EUA “não podem continuar a fornecer Ucrânia e Israel ao mesmo ritmo”

As duas guerras de aliados dos norte-americanos têm pontos de contacto. Embaixador ucraniano recorda que avisou Israel quanto a drones iranianos.

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EUA têm apoiado Israel com armamento para ofensiva em Gaza REUTERS/Yossi Zelige
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Os Estados Unidos estão a ver um problema no fornecimento de munições para os seus dois aliados, Ucrânia e Israel, que se agudizou com a escalada da guerra no Líbano e dois ataques directos do Irão, aguardando-se a resposta de Israel.

Israel está, segundo várias fontes, com falta de mísseis para intercepção, de que precisa para o caso de uma resposta iraniana a um ataque que se prevê que Israel leve a cabo contra a República Islâmica. Os EUA enviaram um sistema avançado e cerca de cem militares para o operar, o sistema chegou esta semana e deverá estar operacional antes do final do mês.

“A questão das munições de Israel é grave”, disse Dana Stroul, antiga responsável do Departamento da Defesa com responsabilidades para o Médio Oriente, ao diário britânico Financial Times. “Se o Irão responde a um ataque israelita [com um grande ataque aéreo] e o Hezbollah também se juntar, as defesas aéreas de Israel vão ter dificuldades”, declarou.

Stroul acrescentou que o stock dos EUA também não é infindável. “Os EUA não podem continuar a fornecer a Ucrânia e Israel ao mesmo ritmo. Estamos a chegar a um ponto de ruptura.”

O último ataque que pôs em evidência uma falha das defesas israelitas usou drones, que o sistema de defesa aérea tem mais dificuldade em detectar. O ataque levado a cabo pelo Hezbollah no domingo, que matou quatro soldados israelitas numa base militar no centro do país, mostrou ainda que, apesar de duramente atingido por Israel, com grande parte da liderança militar morta, o movimento ainda tem capacidade de atacar – e poderá ainda não ter mostrado sua capacidade total, disse Assaf Orion, general na reserva e chefe de estratégia das Forças Armadas de Israel, também ao FT.

Em relação ao ataque com drones, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, declarou que “o som dos drones ‘shahed’, uma ferramenta de terror, é o mesmo nos céus do Médio Oriente e da Europa”, escreveu Zelensky numa declaração na rede social X.

O embaixador da Ucrânia em Israel, Yevgen Korniychuk, foi mais directo, recordando que disse ao Estado hebraico “eu bem avisei” do perigo do uso dos drones iranianos na Ucrânia, tendo mesmo levado a uma reunião no gabinete do primeiro-ministro de Israel os destroços de um drone iraniano que tinha sido lançado contra Kiev, segundo o site Ynet, do diário de grande circulação Yediot Ahronot.

O embaixador lamentou que Israel não tivesse aceitado ofertas anteriores de cooperação para fazer frente às ameaças destes drones, declarou agora. “Não queria dizer ‘eu bem avisei’, mas eu bem avisei”, cita o Ynet.

Segundo o Times of Israel, a Ucrânia fez uma proposta de cooperação em Fevereiro de 2023, com o chefe de gabinete de Zelensky, Andrii Iermak, a dizer ao diário, meses depois, que “ninguém excepto Israel pode dar equipamento para combater os drones de ataque iranianos”.

O tópico foi discutido em Israel no Outono de 2022, quando foi claro que a Rússia estava a usar armas iranianas na Ucrânia. Na altura, peritos diziam que as armas iranianas usadas na Ucrânia poderão ser, mais tarde, usadas contra Israel num futuro confronto com forças apoiadas pelo Irão na sua fronteira norte. A guerra na Ucrânia dará uma oportunidade para serem testadas em maior escala e aperfeiçoadas.

A hesitação de Israel em condenar mais firmemente a Rússia e cooperar mais com a Ucrânia deve-se ao facto de Moscovo ter forças militares na Síria em apoio ao regime de Bashar al-Assad e ainda de haver uma população judaica substancial na Rússia.

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