“A minha presidência não será uma continuação da presidência de Joe Biden”, promete Kamala Harris

Vice-presidente dos EUA defende em entrevista combativa à Fox News a forma como a Administração Biden lidou com a imigração ilegal.

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Kamala Harris num comício na Pensilvânia, na quarta-feira Evelyn Hockstein / REUTERS
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A candidata do Partido Democrata à presidência dos EUA, Kamala Harris, defendeu a forma como a Administração Biden lidou com a imigração ilegal numa combativa entrevista televisiva à Fox News, na quarta-feira à noite, culpando os republicanos por não terem conseguido aprovar um projecto de lei sobre a segurança das fronteiras.

Questionada pelo apresentador Bret Baier, Harris defendeu também a aptidão mental do Presidente Joe Biden, o seu desempenho como vice-presidente e o seu anterior apoio à cirurgia de afirmação do género para reclusos transexuais.

Harris e Baier falaram frequentemente por cima um do outro e Harris ficou visivelmente frustrada, mas transmitiu a sua mensagem para as eleições de 5 de Novembro a um público conservador que não a ouve com frequência.

Foi-lhe pedido que defendesse a decisão inicial da Administração de reverter algumas das políticas restritivas de fronteira do rival republicano Donald Trump quando ele era Presidente e que respondesse a uma mãe que testemunhou no Congresso sobre a morte da sua filha às mãos de um imigrante ilegal.

“Lamento muito a sua perda, mas vamos falar sobre o que está a acontecer agora”, disse Harris. A vice-presidente dos EUA disse que Trump disse aos republicanos no Congresso para rejeitarem um projecto de lei de imigração bipartidário no início deste ano porque “ele preferiu aproveitar-se de um problema em vez de resolver um problema”.

Trump e os republicanos têm afirmado que os imigrantes estão a alimentar o crime violento nos Estados Unidos, embora os estudos mostrem que a percentagem de crimes cometidos pelos imigrantes é menor.

Questionada sobre o seu recente comentário de que “nada” mudaria em relação às acções da Administração Biden, Harris disse: “Deixem-me ser muito clara, a minha presidência não será uma continuação da presidência de Joe Biden.”

A candidata afirmou que traria novas ideias de republicanos e líderes empresariais para resolver a escassez de moradias e apoiar as pequenas empresas.

Harris apoiou Biden quando o Presidente dos EUA enfrentou as questões sobre sua aptidão mental após um debate desastroso, em Junho, com Trump, antes de desistir da corrida, em Julho. Foi-lhe pedido que defendesse essas declarações.

Joe Biden tem o “discernimento” e a “experiência” para ser Presidente, disse a candidata democrata, colocando em causa a aptidão de Trump para o cargo. “Joe Biden não está nos boletins de voto, e Donald Trump está”, acrescentou Harris.

A candidata democrata foi também questionada sobre a sua posição relativamente à utilização de fundos dos contribuintes para a realização de cirurgias de afirmação de género para reclusos transexuais, incluindo imigrantes indocumentados. Trump gastou milhões de dólares em anúncios sobre o assunto nos chamados “swing states”.

“Vou seguir a lei”, disse Harris, observando que o Departamento de Prisões dos EUA forneceu tratamentos de afirmação de género quando Trump era Presidente e acusando-o de “atirar pedras quando vive numa casa de vidro”.

A entrevista de quase 30 minutos marcou a primeira vez que Harris apareceu como candidata presidencial na Fox News, uma estação conservadora habitualmente hostil aos democratas e elogiosa para as políticas de Trump.

Poucos minutos depois do fim da entrevista de Kamala Harris, a campanha de Trump divulgou um comunicado considerando-a um “desastre”.

David Urban, estratega político e ex-assessor de campanha de Trump, disse que Harris teve um desempenho irregular e abaixo da média, evitando responsabilidades e fazendo de Trump o bode expiatório. “Outro ciclo perdedor para a campanha de Harris”, disse Urban.

Os democratas disseram que Harris conseguiu passar por território hostil sem cometer gafes. As repetidas interrupções mantiveram as respostas de Harris curtas, evitando as respostas sinuosas pelas quais foi criticada no passado.

“Sentimos que alcançámos o que nos propusemos alcançar”, disse Brian Fallon, porta-voz de Harris. “Ela conseguiu chegar a uma audiência que, provavelmente, não foi exposta aos argumentos que tem vindo a apresentar no terreno, e também conseguiu mostrar a sua dureza ao enfrentar um entrevistador hostil.”

Cortejar os republicanos

A entrevista foi parte de um apelo directo feito por Harris na quarta-feira aos eleitores do Partido Republicano. Antes da entrevista à Fox News, destacou o apoio dos republicanos à sua campanha num condado crucial da Pensilvânia, um dos poucos estados decisivos que provavelmente determinarão a eleição.

No condado de Bucks, nos arredores de Filadélfia, Harris enfatizou as tentativas de Donald Trump para reverter a sua derrota eleitoral há quatro anos, quando perdeu a Casa Branca para Biden. A candidata democrata disse que as acções de Trump violaram a Constituição dos EUA e que, se lhe fosse dada a oportunidade, voltaria a fazê-lo.

“Ele recusou-se a aceitar a vontade do povo e os resultados de uma eleição livre e justa. Enviou uma multidão, uma multidão armada, para o Capitólio dos Estados Unidos, que agrediu violentamente polícias e agentes da autoridade e ameaçou a vida do seu próprio vice-presidente”, disse Harris.

Mais de 100 republicanos juntaram-se a Harris no condado de Bucks, incluindo Adam Kinzinger, um ex-congressista e membro da comissão que investigou o ataque de 6 de Janeiro de 2021 ao Capitólio por partidários do então Presidente Trump.

“Não importa o vosso partido, não importa em quem votaram da última vez, há um lugar para vocês nesta campanha”, disse Harris.

Harris já tentou anteriormente cortejar os eleitores desiludidos com Trump. A ex-congressista republicana Liz Cheney, filha do ex-vice-presidente Dick Cheney, pediu este mês aos eleitores que colocassem o país acima do partido e votassem em Harris, dizendo que Trump não estava apto para liderar os EUA.

Biden venceu Trump no condado de Bucks por cerca de 17 mil votos na eleição de 2020, enquanto a ex-secretária de Estado Hillary Clinton venceu Trump em 2016 por menos de três mil votos.

Neste Verão, os republicanos ultrapassaram os democratas no número de registos de eleitores em Bucks pela primeira vez numa geração. Os republicanos têm agora cerca de 3500 eleitores a mais no condado do que os democratas, de acordo com os dados mais recentes.