PSP mantém reforço na Amadora após noite de desacatos e revolta

Moradores do bairro onde vivia Odair Moniz provocaram vários fogos nas ruas na noite de segunda-feira, em protesto pela sua morte. PSP mantém-se no Bairro do Zambujal para “protecção” dos residentes.

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Odair Moniz morreu esta madrugada no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, não resistindo aos ferimentos provocados pela PSP DR
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Dezenas de moradores do bairro do Zambujal, na Amadora, incendiaram esta noite vários contentores, bloquearam estradas e arremessaram objectos, em actos de protesto e revolta pela morte de Odair Moniz, cidadão de 43 anos residente no mesmo bairro, baleado por um agente da PSP na madrugada desta segunda-feira, 21 de Outubro, na Cova da Moura. Na manhã desta terça-feira, a PSP permanecia no local a "acompanhar e a monitorizar todos os acontecimentos, sempre com o objectivo de acalmia de toda a situação e protecção dos moradores do bairro".

Não há, para já, confirmação oficial da existência de civis ou agentes feridos. Em declarações aos jornalistas no local, a porta-voz da PSP Ana Ricardo esclareceu que a polícia actuou, "num primeiro momento, em apoio aos bombeiros" que respondiam a focos de incêndio no interior do bairro, tendo depois verificado "situações de desordem" que exigiam a "reposição da ordem pública".

"Não vamos tolerar comportamentos de uma minoria que ponham em causa a segurança da maioria", vincou. Além de contentores queimados, há relatos de carros incendiados, um autocarro apedrejado e arremesso de objectos. Imagens dos desacatos foram partilhadas nas redes sociais.

O bairro foi cercado pelas forças de segurança, tendo sido mobilizada a Unidade Especial de Polícia, e está proibida a entrada e saída de viaturas. No local estão ainda elementos dos Bombeiros Voluntários da Amadora e do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).

Entretanto, o PÚBLICO sabe que se encontravam na Agência Portuguesa do Ambiente (APA) duas funcionárias, pelo menos, que ficaram fechadas no edifício que alberga a sede da instituição, depois de aconselhadas pelas autoridades nesse sentido. Embora trabalhem na sede da APA cerca de quatro centenas de funcionários, segundo o seu presidente, José Pimenta Machado, apenas uma directora de serviços se mantinha no interior do edifício. "Está tudo seguro, não há drama nenhum", garantiu. "Vai sair quando a polícia autorizar."

Aquando da entrada no bairro, as equipas de intervenção rápida da PSP foram alvo de arremesso de "garrafas e pedras", confirma ainda Ana Ricardo, acrescentado que as autoridades se vão manter no local esta noite "por questões de segurança".

Concluído o ponto de situação feito pela porta-voz da PSP poucos minutos após a meia-noite, foram várias as questões dos jornalistas que ficaram sem resposta. Sobre o relato de uma pessoa ferida no interior do bairro, alegadamente agredida por agentes da PSP, Ana Ricardo não tinha qualquer informação. Também não soube dizer se a "reacção violenta" com que a polícia foi recebida no bairro provocou feridos nas forças de segurança.

A mesma ausência de respostas às perguntas: foram disparados tiros pela polícia no interior do bairro? Há informações sobre as pessoas envolvidas nos desacatos desta noite? Porque é que Odair Moniz foi abordado pela polícia na madrugada desta segunda-feira?

Odair Moniz, de 43 anos, morreu esta madrugada no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, não resistindo aos ferimentos provocados pela PSP.

Pelas 5h43, explica a PSP em comunicado, através do Comando Metropolitano de Lisboa, agentes desta força de segurança procederam à intercepção de um indivíduo que momentos antes se havia colocado em fuga da polícia.

Refere a PSP que, “quando os polícias procediam à abordagem do suspeito", que se terá despistado durante a fuga, "o mesmo terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca, tendo um dos polícias, esgotados outros meios e esforços, recorrido à arma de fogo” e alvejado Odair Moniz na zona da axila.

A ministra da Administração Interna já fez saber que determinou à Inspecção-Geral da Administração Interna a abertura de inquérito, com carácter de urgência, para apuramento das circunstâncias que envolveram agentes da Polícia de Segurança Pública.

Notícia actualizada às 7h32: acrescentada informação da permanência de meios da PSP após noite de desacatos e revolta

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