Advogada ameaça processar Portugal por causa de apátridas. Partido quer regulamentar estatuto

Caso não resolva situação dos apátridas, Portugal terá de responder no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Livre quer regulamentar lei que cria o estatuto dos que não têm nacionalidade.

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Espaço Santo António de acolhimento de estrangeiros e apátridas no Porto Adriano Miranda
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A advogada brasileira Catarina Zuccaro ameaça levar Portugal ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Representando 30 cidadãos apátridas de vários países, principalmente do norte da África, ela espera apenas a decisão de um julgamento sobre o tema no Supremo Tribunal Administrativo, o que deve ocorrer em um mês, para decidir se entrará com uma ação na corte europeia, localizada em Estrasburgo, na França.

Segundo Catarina, o motivo da ação é “o descumprimento da diretiva europeia, a Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia, da qual Portugal é signatário”. Segundo o documento europeu, "é proibida toda discriminação em razão da nacionalidade".

Na segunda-feira (14/10), o partido Livre apresentou na Assembleia da República um diploma para regulamentar o Estatuto do Apátrida pessoas que não têm nacionalidade. A iniciativa foi encaminhada à Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias. Caso o projecto lei seja aprovado, a Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA) deverá imediatamente regularizar a situação dos residentes em Portugal que não têm nacionalidade.

Sem ter cidadania reconhecida, os apátridas encontram dificuldades para se legalizarem e para viajar. Muitos países — incluindo o Brasil — atribuem a eles um passaporte de cor amarela, também chamado de passaporte para refugiados.

Segundo o texto recebido pela AR, assim que for regulamentado o estatuto do apátrida, o mecanismo deverá ser apresentado à AIMA. A medida legislativa prevê "que, imediatamente, a agência inicie a regularização das pessoas”.

Direito constitucional

A proposta do Livre busca atender a orientação do documento legal europeu e “regular o acolhimento destes cidadãos e a possibilidade de atribuição de nacionalidade portuguesa”. O projeto ressalta que "Portugal já subscreve várias convenções internacionais que prevêem a criação de legislação específica para os apátridas".

O partido Livre lembra que a própria Constituição portuguesa estabelece que os sem pátria devem ter direitos e deveres iguais aos cidadãos nacionais. De acordo com o deputado do Livre, Paulo Muacho, em comunicado à imprensa, “a verdade é que existe uma lacuna, que não está prevista na legislação, de como fazer este procedimento", explicou.

O diploma propõe que aos apátridas seja atribuída "uma autorização de residência provisória, válida pelo período de seis meses, contados a partir da data do seu registo. Esta deve ser sucessivamente renovada até que seja proferida decisão final". O prazo previsto seria de nove meses.

A advogada Catarina Zuccaro endossa a iniciativa. "É degradante para esses imigrantes indocumentados viverem desta maneira", afirma.

A Assembleia da República aprovou a criação do estatuto do apátrida há um ano e meio e a regulamentação da lei devia ter sido feita no prazo de três meses, mas a dissolução do Parlamento atrasou o assunto. O Livre, partido que teve a iniciativa de criar o estatuto, entregou agora o diploma para regulamentar a lei e definir os mecanismos para conceder nacionalidade portuguesa aos apátridas que residem no país há pelo menos três anos.


Notícia alterada em 26 de Novembro para clarificar que o Livre entregou um diploma para regulamentar o Estatuto do Apátrida e não para o criar.

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