" foi descrita por Marcos Rubal, investigador do Centro de Biologia Molecular e Ambiental da Universidade do Minho DR

“As patas têm dedos com estruturas redondas que funcionam como ventosas. Os ursos d’água usam-nas para se deslocar entre os grãos de areia e procurar alimento”, descreve Marcos Rubal, numa chamada telefónica. Estas estruturas morfológicas também estão presentes noutras espécies de tardígrados marinhos.

A nova espécie foi identificada e descrita após a análise de cerca de cinquenta espécimes recolhidos de sedimentos arenosos da praia Mini Coral, em Mandapam, na Índia, refere uma nota de imprensa da Universidade do Minho. A Batillipes chandrayaani vive tanto no oceano como em mares e lagoas salgadas, hospedada em sedimentos, algas e rochas imersas.

Importantes para o equilíbrio ecológico

O investigador da Universidade do Minho sublinha a importância dos tardígrados para o equilíbrio ecológico e o ciclo de nutrientes. “Como se alimentam de bactérias, fungos e microalgas, ajudam a controlar estas populações e evitando, por exemplo, a formação de marés vermelhas”, refere. Este “urso d’água” pode ser considerado, portanto, um indicador de mudanças ambientais, fornecendo pistas acerca da saúde dos ecossistemas marinhos.

Os “ursos d’água” são muito resistentes a condições extremas, como de temperatura, radiação ou vácuo, mas se revelam sensíveis a poluentes como os hidrocarbonetos. Marcos Rubal recorda, por exemplo, como estes animais marinhos “praticamente desapareceram” na Galiza após o desastre ambiental do navio Prestige, ocorrido em 2002, quando o petroleiro se partiu em dois e afundou, libertando a carga nas águas do Atlântico.

Foto
Imagem da nova espécie Batillipes chandrayaani, reproduzida com a permissão da editora Magnolia Press, detentora dos direitos ©Magnolia Press

Já foram encontradas novas espécies de tardígrados tanto em Portugal como na Galiza, Espanha. “Identificámos seis espécies que nunca tinham sido descritas para a ciência e 18 que foram registadas pela primeira vez na Península Ibérica”, revelou o biólogo, citado na nota de imprensa.

As duas descobertas mais recentes foram feitas em 2018, na praia de Lagos, Algarve e na costa galega (Batillipes algharbensis e Batillipes lusitanus), ambas com dedos tipo pega-monstro” como a mais nova espécie descrita. No ano anterior tinham sido identificadas outras três espécies, sendo uma em Lisboa (Macrobiotus halophilus), uma na foz do rio Minho (Batillipes minius) e outra na Galiza (Ramazzottius littoreus).

Já em 2013, a equipa encontrou uma espécie e género novos (Prostygarctus aculeatus) na praia de Ofir, em Esposende, descoberta da qual participaram Paulo Fontoura e Erika Santos, do Centro de Ciências do Mar e Ambiente (MARE), e Puri Veiga, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Ciimar).