Ministra da Saúde admite dificuldades de abastecimento nos centros de saúde

Em causa está um estudo segundo o qual mais de 90% das Unidades de Saúde Familiar registaram falta de material básico no último ano. Foram administradas 1,8 milhões de vacinas da gripe e covid-19.

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A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, esteve esta sexta-feira em Matosinhos, no distrito do Porto, onde foi acompanhar a campanha de vacinação para a gripe e covid-19 FERNANDO VELUDO / LUSA
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A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, admitiu esta sexta-feira que centros de saúde de “algumas zonas” sintam mais dificuldades de abastecimento e justificou estes atrasos com a “falta de maturidade” do modelo das Unidades de Saúde Locais (ULS).

“Temos consciência, pela gestão que fazemos e pela gestão de proximidade que a Direcção Executiva faz com as ULS, que em algumas zonas tem havido mais dificuldades de abastecimento”, disse a ministra, numa reacção a um estudo tornado público nesta sexta-feira, segundo o qual mais de 90% das Unidades de Saúde Familiar registaram falta de material básico no último ano.

Em Matosinhos, no distrito do Porto, onde foi acompanhar a campanha de vacinação para a gripe e covid-19 que decorre nas farmácias, Ana Paula Martins — que assumiu a possibilidade de alargar às farmácias a vacinação às pessoas com 85 anos ou mais, reiterando o objectivo de aumentar a taxa de pessoas vacinadas — justificou estas dificuldades de abastecimento com a integração dos centros de saúde no modelo de ULS criado pela anterior Direcção-Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) que juntou a gestão dos cuidados de saúde primários à dos cuidados hospitalares.

“Os modelos de gestão dos hospitais e dos centros de saúde eram antes desta união muito diferentes (…). Com a extinção das Administrações Regionais de Saúde e com a sua desactivação, sobretudo ao longo da segunda metade de 2023, o sistema não adquiriu a maturidade suficiente a 1 de Janeiro de 2024”, disse.

Segundo a ministra, é preciso dotar as ULS de recursos humanos “necessários, suficientemente competentes e diferenciados para fazerem compras diferentes às que estavam habituados”.

“A organização desse aprovisionamento, dessas compras, tem de estar planeada com tempo. Os concursos do Estado levam o seu tempo e temos de seguir o código da contratação pública. A logística é muito mais complexa, estamos a falar de freguesias e concelhos distantes”, acrescentou.

Um estudo da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) refere que os valores relativos a faltas de material básico para a actividade da USF se “mantêm elevados”, com 93,9% das unidades a registarem estas situações no último ano.

Em 40,7% das USF estas faltas foram registadas mais de 10 vezes, em 33,3% das USF três a 10 vezes e em 19,8% uma a duas vezes.

Cerca de metade dos coordenadores das USF entende que a sua USF não tem instalações adequadas para o exercício das actividades profissionais de saúde (43,8%), assumindo também não ter a possibilidade física de realizar circuitos diferenciados para doença aguda/ consulta programada (68,8%), um aumento face a 2022/23 (67,6%).

Um ponto que se tem tornado cada vez mais crítico é a falta de material considerado básico para a actividade normal de uma USF - cujo fornecimento é agora da responsabilidade das Unidades Locais de Saúde.

A reposição deste material ocorreu no próprio dia e sem “atrasos importantes” em apenas 3,4% das USF.

O estudo conclui que estes dados demonstram a falência do sistema de aprovisionamento dos Cuidados de Saúde Primários, que não melhorou com o modelo das ULS.

1,8 milhões de vacinas da gripe e covid-19 administradas

Admitindo alargar às farmácias a vacinação contra a gripe e covid-19 às pessoas com 85 anos ou mais, a ministra disse que “os números destes primeiros 20 dias [da campanha de vacinação] indicam de forma clara um aumento significativo do número de pessoas vacinadas relativamente a 2023 quer na gripe quer na covid-19.

Os [utentes] com mais de 85 anos são um grupo vulnerável. Temos valores elevados, cerca de 42%, mas temos um caminho muito grande. O nosso objectivo era pelo menos chegar ao dobro desta percentagem. Chegar pelo menos aos 80% ou 84%”, adiantou Ana Paula Martins.

Questionada sobre se a possibilidade de alargar às farmácias a vacinação deste grupo de população, que actualmente é vacinado nos centros de saúde, Ana Paula Martins não concretizou datas mas admitiu que poderá vir a acontecer.

“Não há razão nenhuma para que isso não possa acontecer num futuro próximo. Estamos com certeza muito perto de podermos alargar esta campanha aos ‘+85’ [pessoas com 85 anos ou mais] também às nossas farmácias comunitárias”, disse.

Desde o início da campanha foram administradas 1,8 milhões de vacinas da gripe e covid-19, das quais um milhão foi administrado nas farmácias.

Ainda a propósito da vacinação, a ministra da Saúde fez um apelo para a adesão a esta campanha até porque antecipa que “este inverno vai ser difícil” e com a vacinação “está a reduzir-se a mortalidade e as idas à urgência”.

Foi também avançada a informação, mas sem especificar datas, de que o Ministério da Saúde vai assinar “em breve” um protocolo com a Associação Nacional de Freguesias, a Associação Nacional de Farmácias, a Associação de Farmácias de Portugal e a Ordem dos Farmacêuticos para iniciar uma campanha de comunicação sobre literacia em saúde e medidas para o inverno.

Notícia actualizada às 14h50 do dia 18 de Outubro de 2024 com informação sobre a campanha de vacinação