Violência na Assembleia-Geral do FC Porto. Greve de oficiais de justiça adia instrução

Fernando Madureira e Sandra iam ser questionados esta sexta-feira, mas greve adiou início da fase de instrução do processo Operação Pretoriano.

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Fernando Madureira, antigo líder dos Super Dragões Paulo Pimenta/Arquivo
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A greve dos oficiais de justiça adiou o início da instrução do processo Operação Pretoriano. Fernando Madureira ainda foi transportado para o Tribunal de Instrução Criminal do Porto, mas saiu alguns minutos depois, novamente escoltado pelo Grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GISP). Estes profissionais reclamam a valorização da carreira e salários mais dignos, com a greve a decorrer às quartas e sextas durante todo o dia. Nos restantes dias da semana, apenas se verifica durante as tardes.

Esta paralisação já atrasou o processo e pode voltar a fazê-lo, visto que a segunda série de interrogatórios na fase de instrução foi agendada para a próxima sexta-feira, 25 de Outubro. Se a tutela não marcar uma reunião de emergência entretanto com os sindicatos e apresentar propostas concretas, estes profissionais dizem que não vão participar nas diligências.

Neste caso, Fernando Madureira alegou que tinha sido "o bombeiro de serviço" durante a investigação aos incidentes da Assembleia-Geral (AG) do FC Porto, evento marcado por incidentes de violência e insultos entre sócios. Não foi ainda desta vez que o antigo líder dos Super Dragões explicou as mensagens que as autoridades encontraram nos telemóveis apreendidos, algumas das quais mostram uma clara intenção de esmagar a oposição interna a Pinto da Costa.

Há sensivelmente um ano, André Villas-Boas perfilava-se como um potencial concorrente de Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente dos "dragões" há mais de quatro décadas. O agora dirigente dos "dragões" não tinha avançado com uma candidatura oficial, mas já se denotava uma clara divisão entre os apoiantes de Pinto da Costa e os sócios que desejavam uma alternativa. Ambos os grupos tinham visões diferentes sobre a proposta de alteração dos estatutos, votada nessa noite.

O Ministério Público diz que os Super Dragões procuraram garantir a aprovação da revisão estatutária, reforçando assim o domínio de Pinto da Costa sobre o clube. Com recurso a cartões de sócio de outras pessoas, conseguiram dar entrada a membros da claque que, em condições normais, não podiam estar presentes nas AG do clube. Tudo para garantir que existia pelo menos 75% de votos a favor da alteração estatutária, bem como promover um ambiente de intimidação e coacção que dificultasse o levantamento de vozes contrárias à vontade da direcção.

A audição de Fernando Madureira e da mulher marcará o início da fase de instrução da Operação Pretoriano, nove meses após a detenção de Fernando Madureira. O antigo líder dos Super Dragões é o único arguido neste regime, com os restantes a serem libertados ao longo do tempo. Hugo Carneiro ("Polaco") esteve detido durante meio ano, sendo libertado em Julho.

No total, há 12 arguidos e todos respondem pelos mesmos crimes: 19 de coacção agravada; sete de ofensa à integridade física no âmbito de espectáculo desportivo; três de atentado à liberdade de informação; um de instigação pública a um crime e outro de arremesso de objecto. Há ainda um dos arguidos que responde pelo crime de detenção de arma proibida.

No caso de Sandra, algumas das provas mais incriminatórias prendem-se com a entrada de pessoas sem autorização. Na AG, apenas associados com as quotas em dia podiam participar e votar a alteração dos estatutos que motivou a reunião. Através de uma rede de contactos que incluiu funcionários portistas, a mulher do líder da claque conseguiu o acesso a vários cartões de sócio, distribuindo-os na entrada do Estádio do Dragão. Os membros da claque conseguiram aceder à AG com cartões que não lhes pertenciam, sem qualquer resistância da segurança que supervisionava o evento.

Para a próxima sexta-feira, 25 de Outubro, estão já ag2endados os interrogatórios de Carlos Nunes, José Pedro Pereira e Fernando Saul. O último é o antigo speaker do Estádio do Dragão e desempenhava funções como oficial de ligação aos adeptos. Após a noite de violência da AG, o funcionário "azul e branco" não voltaria a exercer funções no clube, sendo afastado em definitivo meses após os eventos.

O FC Porto tornou-se assistente no processo e avançou com um pedido de indemnização no valor de cinco milhões de euros contra os arguidos. O clube diz que os incidentes trouxeram danos reputacionais aos "dragões", alegando perdas de receitas publicitárias, entre outras.

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