Homicídio de Elvino Dias e Paulo Guambe são “mancha indelével” nas eleições em Moçambique

João Cravinho, que liderou a Missão de Observação Eleitoral da CPLP, diz que “não é possível dissociar” as mortes da eleição. Portugal “condena” e UE fala em “assassinatos com motivações políticas”

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Venâncio Mondlane com Elvino Dias, numa imagem partilhada pelo candidato presidencial na sua página de Facebook DR
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O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa João Cravinho, que liderou a Missão de Observação Eleitoral da CPLP em Moçambique, disse este sábado que não é possível dissociar o homicídio de Elvino Dias e Paulo Guambe do processo eleitoral.

João Cravinho falava à agência Lusa a propósito do assassínio em Maputo de Elvino Dias, advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que o apoia.

Cravinho condenou o assassinato, considerando que “contribui para adensar as múltiplas dúvidas existentes sobre o processo eleitoral ainda em curso”.

E acrescentou: “Embora neste momento ainda exista muita coisa que não se sabe sobre os assassinatos, não é possível, nesta fase, sendo as pessoas que são, estando nós no momento em que estamos, não é possível dissociar do processo eleitoral”.

O ex-ministro acredita que os homicídios oferecem “uma mancha indelével sobre as eleições”.

“É evidente que estes assassinatos têm de ter investigação, que se deve de uma forma muito transparente identificar os culpados e levá-los a tribunal, isso é uma evidência. O problema aqui, para além disso, é que estamos também numa situação em que estas pessoas, entre outras, estão num processo de contestação de resultados, que conhecemos ainda de forma parcial”, adiantou.

O advogado Elvino Dias, conhecido defensor de casos de direitos humanos em Moçambique, era assessor jurídico de Venâncio Mondlane e da Coligação Aliança Democrática (CAD), formação política que apoiou inicialmente aquele candidato a Presidente da República de Moçambique, até a sua inscrição para as eleições gerais de 9 de Outubro ter sido rejeitada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Venâncio Mondlane viria depois a ser apoiado na sua candidatura pelo partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), cujo mandatário nacional das listas às legislativas e provinciais, Paulo Guambe, também seguia na viatura alvo do crime.

MNE e UE condenam assassínios

Entretanto, este sábado, numa mensagem publicada na rede social X, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português condenou os homicídios: “Portugal condena liminarmente os assassinatos do mandatário do Podemos Paulo Guambe e do advogado Elvino Dias.”

“O povo moçambicano exerceu legitimamente o seu direito de voto. Fazer jus à sua maturidade cívica implica garantir o carácter pacífico e ordeiro do processo subsequente”, acrescenta a publicação.

Também a União Europeia (UE) condenou os homicídios, afirmando em comunicado que “numa democracia não há lugar para assassinatos com motivações políticas” e apelando a “uma investigação imediata, exaustiva e transparente, que leve a tribunal os responsáveis por este crime ultrajante” e que “esclareça as circunstâncias em que ocorreu”.

Dizendo que aguarda “com expectativa” as reacções do Governo moçambicano, a UE refere que “estes acontecimentos ocorrem na sequência de notícias preocupantes sobre a dispersão violenta de apoiantes no rescaldo das eleições da semana passada em Moçambique”.

“A UE apela à máxima contenção de todos e ao respeito pelas liberdades fundamentais e pelos direitos políticos. Além disso, é crucial que sejam tomadas medidas firmes de protecção de todos os candidatos neste período pós-eleitoral”, prossegue-se na nota.

E adianta que a Missão de Observação Eleitoral da União Europeia continua no país a avaliar o processo eleitoral em curso. “Esperamos que os órgãos de gestão eleitoral conduzam todo o processo com toda a diligência e transparência necessárias, respeitando a vontade expressa pelo povo moçambicano”, acrescenta-se.

Elvino Dias, advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que o apoia, foram mortos na sexta-feira à noite, no centro de Maputo, por indivíduos desconhecidos que dispararam sobre a viatura em que seguiam.

Fonte do Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic) confirmou hoje o homicídio de ambos. O crime aconteceu na Avenida Joaquim Chissano, no centro de Maputo, numa emboscada por homens armados à viatura em que ambos seguiam, depois das 23h locais (menos uma hora em Lisboa), tendo sido disparados vários tiros que acabaram por atingir os dois ocupantes mortalmente.

O advogado Elvino Dias, conhecido defensor de casos de direitos humanos em Moçambique, era assessor jurídico de Venâncio Mondlane e da Coligação Aliança Democrática (CAD), formação política que apoiou inicialmente aquele candidato a Presidente da República de Moçambique, até a sua inscrição para as eleições gerais de 09 de Outubro ter sido rejeitada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Venâncio Mondlane viria depois a ser apoiado na sua candidatura pelo partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), cujo mandatário nacional das listas às legislativas e provinciais, Paulo Guambe, também seguia na viatura alvo do crime.