Células velhas da pele podem acelerar envelhecimento de outras partes do corpo

Funções cognitivas e memória são afectadas. Descoberta pode abrir portas a investigações que visam atrasar o envelhecimento sistémico.

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Ilustração sobre o envelhecimento das células velhas da pele, que pode acelerar o envelhecimento de outras partes do corpo humano, especialmente o cérebro Rita Felix/CNC/UC
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Duas equipas de investigadores portugueses, uma delas da Universidade de Coimbra, descobriram que as “células velhas” da pele podem acelerar o envelhecimento de outras partes do corpo humano, especialmente o cérebro, ao espalhar sinais de envelhecimento.

A descoberta das equipas do Centro de Neurociências e Biologia Celular e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e do Laboratório de Envelhecimento Celular e Molecular da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, liderado pelo português João Passos, que acolhe investigadores portugueses, abre caminho ao estudo de futuras terapias que possam atrasar o processo de envelhecimento do corpo humano.

“Esta investigação constitui a primeira evidência directa que células senescentes na pele podem acelerar o envelhecimento noutras partes do corpo. Sugere, portanto, que a senescência de células da pele pode contribuir para efeitos generalizados de envelhecimento”, refere a equipa, segundo comunicado da Universidade de Coimbra.

A partir de um estudo em ratinhos jovens dos efeitos das células senescentes — células que se acumulam à medida que os órgãos envelhecem —, os investigadores conseguiram perceber que a presença destas células envelhecidas na pele levou à diminuição da função musculoesquelética, aumentou a fraqueza física e diminuiu a capacidade de memória dos ratinhos.

O estudo observou ainda que o cérebro era afectado, nomeadamente o hipocampo, zona-chave para a memória e a função cognitiva, “frequentemente observadas no envelhecimento, explicou uma das coordenadoras, Cláudia Cavadas, líder do grupo de investigação em neuroendocrinologia e envelhecimento. “Estas reacções indicam que houve uma ligação entre as células envelhecidas na pele e o cérebro”, acrescenta esta investigadora da Universidade de Coimbra.

Segundo o comunicado, os resultados do estudo contribuem para o conhecimento do envelhecimento do organismo, podendo abrir caminho para investigar intervenções inovadoras que visem atrasar o processo de envelhecimento sistémico. “Potencialmente, podem ainda explicar a ligação entre doenças cutâneas e outras doenças associadas ao envelhecimento.”

Os cientistas salientaram que a descoberta de novos dados sobre o envelhecimento do corpo humano é crucial na actualidade, uma vez que o envelhecimento da população é uma preocupação global e um dos maiores factores de risco das principais doenças crónicas, como as doenças neurodegenerativas”.

“A investigação abre caminho a novas possibilidades de investigação sobre o envelhecimento, que podem focar-se, por exemplo, em conhecer melhor as células senescentes na pele e explorar novas estratégias que visem eliminar ou neutralizar aquelas células na pele, com o objectivo de reduzir os seus efeitos sistémicos no envelhecimento do organismo”, referiu o co-coordenador do estudo, João Passos.