Branqueamento de corais continua e é o maior alguma vez registado

Branqueamento causado por stress térmico é cada vez mais grave. Estima-se que pelo menos 14% dos restantes corais do mundo tenham morrido nos dois últimos episódios de branqueamento global.

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As temperaturas recorde das águas do mar estão a agravar o fenómeno. Na imagem, braquamento de corais na Tailândia Napat Wesshasartar / REUTERS
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O branqueamento em massa dos recifes de coral em todo o mundo desde Fevereiro de 2023 até agora é o mais extenso de que há registo, disse a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos EUA à Reuters esta semana.

Um número impressionante de 77% das áreas de recifes de coral do mundo – dos oceanos Atlântico ao Pacífico e Índico – foram até agora sujeitas a stress térmico que levou ao seu branqueamento, de acordo com dados de satélite, à medida que as alterações climáticas alimentam temperaturas oceânicas recordes e recordes de temperatura em todo o mundo.

“Este evento continua a aumentar em termos de extensão espacial e quebrámos o recorde anterior em mais de 11% em cerca de metade do tempo”, afirmou Derek Manzello, coordenador da NOAA Coral Reef Watch. “Isto pode ter sérias ramificações na resposta final destes recifes a estes fenómenos de branqueamento.”

A autoridade de recifes de coral da NOAA declarou este evento de branqueamento global em Abril de 2024, tornando-o o quarto deste tipo desde 1998. O recorde anterior, do branqueamento em massa de 2014 a 2017, afectou pouco menos de 66% da área mundial de recifes.

Desencadeado pelo stress térmico em oceanos quentes, o branqueamento dos corais ocorre quando os corais expulsam as algas coloridas que vivem nos seus tecidos. Sem estas algas úteis, os corais tornam-se pálidos e ficam vulneráveis à fome e a doenças. Um coral branqueado não está morto, mas as temperaturas do oceano têm de baixar para que haja esperança de recuperação.

Estima-se que pelo menos 14% dos restantes corais do mundo tenham morrido nos dois últimos episódios de branqueamento global.

Embora este branqueamento em massa seja já o mais generalizado, afectando recifes em 74 países e territórios, a NOAA ainda não o considera o “pior” de que há registo. Nos próximos meses e anos, os cientistas efectuarão avaliações subaquáticas dos corais mortos para ajudar a avaliar a gravidade dos danos.

“Parece provável que venha a bater o recorde em termos de impacto”, disse Manzello. “Nunca antes tivemos um evento de branqueamento de corais tão grande quanto este.”

Só nas últimas seis semanas, foi confirmada a ocorrência de branqueamento nas águas de Palau, Guam e Israel. O stress térmico também continua elevado nas Caraíbas e no mar da China Meridional.

Em resposta ao recorde de branqueamento, os cientistas convocaram uma sessão especial de emergência sobre os recifes de coral, a realizar na cimeira da Convenção das Nações Unidas sobre a Biodiversidade (COP16), na Colômbia, no final do mês. Os líderes mundiais discutirão estratégias de última hora para evitar a extinção funcional dos corais, incluindo mais protecção e financiamento.

“O encontro reunirá a comunidade financeira global para dizer que ainda estamos no quarto evento de branqueamento, que estes estão a acontecer consecutivamente... O que é que vamos fazer?”, afirmou Emily Darling, que lidera o programa global de conservação dos recifes de coral da Wildlife Conservation Society.

Os cientistas tinham anteriormente projectado que os recifes de coral atingiriam um ponto de ruptura com um aquecimento global de 1,5 graus Celsius, o que implicaria a perda de 90% dos recifes. O último recorde de branqueamento vem juntar-se ao crescento número de provas que indica de que os recifes já ultrapassaram um ponto de não retorno com um aquecimento de apenas 1,3ºC.

Isto teria implicações terríveis para a saúde dos oceanos, a pesca de subsistência e o turismo. Todos os anos, os recifes fornecem cerca de 2,7 mil milhões de dólares em bens e serviços (cerca de 2,4 mil milhões de euros), de acordo com uma estimativa de 2020 da Rede Global de Monitorização dos Recifes de Coral.

O branqueamento em curso foi agravado pelo fenómeno El Niño, um padrão climático natural que pode aquecer temporariamente alguns oceanos, que terminou em Maio.

Alguns meteorologistas prevêem que o mundo possa entrar num padrão climático La Niña nos próximos meses, que normalmente traz temperaturas oceânicas mais frias que os cientistas esperam que possam dar aos corais uma oportunidade de recuperação.

No entanto, existe a preocupação de que, mesmo com um La Niña (que se espera que seja mais fraco ou até possa não acontecer), isso possa não acontecer, uma vez que 2024 está a caminho de ser o ano mais quente de que há registo. Se as temperaturas actuais dos oceanos se tornarem o novo normal, o mundo pode estar a entrar num período “em que estamos mais ou menos num estado de branqueamento global crónico”, disse Manzello.