FMI: guerra contra a inflação “quase ganha”, o problema está agora no crescimento

Fundo Monetário Internacional revê em baixa previsões de crescimento para a zona euro, pede aos bancos centrais para baixar os juros e alerta governos para os riscos do proteccionismo.

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Os encontros de Outono do FMI realizam-se em Washington ANNABELLE GORDON / EPA
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Com a batalha contra a inflação “quase ganha”, o mundo enfrenta agora dificuldades em regressar às taxas de crescimento mais elevadas do passado, um problema que é particularmente evidente na Europa, assinala o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Nas suas previsões de Outono para a economia mundial publicadas esta terça-feira, a entidade com sede em Washington quase não fez alterações às estimativas de crescimento globais feitas em Julho. Depois dos 3,3% de 2023, o produto interno bruto (PIB) mundial irá crescer 3,2% tanto em 2024 como em 2025, reafirmou o FMI. Estes números, avisa, são uma “desilusão”.

De facto, taxas de variação do PIB mundial na casa dos 3% ficam bastante abaixo das médias das últimas décadas, podendo representar, para muitos pontos do planeta, uma causa para o surgimento de desequilíbrios macroeconómicos e problemas sociais.

O pior é que não só o cenário não registou melhorias nos últimos meses (em Julho, o FMI previa um crescimento de 3,2% em 2024 e 3,1% em 2025), como algumas regiões do mundo revelam cada vez mais dificuldades em acelerar as suas economias, mesmo no médio prazo.

“Infelizmente, o crescimento global de médio prazo continua sem brilho, nos 3,1%. Embora muito deste resultado reflicta o cenário mais fraco na China, as perspectivas de médio prazo noutras regiões, como a América Latina e a União Europeia, também se deterioraram”, alerta o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, no prefácio que assina no relatório publicado esta terça-feira.

O fundo passou a estimar, para este ano, um crescimento de 0,8% na zona euro, quando em Julho a previsão era de 0,9%. E, para o próximo ano, a anterior projecção de crescimento de 1,5% feita para a zona euro há três meses, passou agora a ser de apenas 1,2%.

A economia alemã tem, nestes resultados, um papel de destaque, já que o FMI passou agora a prever que 2024 será um ano de estagnação, quando em Julho estimava um crescimento de 0,2%, com uma recuperação muito modesta de 0,8% em 2025, menos 0,5 pontos percentuais do que projectado em Julho.

No caso de Portugal, as previsões são as mesmas que já tinham sido apresentadas no início de Outubro no relatório de avaliação anual feito ao país: um crescimento de 1,9% este ano, seguido de uma aceleração para 2,3% em 2025.

Inversão das políticas

Um foco de incertezas a partir de 2022, a inflação voltou agora a ser para o FMI um indicador com poucas surpresas negativas no horizonte. Tal como em Julho, as previsões continuam a apontar para que, um pouco por todo o mundo, se caminhe progressivamente para valores em linha com os objectivos dos bancos centrais.

É isso que leva a que o economista-chefe do FMI declare que “a batalha global contra a inflação está quase ganha”. Uma vitória que tem de ter como consequência uma mudança das políticas adoptadas pela generalidade dos governos e bancos centrais.

Por um lado, aquilo que o FMI pede é, face ao que se tem assistido nos últimos anos, uma inversão tanto da política monetária como da política orçamental.

Na política monetária, é tempo de os bancos centrais descerem as suas taxas de juro, algo que já começaram a fazer, e que o FMI acredita poderá “apoiar a actividade económica numa altura em que os mercados de trabalho de muitas economias avançadas estão a dar sinais de fraqueza, com taxas de desemprego crescentes”.

Pelo contrário, no que diz respeito às políticas orçamentais, que foram expansionistas nos últimos anos de crises, o FMI considera que é tempo de os governos serem mais prudentes, “estabilizando a dinâmica da dívida e reconstruindo as muito necessárias almofadas orçamentais”.

Aos governos o que o FMI pede é que invistam em reformas estruturais que façam crescer mais as suas economias. E que, entre as políticas escolhidas, não esteja maior proteccionismo. “Perante uma maior competição externa e fragilidades estruturais na indústria e na produtividade, muitos países estão a promover políticas industriais e comerciais para proteger os seus trabalhadores e empresas”, assinala Pierre-Olivier Gourinchas, que reconhece, contudo, que essas medidas podem por vezes “fazer crescer o investimento e a actividade económica no curto prazo”.

No entanto, defende, políticas proteccionistas “levam frequentemente a retaliações, não conseguem garantir melhorias sustentáveis nos níveis de vida e devem ser firmemente recusadas, quando não se destinam a enfrentar falhas de mercado e preocupações de segurança nacional bem identificadas”.

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