COP16: das florestas aos oceanos, a natureza está em colapso

Animais em vias de extinção, florestas destruídas pelas chamas, inundações constantes e seca extrema. Estas são algumas consequências das alterações climáticas nas últimas décadas.

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Seca e incêndios florestais levaram a uma quantidade recorde de dióxido de carbono a entrar na atmosfera da Terra PEDRO ARMESTRE / AFP
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A destruição global da natureza atingiu pontos nunca antes vistos. O início da Conferência das Nações Unidas para a Biodiversidade (COP16) está marcado para esta segunda-feira, em Cali, na Colômbia: leia aqui um resumo do estado actual do planeta.

Animais e plantas

As plantas e os animais desempenham um papel muito importante no bom funcionamento da natureza, auxiliando no ciclo de nutrientes num ecossistema e também no arejamento dos solos e na formação dos rios. Sem plantas ou animais, o planeta não seria habitável para os seres humanos. Contudo, mais de um quarto das espécies conhecidas no mundo (cerca de 45,300) está em risco de extinção, de acordo com União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês).

Entre os animais em vias de extinção, contam-se a vaquita-marinha do México, o rinoceronte-branco do Norte de África e o lobo-vermelho dos Estados Unidos da América. De acordo com a associação WWF, de 1970 até 2020, as populações de animais selvagens monitorizadas a nível mundial diminuíram 73%.

Florestas

Uma vez que as florestas albergam o maior número de espécies vegetais e animais de qualquer ecossistema, incluindo 68% das espécies de mamíferos, os cientistas consideram que os níveis de desflorestação são um bom indicador da destruição da natureza.

Em 2021, mais de 100 países comprometeram-se a travar a desflorestação e a degradação das florestas até 2030. Em 2023, a quantidade de terras desflorestadas era 45% superior ao objectivo para 2030, segundo a Avaliação da Declaração Florestal, uma análise anual divulgada por um consórcio de organizações de investigação e da sociedade civil.

Embora a taxa de desflorestação tenha diminuído na Amazónia brasileira, aumentou na Bolívia, na Indonésia e na República Democrática do Congo. A degradação das florestas devido aos incêndios, ao abate de árvores e a outras forças destrutivas (que a degradam mas não destroem completamente), também preocupa os cientistas. A avaliação demonstrou que o objectivo de acabar com a degradação das florestas está 20% atrasado.

Pesca e oceanos

A pesca é a principal causa da destruição da vida selvagem marinha, segundo a Plataforma Intergovernamental de Política de Ciência sobre Biodiversidade e Serviços do Ecossistema (IPBES, na sigla em inglês), a principal autoridade científica mundial sobre a natureza.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), mais de 40 países com uma população total de 3,2 mil milhões de pessoas, dependem dos produtos do mar para, pelo menos, 20% das suas proteínas nutricionais.

Cerca de 38% das unidades populacionais de peixes estão a ser afectados pela sobrepesca, uma subida de 28% desde de 1970. A WWF confirma que a sobrepesca está a desestabilizar os ecossistemas dos recifes de corais que fornecem abrigo, alimentos e locais de amamentação a um quarto da vida marinha mundial. Este ano, assistimos ao quarto branqueamento em massa de corais no mundo, com mais de metade das áreas de recifes a branquearam devido às altas temperaturas dos oceanos.

Agricultura

A agricultura é responsável por cerca de 90% da desflorestação tropical uma vez que as selvas dão lugar a explorações de soja, à agro-pecuária, a plantações de óleo de palma e outras produções em massa de mercadorias, como retrata a WWF. Os governos mundiais pagam, em média, 585 mil milhões de euros em subsídios à agricultura que são prejudiciais ao meio ambiente. De acordo com o Banco Mundial, vários mil milhões de euros são direccionados para subsídios indirectos.

Na COP15, realizada em 2022 no Canadá, os países concordaram em identificar os subsídios prejudicais até 2025 e reduzi-los em, pelo menos, 461 mil milhões de euros por ano a partir de 2030.

Alguns ambientalistas propuseram aos bancos que deixassem de oferecer créditos aos sectores de produtos de base ligados directamente à desflorestação. Entre Janeiro de 2023 e Junho de 2024, os bancos ofereceram cerca de 71 mil milhões de euros em créditos a estas empresas, de acordo com a Forest & Finance Coalition.

Impactos económicos

Quer se trate de insectos que polinizam as culturas, de plantas que filtram as reservas de água doce ou de florestas que fornecem madeira para a construção, a natureza e os animais fornecem gratuitamente uma grande quantidade de materiais e serviços à economia global.

De acordo com o Fórum Económico Mundial, anualmente, cerca de 40 mil milhões de euros da produção económica do mundo – ou seja, aproximadamente metade – dependem destes recursos e serviços naturais. Este valor inclui 1,9 mil milhões de euros nos EUA, 2,2 mil milhões de euros na União Europeia e 2,5 mil milhões de euros na China.

O Banco Mundial estima que o colapso de certos ecossistemas poderá custar à economia mundial 2,5 mil milhões de euros até 2030 – cerca de 2,3% da produção global.

O Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) estima que as despesas com a natureza devem aumentar para 499 mil milhões de euros por ano até 2030, contra os 184 mil milhões de euros em 2022, para travar a perda da natureza e cumprir os objectivos climáticos.