Rastreio do cancro do colo do útero vai ser alargado até aos 69 anos e prevê auto-colheita

Rastreio vai arrancar mais tarde, a partir dos 30 anos, em vez dos 25, como acontece actualmente.

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O rastreio de base populacional do cancro do colo do útero é feito através da pesquisa do vírus do papiloma humano Rui Gaudêncio (arquivo)
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​O rastreio de base populacional do cancro do colo do útero vai mudar e chegar a mulheres em idades mais avançadas, até aos 69 anos. O alargamento já tinha sido anunciado mas apenas até aos 65 anos, tendo os peritos que elaboraram a norma que introduz alterações a este rastreio – e que foi agora publicada pela Direcção-Geral da Saúde - decidido que se manterá, afinal, até aos 69 anos.

Em Portugal, o rastreio de base populacional do cancro do colo do útero estava recomendado para todas as mulheres entre os 25 e os 60 anos através realização da pesquisa do vírus do papiloma humano (HPV) - que está na origem da esmagadora maioria destes cancros - na citologia cervical (o chamado Papanicolau). Agora, passa a estar também prevista a possibilidade de auto-colheita (da vagina) do material biológico para o teste de rastreio primário, “caso a utente explicitamente o prefira ou em utentes que não aderiram a dois convites consecutivos”, refere a norma da DGS.

Os peritos que elaboraram a norma justificam o alargamento do programa de rastreio aos 69 anos argumentando que, em 2018, "19% dos casos de cancro do colo do útero” diagnosticados em Portugal foram “identificados em mulheres com idades compreendidas entre os 60-70 anos”, havendo, assim, "evidência de base epidemiológica" para tomar esta decisão.

Em sentido contrário, e como já tinha adiantado ao PÚBLICO o director do director do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas (PNDO), José Dinis, o rastreio do cancro do colo do útero útero começará a ser feito mais tarde, aos 30 anos. Uma opção que é justificada pela elevada taxa de vacinação para o vírus do papiloma humano (HPV), nas faixas etárias até aos 30 anos. Esta vacinação, recorde-se, arrancou em 2008 nas raparigas com 13 anos de idade e está incluída no Plano Nacional de Vacinação.

No caso de utentes com menos de 30 anos que já fizeram um rastreio, estas continuam elegíveis para “novo episódio de rastreio no ano em que tiverem que repetir o teste”, segundo a norma.

Já no caso “das pessoas com colo do útero e que não foram vacinadas contra o HPV ou que vivam numa condição de imunossupressão ou com infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV)”, o médico assistente “deve discutir os benefícios e os riscos do rastreio" e também "definir o método a utilizar (citologia cervical e/ou teste de pesquisa de HPV de alto risco), que poderá ser iniciado a partir dos 25 anos”.

A norma refere-se sempre a utentes "com útero", uma vez que também estão incluídas as pessoas transgénero com nome masculino mas com útero, como também já tinha sido anunciado.

Em Setembro, o director do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas adiantou ainda que passará a haver outra alteração neste programa de rastreio: as mulheres vão passar a ser convocadas através de SMS, deixando, assim, de ficar dependentes dos centros de saúde.

“Quando há mais de um milhão e meio de portugueses sem médico, se ancorássemos este rastreio nos médicos de família, estávamos arranjar um grande problema”, explicou então José Dinis, sublinhando que é por este motivo que actualmente “as taxas de cobertura não passam ou dificilmente passam os 50%”.

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