Um casal idoso irlandês receia estar a ficar sem tempo para salvar a casa de família face à erosão costeira que tem vindo a aproximar o mar cada vez mais depressa da sua porta de entrada. Willie e Lal Pierce têm fotografias de há cerca de 30 anos, que mostram dois campos a separar a sua tradicional casa de campo de paredes brancas do que era, antigamente, uma praia dourada.
Actualmente, as ondas batem contra as rochas que Willie amontoou a poucos metros do muro do jardim, na costa de Ballyhealy, no sudeste da Irlanda. O município afirma que não pode ajudar a salvar a casa que pertence à família há 200 anos.
Tudo o que Willie consegue fazer é empilhar mais pedras. "Se não o conseguir fazer este ano, a casa vai desaparecer", comenta.
O casal não mora permanentemente naquela casa. No entanto, até há bem pouco tempo, Willie e Lal e os seus familiares usavam a casa onde Willie nasceu para passar férias. A sua esposa, Lal, recorda que, pouco depois de se casarem, costumava ler livros junto às grandes dunas de areia que ficavam ao fundo da casa. Agora, preparam-se para o pior.
A erosão costeira não é um fenómeno recente. Porém, Conor Murphy, professor da Universidade de Maynooth, na Irlanda, conduziu uma investigação em várias zonas perto da costa e registou um aumento notável deste processo nas últimas décadas. "A análise desta situação é complexa, mas é provável que as alterações climáticas estejam a desempenhar um papel, e de várias formas", reflecte.
O trabalho do centro de investigação da universidade demonstra que o nível do mar na zona aumentou 20 centímetros desde o século XIX. A subida do nível da água do mar indica que o aumento da temperatura global aumenta a taxa de erosão costeira em locais como o condado vizinho de Wexford, uma das zonas mais vulneráveis da Irlanda devido à sua costa de sedimentos moles, explica o professor.
"Foi muito rápido. Ficamos muito chocados quando aconteceu", desabafa Lal Pierce, lembrando as mudanças ocorridas na sua casa. "Estamos sempre preocupados com isto", conclui.