A vida é um jogo de xadrez

Sexta, 25 de Outubro, com o PÚBLICO, por + 13,90€

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A oitava série da colecção Novela Gráfica aproxima-se do seu fim e os três últimos volumes têm a particularidade de serem biografias em banda desenhada de personagens importantes do século XX. Personagens completamente diferentes, que se destacaram em diferentes áreas e cujas vidas são transpostas para a BD de formas que não podiam ser mais diversas, em termos estéticos e narrativos. A primeira dessas biografias, que chega às livrarias e quiosques já no próximo dia 25 de Outubro, é a biografia do mestre do xadrez, Bobby Fischer.

Escrita pelo brasileiro Wagner Willian e ilustrada pelo alemão Julian Voloj, a convite de uma editora americana, mas publicada em Portugal a partir da edição francesa, Preto e Branco: Ascensão e Queda de Bobby Fischer é um bom exemplo da dimensão global da novela gráfica contemporânea. Argumentista e ilustrador de projecção internacional, Wagner Willian tem também uma vasta carreira no Brasil como autor completo, tendo alguns dos seus trabalhos saltado fronteiras, como foi o caso de O Maestro, o Cuco e a Lenda, publicado em Portugal em 2017. Nesta biografia do mestre de xadrez, Bobby Fischer, Willian assina o argumento para os desenhos do alemão Julian Voloj, que antes deste livro já tinha desenhado a biografia do artista plástico norte-americano Jean-Michel Basquiat.

Neste livro, os dois autores traçam a biografia do maior jogador de xadrez americano de sempre, Bobby Fischer, numa narrativa bem documentada, que segue de forma cronológica a ascensão e queda do mestre de xadrez, desde a sua infância pobre em Brooklyn, Nova Iorque, até à conquista do título mundial em 1972, culminando no final de vida no exílio, marcado por uma paranóia crescente e por um anti-semitismo doentio, ainda para mais tendo em conta a sua ascendência judaica.

Vasily Smyslov, grande mestre russo e campeão mundial de xadrez de 1957 a 1958, escreveu um dia que: “No xadrez, como na vida, o adversário mais perigoso é você mesmo". Uma frase lapidar, que encaixa como uma luva na vida atormentada de Bobby Fischer, um génio do xadrez com uma grande dificuldade em se adaptar ao mundo real. Um homem obcecado pela sua paixão pelo xadrez, tremendamente egocêntrico e paranóico, que encontrou no tabuleiro de xadrez um refúgio e um desafio, que o levou do Clube de Xadrez de Brooklyn à disputa do título de campeão do mundo de xadrez com Boris Spassky, em 1972, na Islândia.

Nesta narrativa, em que o xadrez e a vida se fundem e se confundem, o desenhador Julian Voloj encontrou uma série de soluções visuais interessantes para acentuar esse aspecto, começando logo na sequência do sonho das páginas 30 e 31, ou na das páginas 59 a 61, em que, durante o passeio do jovem Bobby Fischer com Jack Collins, a rua se transforma num tabuleiro de xadrez e as pessoas com quem eles se cruzam, em peças do jogo.

Talvez o melhor exemplo da forma criativa e inovadora como Willian e Voloj jogam com a imagem é todo o capítulo 7, que assinala o início da queda de Bobby Fischer, então Campeão do Mundo de Xadrez, depois de ter derrotado Spassky, com momentos em que o traço realista de Voloj se torna completamente caricatural, remetendo para a animação dos anos 50 por algumas páginas, culminando em toda uma brilhante sequência em que a crescente paranóia de Fischer é traduzida pelas mensagens dos cartazes publicitários com que se cruza enquanto conduz e que parecem falar directamente com ele.

E, falando ainda da parte gráfica, Voloj não se esquece de “semear” uma série de Easter eggs ao longo do livro, que justificam uma segunda leitura, mais atenta aos pormenores escondidos no desenho. Estou a falar das participações especiais, como figurantes, do John Travolta, de Pulp Fiction, e de Osamu Tezuka, o mais importante criador de mangá de sempre, ou da homenagem ao filme O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman. Aqui fica o desafio para o leitor descobrir onde eles estão e talvez encontrar outras referências que me escaparam.

Pode comprar este e outros livros da colecção na loja online do PÚBLICO.

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