Morreu Paul Di’Anno, primeiro vocalista dos Iron Maiden

Voz dos álbuns inaugurais da banda britânica de heavy metal, Paul Di’Anno morreu esta segunda-feira em Salisbury. Com problemas de saúde graves, dera os seus últimos concertos em cadeira de rodas.

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Paul Di'Anno em 1981 num concerto em Lynewood, Illinois Paul Natkin/getty images
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Paul Di’Anno, ex-vocalista da banda de heavy metal Iron Maiden, morreu esta segunda-feira, aos 66 anos, na sua casa em Salisbury, no sudoeste de Inglaterra, informou a sua editora, a Conquest Music, por indicação da família do músico.

Sofrendo há já alguns anos de problemas de saúde graves, Paul Di’Anno – nome artístico de Paul Michael Andrews, nascido a a 17 de Maio de 1958 nos subúrbios londrinos de Chingford –, o cantor vira-se ultimamente obrigado a actuar em cadeira de rodas, o que não o impediu de dar mais de uma centena de concertos só nos últimos dois anos.

Ainda adolescente, enquanto trabalhava em talhos e restaurantes, actuou em diversas bandas de rock, mas deve o essencial da sua popularidade aos anos em que integrou os Iron Maiden como vocalista principal, entre 1977 e 1981.

A sua entrada teve alguns percalços – o seu primeiro teste com os futuros colegas acabou por não se realizar porque Paul foi preso após ter ameaçado um homem com uma faca em plena rua –, mas o cantor acabou por conseguir o lugar, tendo sido a voz da banda nos primeiros álbuns de estúdio: Iron Maiden, de 1980, e Killers, do ano seguinte, dois discos que tiveram considerável influência, na sua mistura de heavy metal, punk e rock progressivo.

“Se havia um elemento punk nos Iron Maiden por essa altura, provavelmente devia-se a mim, sobretudo em palco”, afirmou Paul Di’Anno à revista Metal Hammer em 2020.

Mas a turbulenta vida pessoal do músico marcada pelo consumo excessivo de álcool e drogas várias, ditaria o seu afastamento dos Iron Maiden, com quem só gravou ainda o EP Maiden Japan, em 1981. Nesse mesmo ano foi substituído por Bruce Dickinson, que após um período de ausência nos anos 90, é ainda hoje o vocalista da banda britânica, que deverá actuar na Meo Arena, em Lisboa, em Julho de 2025, no âmbito da digressão Run For Your Lives, que assinalará os 50 anos da fundação do grupo, criado no dia de Natal de 1975.

Na mesma entrevista, agora recordada por Merlin Alderslade no obituário do músico que redigiu para a mesma publicação, Paul Di’Anno dizia compreender que a banda o tivesse afastado, decisão que atribui ao seu fundador, o baixista Steve Harris. “Não os censuro por se terem livrado de mim (…), mas gostava de poder ter contribuído mais”, diz, reconhecendo: “No fim já não conseguia dar 100% aos Maiden e isso não era justo para a banda, para os fãs e para mim próprio”.

Versão mais áspera e punk

Após a sua saída, Paul Di’Anno gravou com a efémera banda Gogmagog em 1985, lançou vários discos ainda nos anos 80 com os Battlezone, e na década seguinte com os Killers, entre outras bandas de hard rock e heavy metal.

A sua discografia inclui ainda vários trabalhos a solo lançados a partir de meados dos anos 90, período em que também grava com o guitarrista Dennis Stratton, seu contemporâneo nos Iron Maiden, os álbuns The Original Iron Maiden (1995) e The Original Iron Maiden (1996). E em 2000 lança Nomad com o guitarrista brasileiro Paulo Turin.

Apesar dos seus problemas de saúde – os seus antigos colegas dos Iron Maiden ajudaram a custear uma cirurgia urgente que teve de fazer ao joelho em 2021 –, Paul Di’Anno continuou sempre a gravar e a actuar ao vivo, mesmo depois de ter ficado praticamente confinado a uma cadeira de rodas.

Em 2002, publicou a autobiografia The Beast, na qual descreve fielmente todos os seus excessos, e que, segundo ele próprio contaria, levou a sua primeira mulher (casou-se cinco vezes) a comentar: “Não foi este o cretino com quem me casei”.

Nos últimos anos, o músico abordou frequentemente o seu passado, “reconhecendo as consequências negativas que os seus comportamentos tiveram na sua carreira e na sua vida”, lembra Merlin Alderslade no seu obituário.

No início dos anos 90, Di’Anno chegou mesmo a ser preso nos Estados Unidos, e depois banido do país, por violência doméstica e posse de cocaína. Nos últimos anos mudou de vida, mas nem por isso conseguiu evitar novos problemas com a justiça, ainda que agora isentos de violência, como ter informado a segurança social inglesa de que estava incapacitado para trabalhar ao mesmo tempo que se desdobrava em concertos ao vivo por todo o mundo, o que lhe custou uma condenação por fraude e dois meses de prisão efectiva.

Os primeiros álbuns que os Iron Maiden gravaram com Bruce Dickinson, sobretudo The Number of the Beast (1982) e Piece of Mind (1983), talvez sejam hoje mais consensuais do que os dois discos iniciais com Paul Di’Anno, mas basta passar os olhos pelos sites dedicados ao heavy metal para confirmar que continua a haver fãs que preferem a versão mais áspera e punk do vocalista original às performances mais operáticas do seu substituto.

Notícia corrigida às 8h22 de 22 de Outubro: listagem dos primeiros dois álbuns com Bruce Dickinson como vocalista

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