Rui Oliveira teve quatro dedos nas medalhas nos Mundiais de pista

O ciclista português esteve em primeiro, em segundo e em terceiro no omnium dos Mundiais. Chegou a ter uma medalha “no bolso”, mas faltou mais energia para selar a conquista, que escapou por pouco.

Foto
Rui Oliveira e Iúri Leitão em acção por Portugal JOS?? SENA GOUL??O / LUSA
Ouça este artigo
00:00
03:55

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Tudo parecia bem encaminhado para Rui Oliveira prolongar neste sábado o que fez com o ouro nos Jogos Olímpicos e sair dos Mundiais de ciclismo de pista com uma medalha – até mesmo de ouro. Acabou por terminar a prova em sexto, a apenas quatro pontos do pódio, diferença que no omnium do ciclismo é irrisória.

Pode soar a vitória moral? Talvez. Mas neste caso é mais do que isso, porque o português esteve mesmo na luta pelo ouro. Na última das quatro provas, chegou a estar bastante tempo na liderança e mais ainda no pódio. Faltou, no fim, algum do “combustível” que gastou, talvez demasiado cedo para quem pedalou como se tivesse energia infinita.

Em Ballerup, na Dinamarca, o português tocou com um dedo no ouro, dois na prata e três no bronze. Ainda colocou um quarto dedo a afagar os metais preciosos, mas não teve força para os agarrar por inteiro. Foi batido pelo belga Lindsay de Vylder, claramente o mais forte do dia, pelo italiano Simone Consonni e pelo neerlandês Yanne Dorenbos.

Consistente

O português foi muito consistente durante todo o sábado de omnium. Começou com um quinto lugar na prova de scratch, foi mais discreto na tempo race, com um nono lugar, e regressou à luta pelas medalhas na sempre emocionante corrida de eliminação, acabando em segundo lugar, só batido no sprint final.

O português entrou para a corrida final em quarto lugar, em luta com Ethan Hayter pelo bronze, e o duplo medalhado olímpico Iúri Leitão, ausente por lesão, mas a comentar a prova no Eurosport, lembrou que Hayter era uma boa roda para seguir, quer pela capacidade física, quer pela boa leitura de corrida. E confirmou-se.

No primeiro ataque de Dorenbos, líder da prova, foi Hayter a fazer a perseguição, sem que Oliveira precisasse de se colocar ao vento. Escolheu bem o "amigo".

Pouco depois, colocou-se ao vento, mas não para defender. Atacou com De Vylder e Koontz e ganhou facilmente uma volta de avanço, saltando para o primeiro lugar.

Queimou tudo

Iúri Leitão ia dizendo na transmissão televisiva que Rui tinha de ter "uma postura muito calma e fria, porque está numa óptima posição” e o conselho não foi seguido à risca pelo colega. Sem precisar disso, Oliveira estava bastante ofensivo, quer a nível de ataques para voltas de avanço, quer a nível de sprints. Como se diz na gíria, "ia a todas", o que sugeria que estava numa super-forma.

O português parecia estar com muita disponibilidade física, mas acabou por ter de gerir o esforço em determinada fase, dando liberdade a alguns rivais relevantes – nesse momento, parecia estar em clara gestão de energia e não só respondia aos adversários como era apanhado em cortes no grupo.

Ficou claro, depois, que talvez não fosse gestão, mas sim mera incapacidade de quem estava a correr como se fosse imortal. As medalhas estavam a escapar e o português não tinha “combustível” para ir lutar.

As últimas 20 voltas foram de agonia para Rui Oliveira e não deu para mais do que o sexto lugar. Ficou, ainda assim, com a consolação de ficar a apenas quatro pontos das medalhas e de perceber que uma gestão física mais sagaz lhe daria, por certo, para qualquer coisa mais.

A estrada e a pista

Ao contrário de Iúri Leitão, Oliveira, mais um produto da "fábrica de medalhas" de Sangalhos, tem tido uma carreira mais proeminente na estrada, fazendo parte das equipas da Emirates que conquistam provas importantes. Como se escreveu por aqui por altura dos Jogos Olímpicos, o salário ali é outro, a companhia é outra, o profissionalismo é outro e as provas em que pode entrar são outras.

Também isso dá uma camada extra à forma como compete na pista, já que está longe de ser alguém que pode focar-se apenas nessa vertente. No pós-Paris, por exemplo, a Emirates obrigou-o a participar em corridas de estrada, não permitindo ao ciclista acompanhar Leitão na odisseia de entrevistas em rádios, jornais e televisões e viver aquelas semanas de fama.

No fundo, Rui Oliveira não tem liberdade para ser apenas ciclista de pista, mas faz por ser livre quando pode pedalar nela. Neste sábado, faltou pouco, mas pagou caro a estratégia audaz.

Sugerir correcção
Comentar